Mais da metade dos brasileiros (53%) usam redes sociais para se informar sobre doenças e assuntos de saúde, de acordo com uma pesquisa Datafolha. Entre os mais jovens, esse índice chega a 66%.
O Google é o principal canal consultado (38%), mas ficou atrás de quem respondeu “hospital/clínica” (42%) e “médico de confiança ou do postinho” (41%).
Os dados são da pesquisa “Percepção da população brasileira sobre doenças crônicas“, que ouviu 2.007 pessoas com mais de 16 anos entre os dias 2 e 4 de junho. Os resultados foram apresentados nesta quinta-feira (17) na abertura do seminário Limitações das Políticas Públicas para Doenças Crônicas, organizado pela Folha e com patrocínio da farmacêutica Eli Lilly.
Segundo o estudo, oito em cada dez brasileiros (82%) consideram que a obesidade é uma doença, menos do que os que acreditam que o diabetes (97%) e o Alzheimer (96%) são doenças.
Já a miopia —que não é uma doença, mas uma condição visual que causa dificuldade de enxergar de longe— foi classificada como doença por 85% dos respondentes.
Quase todos os entrevistados (96%) estão de acordo que pessoas com obesidade precisam de tratamento que envolve alimentação, exercício físico, tratamento medicamentoso e acompanhamento psicológico.
Mas 45% concordam que pessoas com obesidade não emagrecem porque não têm “força de vontade”. Entre aqueles que acreditam que a obesidade é uma doença, 40% estão de acordo com a afirmação.
Outros 26% concordaram que após perder peso, a pessoa com obesidade pode ser considerada curada e não precisa mais realizar acompanhamento médico.
“Há um alto nível de desinformação em relação à obesidade e ao seu tratamento. Ter obesidade não é só uma questão de força de vontade, de força de destino”, diz Luciana Chong, diretora do Instituto Datafolha.
A pesquisa também revelou que a população está mal informada acerca da doença de Alzheimer.
Mais da metade dos entrevistados (68%) acreditam que a perda de memória é natural do envelhecimento. Outros 43% concordaram que a doença acontece apenas em quem é bem mais velho, com 75 a 80 anos, e 53% acreditam que o Alzheimer afeta só a memória.
A doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa que provoca a diminuição das funções cognitivas. Além do esquecimento, pode gerar problemas como desorientação no espaço e irritabilidade.
Entre 2010 e 2021, 3.104 mortes relacionadas à demência em indivíduos com idade entre 49 e 59 anos foram registradas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
A falta de informação sobre doenças crônicas prejudica o diagnóstico precoce e o tratamento em fases iniciais. David Ricks, CEO da Eli Lilly, chama atenção para o fato de que apenas 20% das doenças neurodegenerativas, incluindo a doença de Alzheimer, são diagnosticadas.
“Este país, como muitos outros, enfrenta uma crise silenciosa: 80% dos casos não são diagnosticados. E pode levar até dois anos desde os primeiros sintomas até que os pacientes comecem a receber cuidados”, afirma.
Como consequência do atraso no diagnóstico, gasta-se mais para tratar doenças crônicas em estágios avançados. Segundo o Ministério da Saúde, houve aumento de 57% no orçamento destinado à atenção especializada entre 2022 e 2024, que passou de R$ 60,1 bilhões para R$ 93,9 bilhões.
“Nosso sistema de saúde é muito voltado para a doença curta, para o processo agudo, e a gente precisa ter capacidade de entender a doença crônica e o envelhecimento da nossa população”, afirma Mozart Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde.
Com a inversão da pirâmide etária (aumento da população idosa e diminuição da população jovem), a tendência é que doenças cardiovasculares, oncológicas e diabéticas se tornem cada vez mais frequentes.
“Sabemos que o aparecimento do câncer é quase seis vezes maior entre as pessoas acima de 60 anos do que abaixo de 60 anos. Até 2030, oncologistas estimam que o câncer deve ser a principal causa de morte por causa do envelhecimento da população”, diz Sales.
As doenças crônicas já respondem pela maior parte das causas de morte entre idosos no país. Para o secretário, é preciso ampliar iniciativas de prevenção contra enfermidades como câncer, Alzheimer e obesidade.
“Nós estamos gastando mais com tratamento contra o câncer de mama, mas as nossas mulheres estão morrendo mais. Os americanos também estão gastando muito mais, mas a cura e mortalidade está caindo, por conta dos aspectos da prevenção e do diagnóstico”.