Virar a noite na balada já não combina mais com a rotina da coordenadora comercial Sara Holanda, 30, que acorda às 4h30 para treinar todos os dias. A busca por um estilo de vida mais saudável deixou a cearense curiosa para conhecer uma “coffee party” quando esteve em São Paulo no último mês.
Festas diurnas com DJs em cafeterias têm atraído um público interessado em eventos sem consumo de álcool. “A gente chega aos 30 [anos] e não aguenta mais ficar em pé a noite toda. Prefiro esses rolês mais tranquilos, com música que a gente gosta, mas que começam e terminam cedo”, afirma Sara.
Ao menos seis estabelecimentos de São Paulo já promoveram eventos do tipo desde o início do ano, e outras festas têm sido organizadas em cidades como Rio de Janeiro, Curitiba e Blumenau (SC). Na capital paulista, a Mimosa Café, que fica em Pinheiros (zona oeste), promove uma coffee party a partir das 10h deste sábado (5).
No final de junho, uma festa em Higienópolis, na região central, reuniu cerca de 50 pessoas antes das 11h, muitas das quais tinham acabado de participar de uma corrida.
A fisioterapeuta Amanda Matos, 28, foi uma das que decidiu emendar o treino com a festa matinal. Ela afirma que diversos aspectos da vida mudaram depois que começou a correr, há seis meses. “Eu acho que o estilo de vida mudou e tem todo um pacote: agora a gente dorme melhor, come melhor e se exercita mais.”
Frequentando grupos de corrida, Amanda conta que se tornou amiga da engenheira Idaiana Moura, 32, com quem foi a uma coffee party pela primeira vez. “Apesar de eu ser bem tímida, a gente consegue conhecer gente nova. O pessoal é bem simpático e aberto para conversar”, diz Idaiana.
O cardápio costuma ser o mesmo dos outros dias, com cafés especiais, bebidas à base de leite e matchá. Para comer, salgados, pão de queijo, cookies e bolos.
“Esse público tem um perfil mais saúde. Muitos que não querem ir a festas noturnas, beber e tal”, diz Rosana Santana, proprietária do 1851 Laundry Coffee, onde ocorreu a festa em junho. No espaço, que abriga também uma lavanderia, enquanto alguns dançavam, ainda tímidos, outros chegavam para lavar roupa.
Esse tipo de evento faz parte de um movimento maior de festas diurnas, que ganhou força a partir de 2024. De acordo com Pedro Bello, pesquisador da Coolinary Food Studio, consultoria de tendências de alimentação, a moda já era observada fora do país, principalmente na Europa, com festas em lugares como padarias e museus.
“[Participar dessas festas] é algo que comunica sua personalidade, assim como a sua forma de vestir, os lugares que você frequenta e o que você está consumindo”, diz Bello.
No contexto brasileiro, as cafeterias têm acolhido a proposta, oferecendo uma experiência que não gira em torno do álcool, mas do café. “É uma oportunidade de promover produtores de cafés locais, comidas locais”, acrescenta o pesquisador.
Pesquisa Datafolha realizada em abril mostrou que, num balanço do último ano, mais da metade (53%) dos entrevistados que ingeriram bebida alcoólica disseram que o consumo diminuiu, enquanto 12% observaram aumento do consumo e 35% avaliaram que não houve mudança.
O analista de dados Lucas Paes, 24, diz que frequenta festas de música eletrônica desde os 16 anos, mas decidiu mudar o ritmo após muitas madrugadas em claro seguidas de dias improdutivos. Hoje, é adepto das festas matinais. “A gente acorda cedo, corre, toma um café, dança e não deu nem meio-dia ainda.”
Ele conta que costuma acompanhar os amigos, o empreendedor e DJ Leonardo Paludo, 21, e o produtor musical Igor Nathan Aurino, 22, em programas que combinam atividade física e diversão. “A galera vem muito pelo hype, e a música tem uma força nisso”, diz Igor.