Página Inicial Saúde Dia do Diabetes: monitoramento moderno é restrito no país – 26/06/2025 – Equilíbrio e Saúde

Dia do Diabetes: monitoramento moderno é restrito no país – 26/06/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

O acesso ao método mais moderno de monitoramento do diabetes é limitado no Brasil, aponta um estudo publicado na revista Diabetology & Metabolic Syndrome que analisou dados de mais de 12 mil pessoas.

O chamado método flash usa um dispositivo, uma espécie de disco, que é fixado à pele (geralmente no braço) e que, ao ser escaneado com um leitor ou smartphone, permite aferir a quantidade de glicose (açúcar) no sangue.

Essa é uma alternativa ao tradicional método da ponta de dedo, no qual uma gota de sangue, obtida por uma picada, é usada para fazer a medição. Medir a glicose várias vezes por dia é crucial para pessoas com diabetes que dependem do uso de insulina, hormônio que ajuda na redução da glicose. Isso inclui especialmente pessoas com diabetes tipo 1, também conhecido como diabetes juvenil, e algumas pessoas com diabetes tipo 2 —que está mais associado à obesidade, por exemplo.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o Brasil enfrenta um cenário desafiador, com mais de 20 milhões de pessoas com a doença. Desse total, cerca de 600 mil têm diabetes tipo 1 e precisam desse controle mais intenso, assim como quem tem diabetes do tipo Lada (diabetes autoimune latente do adulto).

De acordo com os autores, o novo estudo é o maior no país com os chamados dados de mundo real para investigar o controle do diabetes. Os participantes eram usuários do aplicativo Glic —recentemente comprado pela Afya, gigante do mercado de educação médica—, que tem cerca de 200 mil usuários cadastrados.

A líder do estudo é Karla Espírito Santo, cardiologista especialista em saúde digital da área de pesquisa clínica (Academic Research Organization) do Hospital Albert Einstein. Segundo ela, os achados foram na direção esperada —o método da ponta de dedo é usado pela grande maioria, 86,5% da amostra. Isso pelo fato de ser a alternativa que está disponível gratuitamente no SUS.

“A médio e longo prazo, a falta de controle acarreta complicações importantes, como doenças cardíacas e aumento do risco de infarto e AVC, doença renal e retinopatia diabética, que causa perda de visão. O fundamental é promover a conscientização, a educação do paciente e oferecer ferramentas para que ele consiga um melhor controle”, diz.

“Pacientes com diabetes descontrolado, com hemoglobina glicada estimada acima de 9% ou 10%, certamente terão mais amputações, além de outras comorbidades associadas”, diz Ricardo Moraes, cardiologista e diretor médico da Glic/Afya.

A ideia da plataforma é também apoiar a equipe de saúde no cuidado dos pacientes, que escolhem com quem vão compartilhar seus dados, ele explica. “Não adianta só o paciente furar a ponta do dedo; o que ele faz com essa informação? O paciente com diabetes, principalmente o insulinodependente, tem várias tomadas de decisão ao longo do dia e precisa de educação para a autogestão da doença.”

O flash é oferecido somente por meio da plataforma Libre, da Abbott, e o monitoramento implica custo de cerca de R$ 300 por disco, que dura até 14 dias. O estudo foi patrocinado pela Abbott.

A plataforma é acessada mais frequentemente pelos usuários do flash, com uma média de 50,84 inserções de dados contra 33,48 para os usuários do método da ponta de dedo (no período analisado, entre setembro de 2021 e outubro de 2023), o que indica um maior engajamento com ferramentas digitais de autogestão.

Também costumam ter mais acesso às insulinas mais modernas (de ação ultralonga e ultrarrápida), cuja combinação favorece o controle glicêmico, lembra a pesquisadora do Einstein. Aqui também predomina a questão econômica, já que essas versões da insulina não costumam estar cobertas no SUS. Entre os usuários do flash, 43,5% usam insulina de ação ultralonga e 37,2% usam a ultrarrápida; as porcentagens entre quem faz o monitoramento convencional são, respectivamente, 14,2% e 11%. Isso se traduz em menos injeções diárias do hormônio.

O estudo apresentou limitações importantes. A pesquisa utilizou dados relatados pelos próprios usuários da plataforma Glic ou de seus cuidadores. Isso significa que informações como o diagnóstico do diabetes, os tipos de insulina utilizados e as medições de glicemia não tiveram validação externa. Também não houve análise de resultados laboratoriais importantes, como a hemoglobina glicada (HbA1c), crucial para avaliar o controle glicêmico a longo prazo.

Também há a questão de a amostra analisada não ser representativa de toda a população brasileira com diabetes pelo fato de serem usuários da plataforma Glic, ainda que ela seja gratuita. São pessoas mais jovens, concentradas na região Sudeste e Sul, o que sugere uma predisposição ao uso de tecnologias e, possivelmente, com mais recursos financeiros. Dados sobre renda ou nível de escolaridade não foram coletados.

É justamente nas regiões Norte e Nordeste que se observam mais gargalos no cuidado com a doença, afirma Ana Paula Miranda, educadora em diabetes e coordenadora da equipe de saúde da associação ADJ – Diabetes Brasil. Áreas rurais e periféricas muitas vezes sofrem com escassez de especialistas, rotatividade de profissionais e falta de insumos, conta.

Outro desafio, segundo os especialistas, é garantir o melhor uso possível da tecnologia.

“No nível da saúde pública, são necessários estudos de custo-efetividade que possam viabilizar a disponibilização do monitoramento contínuo para uma parcela maior da população, principalmente para aqueles pacientes insulinodependentes, tanto tipo 1 quanto tipo 2, que mais precisam de um acompanhamento próximo da glicose”, diz Karla Espírito Santo.

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