Página Inicial Saúde Suplementos em goma são mais marketing que funcionais – 08/07/2025 – Equilíbrio

Suplementos em goma são mais marketing que funcionais – 08/07/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Suplementos alimentares em goma, como creatina, vitaminas, melatonina e proteína, ganharam a internet nos últimos meses, apesar da apresentação não ser novidade. Com aparência e gosto de balas, prometem te dar mais energia, melhorar seu sono e fazer cabelos e unhas crescerem. Mas, apesar do apelo estético e formato atrativo, não trazem benefício superior às demais apresentações, e podem até apresentar riscos se consumidos sem orientação médica.

Os “gummies”, como são chamados esses suplementos, se tornaram um fenômeno nas redes sociais com a divulgação de influenciadores e atraem o público jovem. De acordo com o Grand View Research, que fornece estudos de pesquisa de mercado, em 2024, o comércio global de suplementos em goma já chega a US$ 20,9 bilhões (R$ 113 bilhões), com projeção de dobrar até 2030, sendo um dos principais fatores do crescimento a alta dos suplementos em gomas.

A bióloga e influenciadora digital Mari Krüger, que produz conteúdo de divulgação científica, relata que tem visto pessoas buscando esses produtos como uma forma de comer doces “sem culpa”, já que muitas têm açúcar ou adoçante e saborizantes. “Tem muito apelo do marketing de fazer uma coisa com menos cara de remédio, fica mais atrativo, fica mais descolado mostrar que tá comendo a gominha.”

Mas, afinal, os suplementos em gummies são melhores do que aqueles em pó ou cápsulas? Especialistas dizem que, do ponto de vista da eficácia, não há nenhuma diferença. “Desde que esses suplementos em goma tragam uma quantidade adequada da substância ativa e que ela seja adequadamente biodisponível”, afirma Bruno Gualano, professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da Folha.

Para saber se esses requisitos são atendidos, no entanto, é necessário avaliar produto por produto, nutriente por nutriente. A biodisponibilidade de um nutriente ou alimento é a facilidade que ele é absorvido pelo organismo.

“Ao escolher a forma farmacêutica goma, deve-se considerar as características físico-química dos ativos a serem incorporados como: solubilidade [capacidade de uma substância se dissolver em outra], higroscopicidade [capacidade de absorver umidade do ar] e a estabilidade frente a temperatura de preparo da goma”, explica a farmacêutica bioquímica e industrial Maria Aparecida Mariosa, que diz que esses fatores podem interferir na biodisponibilidade do nutriente.

Gualano afirma que existem vários fatores digestivos que podem influenciar a biodisponibilidade, além da matriz da goma e a forma que ela for produzida. “É a mesma coisa você pegar um pó de whey e misturar com leite, ou misturar com água, ou misturar com suco. Isso altera a biodisponibilidade.”

Alguns estudos fazem a comparação da biodisponibilidade nas gomas e em outras apresentações. Uma pesquisa publicada na revista Nutrients avaliou esse quesito para o nutriente vitamina D e constatou que as gomas podem ser ainda mais biodisponíveis do que os tabletes efervescentes.

Outra vitamina estudada para esse propósito foi a C em uma publicação do periódico Journal of the American College of Nutrition. De acordo com o estudo, a vitamina C em goma tem a mesma absorção e biodisponibilidade que o formato cápsula.

O coordenador do laboratório de genômica nutricional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dennys Esper Cintra, afirma que é necessário ter mais pesquisas de cada nutriente na forma de goma, para saber de fato o quão eficazes são.

Outro ponto levantado pelo pesquisador é que os gummies costumam ter adição de corantes, aromatizantes e adoçantes, o que não impacta na qualidade do produto, mas pode afetar a saúde das pessoas a longo prazo.

“De acordo com as regras da nutrição, recomenda-se evitar o uso de produtos que têm qualquer tipo de corante. Alguns a gente não consegue evitar, como medicamentos“, diz Cintra. “Agora, no caso das gominhas, do ponto de vista técnico, a gente deve evitar.”

Em casos de necessidade da suplementação, por deficiência nutricional, por exemplos, os gummies podem ser úteis para pessoas que por algum motivo têm dificuldade de deglutição, principalmente idosos e crianças, diz a nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (AbranBRAN).

Porém, com a venda livre nas prateleiras das farmácias e nos e-commerces, esses não são os únicos públicos atingidos. Cintra critica que o objetivo do mercado é criar uma atratividade para o público jovem, no sentido recreativo, como se fosse uma bala, o que pode trazer prejuízos para a saúde, principalmente consumidos acima do recomendado de forma habitual.

Garcez lembra que o uso indiscriminado, sem orientação médica ou indicação, pode levar à superdosagem, causando efeitos adversos e mascarando deficiências reais. “A melatonina, por exemplo, em excesso pode desregular o ritmo circadiano, e a biotina pode interferir em exames laboratoriais, gerando resultados falsos, principalmente hormonais e cardíacos, como troponina.”

A médica destaca que a apresentação lúdica dos gummies pode indicar que são inofensivas, e o marketing pode induzir a crença de que são necessárias para todos. “Isso banaliza a suplementação e pode gerar uso desnecessário em pessoas sem carência nutricional”, complementa.

Krüger, que acompanha de perto o universo da influência digital na saúde, conta que vê diariamente adolescentes serem influenciados a usar os suplementos, sem saberem ao certo para quê serve ou se têm indicação para tomar.

Recentemente, a Anvisa proibiu o medicamento Metbalatadalafila em gummy—, por não ter sido regularizado e a empresa responsável não ter autorização para fabricar medicamento. O remédio é popular entre jovens.

“E que esse suplemento em goma também tem culpa nisso, porque as pessoas têm vontade de consumir como se fosse um docinho, mas na verdade é um suplemento. Inclusive, em vídeos de propaganda, é comum ouvir que dá vontade de comer várias gomas, pelo gosto, o que pode levar à sobredose.

A influenciadora expressa a preocupação por pessoas que adiam a investigação de diagnósticos reais pela promessa de que o suplemento resolve os problemas. “Quando a pessoa tem um problema de saúde e ela busca uma gominha para tentar tapar esse buraco, ela está perdendo tempo e dinheiro que ela poderia ter investido para buscar um diagnóstico, um tratamento correto”, disse.

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