Quando Marie nasceu, sua cidade fazia parte do Império Russo, mas ela nunca perdeu o senso de identidade polonesa
Bianchetti/Leemage/picture alliance
Onde nasceu Marie Curie (1867-1934), cientista duas vezes vencedora do Prêmio Nobel conhecida principalmente por suas pesquisas pioneiras sobre a radioatividade?
Se você pensou na França, saiba que não é a única pessoa a cair no erro. Marie adotou o sobrenome de seu marido e parceiro de trabalho francês, Pierre, mas ela nasceu Maria Skłodowska, em Varsóvia, atual capital da Polônia.
É fato que sua história está muito ligada à França, onde há várias ruas, escolas e instituições científicas com seu nome – acompanhado ou não do marido. Ela viveu no país por mais de três décadas, onde sua carreira e pesquisas deslancharam.
Foi a primeira mulher a se tornar professora na Universidade de Paris e, em 1995, 60 anos após sua morte, tornou-se a primeira mulher a ser sepultada por seus próprios méritos no Panteão de Paris – seguida pela política Simone Veil.
Em 1903, quando ganhou seu primeiro Nobel, de física, juntamente com Pierre, ela foi creditada apenas como Marie Curie.
Mas na segunda laureação, em 1911, desta vez na área de química, Pierre já havia morrido, e ela decidiu-se pelo nome composto Marie Skłodowska-Curie, que marcava sua origem polonesa. A assinatura não se tornou popular, gerando uma disputa simbólica entre poloneses e franceses.
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20 euros da discórdia
Nota de 20 euros
Banco Central Europeu
Essa querela ganhou novos contornos recentemente, com uma chamada do Banco Central Europeu (BCE) para a formulação de novos modelos de cédulas do euro.
Sob o tema “Cultura Europeia”, a instituição elencou algumas personalidades que poderão estampar as notas, entre elas Marie Curie – escrito dessa forma –, gerando alvoroço entre os poloneses.
Segundo apurou o site Politico, diplomatas poloneses em Bruxelas alertaram a instituição sobre a imprecisão. O governador do Banco Central da Polônia, Adam Glapiński, também se manifestou, enviando uma carta à presidente do BCE, Christine Lagarde.
Parlamentares europeus poloneses — e alguns não poloneses simpatizantes do feminismo de Marie — também escreveram para protestar, relata o veículo.
No site do BCE, agora a informação está atualizada para “Marie Curie (nascida Skłodowska)”. A instituição abriu um concurso para eleger as melhores propostas e espera concluir esse processo em 2026. Ainda não há previsão para a impressão das novas cédulas.
“Estou muito satisfeito que o BCE tenha atendido às preocupações polonesas e ajustado o design da nova nota de € 20 para refletir a herança polonesa de Marie Skłodowska-Curie”, disse o eurodeputado conservador Janusz Lewandowski ao Politico.
Os poloneses têm uma moeda própria – o zloty – e não usam o euro, mas dão sinais de que não deixarão o assunto esfriar.
Questão polonesa
A física Marie Curie, primeira mulher a ganhar um Nobel
Domínio público
“Por que os poloneses são tão obcecados pelo fato de Marie Skłodowska-Curie ser polonesa?” – provoca a escritora e apresentadora polonesa Karolina Żebrowska em vídeo no seu canal do YouTube.
Ela lembra que a Polônia carrega o trauma de ter sofrido tentativas de ser apagada da história europeia por vizinhos de todos os lados, e foi removida do mapa três vezes nos últimos três séculos.
Żebrowska propõe um olhar sobre a Polônia do tempo de Marie, que nem existia formalmente quando ela nasceu. Sua cidade, Varsóvia, era parte do Império Russo.
Durante mais de um século, ativistas nacionalistas brigaram pela independência do país, o que levou as autoridades russas a impor uma política de repressão e apagamento da cultura polonesa, banindo língua, costumes e história.
Impedida de continuar os estudos, Marie foi para a França em 1891, com 24 anos de idade. Seu país recuperou a soberania só após a Primeira Guerra Mundial, em 1918, com o enfraquecimento dos impérios Alemão (Prússia), Austro-Húngaro e Russo, que partilhavam o domínio do território polonês naquela época.
Mas Marie nunca perdeu seu senso de identidade polonesa, que foi passado por sua mãe clandestinamente. Ela, por sua vez, ensinou o idioma às filhas e as levou para a Polônia algumas vezes. E homenageou seu país dando ao primeiro elemento químico que descobriu o nome de polônio.
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