Página Inicial Saúde ‘Tapping’ pode realmente melhorar a saúde mental? – 29/06/2025 – Equilíbrio

‘Tapping’ pode realmente melhorar a saúde mental? – 29/06/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Parece um pouco estranho. Um método de autoajuda chamado “tapping”, que envolve usar as pontas dos dedos para realizar acupressão [pressão em pontos específicos do corpo] enquanto combate emoções negativas com exercícios de respiração e afirmações positivas, provocou reviradas de olhos de alguns profissionais de saúde mental.

“Estou segura no meu carro”, diz uma mulher no TikTok enquanto pratica a técnica, usando um dedo para tocar o topo da cabeça, depois a lateral da sobrancelha e o meio do queixo. “Eu sou meu espaço seguro.”

No vídeo, ela explica que dirigir sozinha é uma luta, mas o “tapping” ajudou a reduzir sua ansiedade e refocar seus pensamentos.

Relatos como esse são fáceis de encontrar nas redes sociais. Nos últimos 15 anos, o “tapping” também apareceu em podcasts de bem-estar, programas de TV e até na lista de best-sellers.

Como resultado, a prática, também conhecida como Técnica de Liberdade Emocional ou E.F.T. (sigla em inglês), atraiu seguidores devotos e se tornou um grande negócio. Mas muitos especialistas permanecem céticos.

DE ONDE VEIO O TAPPING?

O “tapping”, que se enquadra no âmbito da psicologia energética, originou-se de uma técnica chamada Terapia do Campo do Pensamento desenvolvida pelo psicólogo Roger Callahan na década de 1980.

Ele a concebeu enquanto trabalhava com uma paciente que tinha uma fobia severa de água, que Callahan tentou tratar de várias maneiras, incluindo terapia de exposição à beira da piscina.

Um dia, quando a paciente reclamou que apenas olhar para a água lhe dava dor de estômago, Callahan disse-lhe para tocar firmemente sob o olho, uma área que ele sabia estar associada ao “meridiano do estômago” na medicina tradicional chinesa.

De acordo com Callahan, após dois minutos de “tapping”, a paciente declarou que sua dor de estômago havia desaparecido, junto com seu medo da água.

Callahan desenvolveu a Terapia do Campo do Pensamento a partir daí, afirmando que alguns pacientes necessitavam que uma série de pontos de acupressão fossem tocados em uma ordem específica.

A Terapia do Campo do Pensamento foi desacreditada por especialistas em psicologia, em parte porque não há uma maneira de medir meridianos de energia, nem qualquer evidência que prove que eles existem. Mas na década de 1990, Gary Craig, um graduado de Stanford que mais tarde se tornou ministro ordenado, renomeou a técnica, criando uma versão simplificada chamada E.F.T.

Defensores sugerem que o “tapping” não apenas alivia o estresse e a ansiedade, mas também pode melhorar sintomas de depressão, transtorno de estresse pós-traumático, dependência e dor crônica, entre outros males.

Praticantes agora pagam centenas de dólares para fazer cursos de E.F.T. ou buscar uma certificação oficial.

FUNCIONA?

Mesmo que existam mais de 200 estudos que examinam o “tapping” de meridianos, este corpo de trabalho não é tão robusto quanto pode parecer. Pesquisas que afirmam destacar a eficácia do E.F.T. têm sido repletas de conflitos de interesse, amostras pequenas, erros estatísticos e falta de rigor.

Por essas razões, membros proeminentes da Associação Americana de Psicologia disseram que o impulso para popularizar o E.F.T. é baseado em pseudociência.

“Quando você realmente olha para as evidências, elas se desfazem”, diz Cassandra L. Boness, professora assistente de psicologia na Universidade do Novo México e autora principal de um comentário revisado por pares publicado em 2024 que levantou preocupações sobre a qualidade da pesquisa de E.F.T. e questionou a eficácia da técnica.

Mas isso não significa que o E.F.T. seja inútil, disseram os especialistas. Aqueles que experimentam a técnica são instruídos a pensar ou fazer atividades que podem achar assustadoras ou desconfortáveis — uma forma de terapia de exposição, que é uma maneira poderosa de regular emoções. O “tapping” também envolve tirar um momento para explorar os próprios pensamentos, o que os terapeutas dizem que pode ajudar as pessoas a entender seu comportamento.

Em essência, o tapping é “uma mistura de intervenções, algumas das quais, tenho certeza, são bastante eficazes”, diz David F. Tolin, diretor do Centro de Transtornos de Ansiedade do Instituto de Vida em Hartford, Connecticut. Mas não há pesquisas de alta qualidade para mostrar que o “tapping” em si é o ingrediente ativo, acrescentou.

QUAL É O PROBLEMA?

Apesar das evidências pouco convincentes, alguns pacientes e terapeutas insistem que o “tapping” realmente ajuda.

“Não substitui as melhores práticas existentes para tratar TEPT, depressão, vícios ou outras condições graves”, diz David Feinstein, que oferece aulas e certificações em medicina energética, junto com sua esposa. Mas, em sua opinião, pode tornar esses tratamentos mais eficazes.

Melissa Lester, uma psicoterapeuta em Sandy Springs, Geórgia, disse que descobriu que o “tapping” poderia proporcionar benefícios rápidos, incluindo uma mente mais calma e clara. Ela decidiu se certificar na técnica porque queria dar aos seus clientes uma alternativa quando métodos oferecidos por outros terapeutas, como a terapia cognitivo-comportamental, não produziam os resultados desejados.

Fornecer um tratamento alternativo pode de fato ser útil para os pacientes, diz Boness, mas ela questionou se era ético fazê-lo na ausência de evidências científicas rigorosas.

Seu “maior medo”, acrescenta, era que pessoas vulneráveis recorressem ao “tapping” e depois descobrissem que não funciona.

“Não é realmente um tratamento psicológico”, diz ela.

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