Página Inicial Música Confirmando grande fase, Terno Rei faz maior show solo da carreira em SP 

Confirmando grande fase, Terno Rei faz maior show solo da carreira em SP 

Publicado pela Redação

Fernando Mendes/Divulgação
O disco “Nenhuma Estrela” chegou em abril de 2025 para consagrar de vez o Terno Rei

Não é nenhum segredo que, após 15 anos, a banda Terno Rei vive sua melhor fase nos dias atuais. Com o lançamento do quinto disco de estúdio, Nenhuma Estrela, no mês de abril, o quarteto paulistano se assentou no patamar dos principais grupos nacionais e brindou o público local com o maior show solo da história no Tokio Marine Hall no último sábado (28). 

A amostra para os fãs da capital já havia sido dada no mês anterior, durante o festival Popload, no Parque do Ibirapuera, ao lado do ex-Skank Samuel Rosa. Mas desta vez, o repertório com uma hora e meia de duração e 25 faixas cobriu todas as músicas do novo álbum e ainda deu espaço para os trabalhos mais antigos do grupo. 

Já não há mais palco grande demais para o Terno Rei. Pouco a pouco, a timidez que parecia ser uma característica típica dos shows da banda dá lugar a quatro integrantes (com direito ao produtor Gustavo Schirmer na banda de apoio) cada vez mais confiantes e donos do próprio espaço, falando com públicos cada vez maiores e mais hipnotizados — seja pelo som transcendental ou pelas letras introspectivas e melancólicas. 

Ao menos na primeira fase da turnê do Nenhuma Estrela, singles como Próxima Parada e Nada Igual são os mais cantados pelo público — embora as outras faixas sejam igualmente bem recebidas, com destaque especial para Acordo, Programação Normal e Coração Partido. A catarse definitiva, porém, ainda vem dos álbuns Violeta (2019) e Gêmeos (2022), com os hits Yoko e Brutal. 

Em comum, todas as músicas trazem o tom que marcou a trajetória dos indies paulistanos até aqui. Com o pano de fundo de uma metrópole cinza e sufocante como São Paulo, o trabalho de Ale Sater (vocal e baixo), Bruno Paschoal (guitarra e teclados), Greg Maya (guitarra e teclados) e Luis Cardoso (bateria) é um respiro de alívio em meio à solidão da vida na cidade e um abraço de conforto à introversão. 

Em entrevista exclusiva à Jovem Pan News, a banda confirma que os shows se tornaram um momento de grande troca com o público. “Temos uma conexão muito grande com os fãs, temos sorte que eles são tão legais. Quando você faz um show e rola essa conexão entre fã e artista, mesmo para quem não está tão dentro, isso inevitavelmente contagia e ressignifica. Acho legal que as pessoas abracem, interpretem e vivam uma letra e tomara que isso continue”, comenta Ale. O vocalista cita Brutal como o principal exemplo, e o comentário de Bruno é inevitável: “As pessoas gostam de música triste. Pelo menos os nossos fãs, sim”, brinca. 

Para o guitarrista Greg Maya, as primeiras datas da nova turnê tem redimensionado a relação ainda mais. “Nunca tinha sentido tanto [a conexão] quanto estou sentindo agora. São as primeiras vezes que o público está escutando, então eles são pegos de surpresa com introduções diferentes, quando eles não sabem o que vai acontecer, mas estão todos gostando.  Quando voltarmos, o trabalho vai estar com uma força maior”, diz, já projetando uma segunda leva da agenda. 

Nada disso é por acaso. Desde 2019, com o lançamento do Violeta, o Terno Rei rapidamente começou a subir na escada do reconhecimento da cena indie e atingir novos públicos com mais facilidade. Não à toa, o nome do grupo virou presença frequente nos principais festivais do país e mesmo do exterior — mas a escalada ainda é longa. Hoje, o quarteto se vê no chamado midstream: underground demais para o mainstream, mas mainstream demais para o underground. 

“Estamos navegando neste meio. Pode ser que a gente volte para o underground, pode ser que a gente suba para o mainstream ou pode ser que a gente fique onde está, que é a melhor opção. Hoje, nós levamos porrada dos dois lados”, analisa Bruno.  

