Um novo medicamento à base de psilocibina, substância extraída de cogumelos, mostra redução significativa nos sintomas de pacientes com depressão resistente a tratamentos convencionais, mas os resultados frustram as expectativas do mercado financeiro.
A empresa Compass Pathways informa que seu remédio reduz sintomas depressivos em 3,6 pontos em uma escala clínica, em comparação com placebo, após seis semanas de tratamento. O ensaio clínico avaliou 258 adultos com depressão que não responderam a pelo menos duas outras terapias, destaca a companhia.
A depressão resistente ao tratamento afeta cerca de 30% dos 21 milhões de adultos americanos diagnosticados com transtorno depressivo maior.
“Ver essa melhora significativa a partir de uma única dose é muito importante para pacientes, cuidadores e para todo o setor”, afirma Steve Levine, diretor de experiência dos pacientes da Compass.
A diretora comercial Lori Engelbert reforça que é notável a manutenção da melhora durante seis semanas após uma única administração. “Não acho que a psiquiatria tenha visto algo assim antes, com um efeito tão duradouro.”
Um comitê independente revisa os dados de segurança do estudo e não identifica aumento relevante em pensamentos suicidas entre os pacientes que receberam a psilocibina, uma preocupação comum com esse tipo de substância.
Este é o primeiro de dois ensaios clínicos avançados que testam o medicamento, que é uma versão sintetizada do princípio ativo dos cogumelos. O segundo estudo, com duas doses, deve ter resultados divulgados no próximo ano. A Compass também investiga o uso da psilocibina para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Nos últimos anos, psicodélicos como cogumelos “mágicos” e MDMA têm sido explorados como tratamentos potenciais para depressão, TEPT, ansiedade e dependências. Entretanto, o campo sofreu um revés após a rejeição do MDMA da Lykos Therapeutics pela agência reguladora dos EUA (Food and Drug Administration, FDA), que alegou falta de dados suficientes para comprovar segurança e eficácia.
Apesar dos resultados promissores na saúde, as ações da Compass Pathways sofreram forte queda. Os recibos de depósito americanos (ADRs, na sigla em inglês) da empresa caem até 45% na manhã de segunda-feira (23) em Nova York, diante da resposta abaixo das expectativas do mercado financeiro.
“O mercado esperava uma redução de cinco pontos na escala de sintomas, e nós sempre dissemos que buscávamos uma diferença de três pontos ou mais”, explica o diretor médico da Compass, Guy Goodwin.
Recentemente, defensores dos psicodélicos depositam esperança em Robert F. Kennedy Jr., atual secretário de Saúde dos EUA. No ano passado, Kennedy declarou ter “a mente aberta para psicodélicos no tratamento” e defende que “as pessoas devem ter liberdade para experimentar essas substâncias alucinógenas para superar distúrbios debilitantes”.
Se aprovado, o medicamento da Compass concorreria com o Spravato, da Johnson & Johnson, derivado da cetamina e que faturou mais de US$ 1 bilhão no ano passado. Outras empresas que desenvolvem psicodélicos incluem GH Research e Atai Life Sciences.