Uma pesquisa do SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo) que entrevistou 88 hospitais privados do estado de São Paulo aponta que 85% das unidades de saúde enfrentam o aumento das internações por Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) neste mês de junho. No mesmo período do ano passado, esse percentual foi de 47%.
Nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), as internações aumentaram em 64%, contra 49% na pesquisa do ano passado. O cenário é semelhante nos leitos clínicos: 54% das unidades de saúde registram alta nas internações pediátricas, ante 24% no ano anterior. Entre os adultos, 56% relatam crescimento nas internações, comparado a 38% em 2024.
Dos 88 hospitais privados paulistas que responderam à pesquisa, feita entre 6 e 16 de junho, 68% ficam na capital e Grande São Paulo, enquanto 32% estão no interior. Na pesquisa do ano passado (4 a 14 de junho de 2024), 81 hospitais participaram, sendo 75% da capital e Grande São Paulo e 25% do interior.
No pronto-atendimento, 74% dos hospitais registram alta no número de pacientes atendidos em urgência e emergência —no ano passado, o percentual era de 58%. Em ambas as pesquisas, a maior parte dos pacientes atendidos tinha entre 30 e 50 anos.
Para o médico Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, o aumento das internações e dos atendimentos em pronto-socorro está ligado, em grande parte, à baixa adesão à vacinação contra a gripe, que alcança apenas 38% do público-alvo, segundo o Ministério da Saúde.
“Recomendamos cuidado à população para que se proteja em ambientes de aglomeração usando máscaras e que diante de qualquer sintoma gripal, evitem contato direto com outras pessoas para reduzir a contaminação. E o mais importante é que se vacinem contra a Influenza“, alerta.
Balestrin destaca ainda que o aumento dos casos de Srag começou antes do inverno, o que indica que a situação pode piorar. Por isso, reforça a importância de vacinar os grupos mais vulneráveis, especialmente crianças e idosos.
A pesquisa não verificou qual o vírus responsável pelo aumento nas internações de síndrome respiratória. Apesar disso, o Boletim Infrogripe, divulgado semanalmente pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), aponta desde abril para uma alta nos casos de Srag devido ao vírus da influenza A.
Em 2025, o Brasil registrou 93.779 casos de Srag, sendo 24,5% influenza A; 1,1% influenza B; 45,1% VSR (vírus sincicial respiratório); 22,3% rinovírus; e 9,9% Covid-19. O total de casos registrado no país representa um aumento de 91% em relação ao mesmo período de 2024.
Para Max Igor Banks, coordenador do ambulatório de infectologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e infectologista do Hospital Santa Catarina Paulista, o aumento das internações por síndrome respiratória aguda grave entre abril e junho, antes do inverno, não era esperado.
“A influenza A que circulou neste ano foi mais intensa e precoce em comparação com anos anteriores. Uma das causas pode ser a baixa cobertura vacinal e o desequilíbrio na imunidade da população, provocado principalmente pela pandemia de Covid-19, que reduziu drasticamente a circulação de outros vírus, como o da gripe, diminuindo a imunidade coletiva”, explica.
As mortes por Srag causadas pelo vírus influenza aumentaram 127,2% na cidade de São Paulo neste ano. Até o dia 11 de junho, 175 óbitos foram registrados na capital. No mesmo período do ano passado foram contabilizadas 77 mortes.
Banks, que também é membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), alerta que todos com sintomas de doença respiratória deveriam usar máscara de proteção facial para evitar a contaminação, mesmo que ainda não saibam qual é o agente causador. Ele destaca ainda a importância de manter as mãos sempre limpas e buscar diagnóstico para tratamento adequado.
“Pessoas muito vulneráveis, como pacientes transplantados ou com comorbidades cardíacas e pulmonares, são orientadas a usar máscara. O filtro não oferece tanta proteção para evitar a transmissão por via respiratória, exceto se for por gotículas de saliva, mas ajuda a evitar que você leve as mãos à boca e ao nariz, o que reduz o risco de contaminação.”
Pelo SUS (Sistema Único de Saúde), a vacinação contra a gripe é destinada a grupos prioritários, sendo eles: crianças de 6 meses a menores de 6 anos, idosos com 60 anos ou mais, gestantes e puérperas, trabalhadores da saúde, professores das redes públicas e privadas, povos indígenas e quilombolas, pessoas com comorbidades ou deficiência permanente, caminhoneiros e trabalhadores do transporte coletivo, profissionais das Forças Armadas, segurança e salvamento, pessoas em situação de rua, trabalhadores dos Correios e portuários, além da população privada de liberdade e adolescentes em medida socioeducativa.
A pesquisa do SindHosp também verificou quais outras doenças vêm levando às internações. A pneumonia bacteriana ou viral foi citada por 39% das unidades, enquanto 32% apontaram as viroses respiratórias em geral (como Influenza ou Covid). Outros 7% relacionaram as hospitalizações às crises de asma e às exacerbações da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).