Um pai poderia ser perdoado por pensar que os adolescentes são primitivos. Eles falam em monossílabos (“comida!”), quando falam. Sua cognição pode ser descrita como fraca (“onde estão meus sapatos?! Ah, estão nos meus pés”). Como grupo, parecem não apenas humanos ainda não maduros, mas humanos ainda não totalmente desenvolvidos —talvez Homo habilis, no máximo neandertais.
Um século atrás, quando a psicologia adolescente surgiu como campo de estudo, esse era exatamente o pensamento: os adolescentes literalmente não evoluíram completamente; são pré-humanos.
O principal defensor dessa ideia era G. Stanley Hall, psicólogo e educador da Clark University que, em 1878, recebeu de Harvard o primeiro doutorado em psicologia concedido nos Estados Unidos. Durante séculos, até a era industrial, os jovens passavam diretamente da infância para o trabalho e a reprodução. A economia não permitia espaço para adolescentes semiprodutivos, muito menos para algo como uma cultura adolescente.
Hall, nascido em Massachusetts em 1844, cresceu em meio a grandes mudanças sociais e demográficas. Com avanços na medicina, saneamento e condições de vida, a expectativa de vida do americano médio aumentava —de cerca de 40 anos em 1800 para quase 50 anos em 1900.
Os progressistas buscavam combater os males da industrialização e defendiam a educação primária obrigatória; aos poucos, mais famílias da classe trabalhadora optavam pelo ensino médio, pois mais estudo poderia levar a melhores salários.
Essas forças combinadas criaram um novo período entre a infância e a idade adulta. Hall foi um dos primeiros estudiosos a tentar nomeá-lo e explicá-lo. “Até Hall, havia uma noção geral e amorfa de que existia esse período de vida diferente”, diz Laurence Steinberg, psicólogo da Temple University e especialista em adolescência. “O que Hall fez foi conectar os pontos. Ele foi o primeiro a juntar tudo. Teve algumas ideias absurdas e outras brilhantes.”
Hoje, entendemos a adolescência como uma fase de intenso desenvolvimento cognitivo e social. Os jovens trabalham intensamente para integrar o conhecido (o que aprendem com os pais, gerações anteriores e salas de aula) e o desconhecido —ou seja, o que descobrem ao experimentar no mundo e abrir novos caminhos. Esse processo de transição gera conflitos, externo e interno, à medida que os adolescentes tentam seguir regras aprendidas enquanto se adaptam à mudança, tudo com um cérebro programado para buscar recompensa.
Quando Hall olhou ao redor e para a ciência existente, ficou perturbado. Ele observou o aumento das taxas de criminalidade entre adolescentes: em 1890, havia 58 reformatórios juvenis nos Estados Unidos, geralmente abrigando pessoas de 5 a 25 anos, com idade média de 14,23. Com menos evidências, ele associou o tédio que os adolescentes às vezes exibiam a uma tendência a se tornarem vagabundos e andarilhos. Descreveu vários estudos das duas décadas anteriores, incluindo um que sugeria uma relação entre puberdade e distúrbios nervosos.
Suas observações e preocupações surgiram em um contexto de imigração em massa para os EUA. Distinções eram feitas entre americanos “civilizados” e recém-chegados menos civilizados. As cidades estavam explodindo e, na visão de Hall, cheias de tentação e vício. Para ele, os adolescentes eram um elemento central em uma sociedade confusa que poderia progredir ou regredir.
“Cada passo do caminho está repleto de destroços do corpo, da mente e da moral”, escreveu ele em sua obra seminal de 1904, “Adolescência: sua Psicologia e sua Relação com a Fisiologia, Antropologia, Sociologia, Sexo, Crime, Religião e Educação”. “Há não apenas estagnação, mas perversão em cada estágio, e vandalismo, criminalidade juvenil e vício secreto” (por “vício secreto”, Hall referia-se à masturbação).
Mas por que esse período da vida existiria? A explicação de Hall para esses comportamentos era direta e alinhada com o pensamento científico da época: os adolescentes estavam revivendo um estágio primitivo da evolução humana.