Para quem faz música boa, o céu é o limite. E essa parece ser a percepção do grupo, que tem envelhecido respeitando as próprias origens ao mesmo tempo que explora novos horizontes sonoros com precisão, sem metas a serem batidas. “Agora, estourou no mundo a música da Lola Young, Messy. É uma música [que parece] do The Smiths, é uma música meio do Terno Rei. Há quanto tempo um pós-punk não era número um?”, questiona Ale. 

“Talvez haja um teto, mas acho que vai muito além. Se cair no Tiktok… por exemplo, Yoko, vira e mexe viraliza por lá. Não temos mais esse controle”, destaca Greg. As redes sociais, nestas horas, podem ser um impulso importante, mas longe de ser a prioridade do grupo. “Fazemos música para nós mesmos gostarmos, tem que bater na gente”, finaliza. 

Fato é que as batidas do Terno Rei têm encontrado cada vez mais ouvidos nas plateias ao redor do país. No sábado, das 25 músicas tocadas, 13 foram do Nenhuma Estrela, sete do Violeta, quatro do Gêmeos e uma do Essa Noite Bateu Com Um Sonho. Só o primogênito, Vigília, que comemorou 10 anos em 2024 com dois shows especiais, acabou ficando de fora. E mesmo com o setlist abrangente, o público ainda lamentou as ausências de faixas como Olha Só ou o cover de Lilás, de Djavan. 

Somando experiências

Nenhuma Estrela chegou em abril de 2025 para consagrar de vez o Terno Rei e buscar o status de melhor disco da banda. Se esse título irá se confirmar, é uma tarefa para o tempo responder. Mas o reconhecimento como trabalho mais bem produzido já foi definido pelos integrantes há muito tempo.  

“Fizemos tudo certinho, com calma. Chegamos na sonoridade de cada música como queríamos, foi tudo feito com o maior cuidado”, exalta Bruno Paschoal. Neste processo, o ensaio foi a grande faísca para o surgimento da maioria das músicas, que contaram com a produção de Gustavo Schirmer — que já havia sido o responsável pelo disco Gêmeos — e a mixagem do francês Nicolas Vernhes, nova adição conhecida pela contribuição com os americanos do The War on Drugs. 

Com tempo suficiente de estrada para fazer, aprender e até mesmo refazer, a bagagem trazida pelos quatro membros da criação dos quatro álbuns anteriores se misturou para dar origem ao novo trabalho. A chave, na visão da banda, é a maturidade. “O Nenhuma Estrela tem coisas novas, mas ele volta para lugares… com a produção e arranjos mais fortes”, explica Greg. 

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Em setembro de 2024, o Terno Rei comemorou 10 anos do disco de estreia Vigília. A data foi marcada por dois shows lotados no Sesc Vila Mariana e, além da festa, permitiu uma releitura da trajetória da banda. “Essa experiência de tocar o Vigília ao vivo foi muito boa porque eu dei mais valor para ele”, comenta Ale. “Rolou uma impressão de que havia uma certa ingenuidade [na gravação] que, cantando e tocando, eu percebi que era só mudar uma palavra ou uma nota para que saísse uma música melhor, mas perderia essa espontaneidade”, completa. 

Agora, das 13 músicas do Nenhuma Estrela, uma se destaca aos olhos de quem não conhece tão bem a banda. A faixa Relógio conta com a participação especial de Lô Borges, no primeiro feat feito pelo Terno Rei até hoje. “A música já estava pronta. Não ia ter feat, nós já tínhamos desistido. Mas nosso empresário conhecia o empresário dele e ele respondeu de última hora. Ficou muito com o mood dele”, relata Bruno. Uma versão ao vivo, gravada no Sonastério, deve ser lançada nas próximas semanas. 

No fim das contas, Nenhuma Estrela é feito para chorar, mas também para dançar. “As pessoas são assim. O disco reflete uma personalidade conjunta nossa. Uma pessoa chora, dorme, sorri… tudo em uma semana, e o disco mostra isso”, diz Ale. “A gente tenta fazer a transição ser não tão árdua entre um momento e outro, mas o contraste, às vezes, é necessário”, acrescenta Paschoal, que celebra a “mágica” em agregar a personalidade dos quatro integrantes nas músicas. 

 A próxima parada do Terno Rei em São Paulo é no Coala Festival, em 6 de setembro. A turnê pelo Brasil segue com passagens por todas as regiões até o fim do ano, além de um show no festival Paredes de Coura, em Portugal, em agosto.  

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