Página Inicial Saúde Indústria do tabaco se atualiza para atingir jovens – 30/06/2025 – Equilíbrio e Saúde

Indústria do tabaco se atualiza para atingir jovens – 30/06/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

A indústria do tabaco está usando novas tecnologias de promoção de marketing e redes sociais para alcançar os jovens, o que representa uma ameaça à integridade das políticas públicas de saúde em todo o mundo. A conclusão vem de estudos apresentados durante a conferência internacional de controle do tabaco, que ocorreu em Dublin (Irlanda) na semana passada, com apoio da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Uma pesquisa realizada em 119 países mostra níveis alarmantes de exposição de crianças e adolescentes de 13 a 15 anos ao marketing do tabaco, incluindo os cigarros eletrônicos. Liderada por pesquisadores do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, o trabalho revela que essa exposição infantojuvenil em pontos de venda variou de 8,1% no Uzbequistão a 84,1% no Butão.

Já as representações midiáticas sobre o uso do tabaco mostraram-se ainda mais difundidas, com taxas de exposição de até 91,4% no Egito.

Ofertas de produtos de tabaco gratuitos, uma conhecida porta de entrada para a iniciação e o vício, foram relatadas por até 25,1% dos jovens no Timor-Leste. De acordo com Adriana Dragicevic, especialista em avaliação da fundação do CDC, as descobertas revelaram que um número excessivo de jovens em todo o mundo continua exposto a táticas nocivas de marketing do tabaco e isso implica no risco de se iniciar uma nova geração no uso do tabaco.

Segundo ela, os pesquisadores têm usado dados de sistemas globais de vigilância do tabaco para monitorar essas tendências e promover campanhas de conscientização. “Aumentar o conhecimento é um primeiro passo fundamental para proteger os jovens da influência da indústria do tabaco.”

Em outro estudo, pesquisadores da Vital Strategies, com base em dados do relatório Tobacco Enforcement and Reporting Movement (TERM), revelaram a crescente presença da indústria do tabaco em espaços digitais emergentes, incluindo o metaverso, o advergame e os NFTs.

Analisando dados sobre mais de 41 mil casos documentados de promoção do tabaco na Índia, Indonésia e México em 2023, o estudo destacou como as marcas estão alavancando tecnologias imersivas —como shows virtuais, avatares de marca e vitrines digitais— para promover produtos de tabaco, frequentemente visando o público jovem.

“A indústria do tabaco está tentando de tudo online para alcançar novos usuários, utilizando seus vastos orçamentos de marketing para veicular anúncios em todos os cantos da internet onde as regulamentações são mais fracas”, disse Nandita Murukutla, vice-presidente de insights e avaliação comportamental da Vital Strategies.

Segundo ela, é preocupante que os espaços que eles visam sejam predominantemente ocupados por públicos jovens, incluindo eventos virtuais imersivos, jogos e outras plataformas, além de conteúdo impulsionado por influenciadores que promove o tabaco de maneiras sutis e envolventes.

“À medida que as plataformas digitais se tornam os principais espaços em que os jovens aprendem, socializam e se divertem, precisamos urgentemente de uma ação internacional coordenada para modernizar as salvaguardas e fechar lacunas regulatórias antes que uma nova geração seja exposta a mais danos.”

Para Murukutla e outros especialistas, os resultados dessas análises mostram a necessidade urgente de uma aplicação mais rigorosa da Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco, em particular do artigo 13, que prevê a proibição abrangente da publicidade, promoção e patrocínio do tabaco. De acordo com o novo relatório de tabaco divulgado pela OMS em Dublin, essas proibições baseadas em boas práticas existem em apenas 68 países, que cerca de 25% da população global.

Também há gargalos na regulação dos dispositivos eletrônicos para fumar: 60 países no mundo ainda não possuem nenhuma regulamentação sobre eles.

Uma das estratégias para tentar proteger os jovens da influência da indústria do tabaco tem sido apostar em lideranças jovens para chegar mais perto de crianças e adolescentes. Uma delas é Agamroop Kaur, 20, estudante de ciências cognitivas e saúde global em uma universidade da Califórnia. Ela iniciou campanhas antitabagistas aos 12 anos ainda no ensino básico, quando percebeu colegas fumando no banheiro da escola. De lá para cá, nunca mais parou.

Na conferência antitabaco em Dublin, palestrou em painéis de diversas organizações, incluindo as Nações Unidas, o CDC e a Federação Mundial do Coração. A jovem é hoje uma das embaixadoras de uma campanha global para crianças sem tabaco, com foco especial agora para a epidemia de cigarros eletrônicos.

Outra liderança é Manik Marganamahendra, 28, diretor-executivo do Conselho da Juventude da Indonésia para Desafios Táticos, que recebeu o prêmio Jovem Embaixador Global do Ano de 2025.

Para ele, a melhor maneira de promover a educação sobre o tabaco e seu uso nocivo é alcançar os jovens de uma forma simples e fácil de entender. “Precisamos falar a língua deles para que se sintam mais envolvidos”, disse.

Marganamahendra contou que a sua luta antitabagista teve início ainda na adolescência, quando viu o pai, fumante compulsivo, sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Na faculdade, na Indonésia, liderou protestos estudantis contra legislações que favoreciam a indústria do tabaco. Hoje é diretor-executivo da Indonesia Youth Council for Tactical Challenge.

Lisa, de 22 anos, outra embaixadora, também atuou a favor de uma nova lei que proíbe a venda de produtos de tabaco aromatizados em Los Angeles (EUA). Antes de criar a organização antitabaco (IYTC) que lidera, ela conta que viajou para a China e realizou uma pesquisa com 857 estudantes para retratar a cultura de tabagismo entre adolescentes. A IYTC está atualmente em 60 países. “Há vários desafios, mas precisamos investir nas vozes dos jovens e liderar a luta contra o tabaco”, afirma.

A jornalista viajou a convite da Vital Strategies

Você também pode gostar

Deixe seu Comentário