No final dos anos 1800, com o aprimoramento dos microscópios e o advento da teoria da evolução de Charles Darwin por seleção natural, os biólogos começaram a examinar mais de perto como os embriões de diferentes espécies se desenvolviam ao longo do tempo. Aparentemente, os embriões de espécies mais “avançadas”, notadamente humanos, assemelhavam-se, em vários estágios, aos embriões de espécies “primitivas” ou ancestrais —peixes, salamandras, porcos, coelhos. Era como se o crescimento desenvolvimental (ontogenia) de um organismo manifestasse a história evolutiva (filogenia) da espécie. A ideia ficou conhecida como teoria da recapitulação e foi resumida por Ernst Haeckel, embriologista alemão, em uma frase desajeitada: “a ontogenia recapitula a filogenia”.
Ao seu redor, Hall via evidências de que um padrão semelhante ocorria à medida que os humanos cresciam até a idade adulta, aparentemente recapitulando a evolução dos macacos para o Homo sapiens. Crianças muito pequenas eram compreensivelmente simples e egoístas. “Os bebês são indefesos porque foi assim que a espécie começou”, diz Steinberg, resumindo a perspectiva de Hall.
Depois vinha o adolescente, que Hall descreveu como “neo-atávico” e “sugestivo de algum período antigo de tempestade e estresse”. Não era totalmente culpa deles: assim como hoje culpamos os smartphones, Hall culpava o apelo do ambiente urbano. “Nunca a juventude foi exposta a tantos perigos de perversão e estagnação como em nossa terra e nosso tempo”, escreveu ele em 1904.
Por isso, Hall acreditava que as crianças pequenas deveriam ser rigorosamente educadas, antes que os inevitáveis anos caóticos da adolescência chegassem.
“Nunca mais haverá tanta suscetibilidade ao treinamento e à disciplina, tanta plasticidade para a habituação ou tanta facilidade de adaptação a novas condições”, escreveu. “É a idade do treinamento externo e mecânico. Leitura, escrita, desenho, ensino musical, línguas estrangeiras e sua pronúncia, manipulação de números e elementos geométricos e muitos tipos de habilidade têm sua hora de ouro.”
Para navegar com segurança pela adolescência, ele acrescentou, era vital que os adolescentes permanecessem em um ambiente estruturado, como um ensino médio rigoroso, para completar sua evolução literal para a idade adulta. “Estamos conquistando a natureza”, escreveu. “A adolescência é um novo nascimento, pois os traços mais elevados e completamente humanos nascem agora.”
Hall também lançou as bases para ideias importantes que permanecem, como a plasticidade da mente adolescente. Ele até mencionou o valor de técnicas de respiração para acalmar a ansiedade, uma ideia que só agora está na moda.
Mas a ideia de que a adolescência marcava um estágio primitivo da humanidade não durou muito nos estudos acadêmicos. Outros pesquisadores logo assumiram —Anna Freud, Erik Erikson e outros que passaram a ver os adolescentes como indivíduos lidando com conflitos.
Mais recentemente, os estudos uniram as observações comportamentais desses pioneiros com evidências mais empíricas da neurociência, biologia e outros campos. O que surgiu é a compreensão de que os adolescentes habitam um período de intensa sensibilidade ao mundo ao seu redor. O que parece comportamento grosseiro para os adultos pode, na verdade, representar o ato de testar a sabedoria convencional. Da mesma forma, ansiedade e depressão podem indicar uma espécie de sobrecarga de informações —o sistema de processamento do adolescente é bloqueado e frustrado pelo influxo de ideias, muitas entregues por dispositivos eletrônicos, em um mundo em rápida mudança.
Os adolescentes não são atrasados: estão lutando para olhar para frente e nos moldam tanto quanto nós os moldamos. Neandertais? Só no odor ocasional. Mas não hesite em pedir que usem um garfo, terminem a lição de casa e larguem o smartphone tempo suficiente para tomar banho.
Este texto foi publicado originalmente no The New York Times.