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Soltar pum é algo normal. Os gases intestinais são parte do processo de digestão, então, se você se alimenta, está sujeito a eles.
Mas será que os gases podem dizer algo sobre sua saúde intestinal? A frequência ou o cheiro são sinais de alerta? Vamos entender melhor o papel deles na digestão e no metabolismo.
Por que temos gases? São duas as principais causas: a fermentação de alimentos no intestino e a ingestão de ar pela boca, de acordo com Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora médica da Atma Soma.
Entenda: quando alimentos —especialmente carboidratos— não são completamente digeridos no intestino delgado, eles chegam no intestino grosso e são fermentados pelas bactérias da microbiota, produzindo nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono, hidrogênio e metano.
- “Esse processo é completamente normal, mas pode gerar sintomas como distensão abdominal, flatulência ou eructações [arrotos]”, diz a médica.
Engolir ar faz com que gases se acumulem no sistema digestivo, complementa Karoline Soares Garcia, gastroenterologista e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).
- “Isso acontece ao longo do dia. Engolimos ar na hora de comer, ao mascar chiclete, roncar, respirar pela boca”, exemplifica.
Por que algumas pessoas têm mais gases do que outras? São diferentes motivos, e os principais estão relacionados às explicações acima.
Alimentação: uma dieta com alimentos ricos em fibras, carboidratos fermentáveis (vamos detalhá-los abaixo) e adoçantes artificiais pode aumentar a fermentação intestinal, explica Rascovski. Pessoas que ingerem esses alimentos em maior quantidade, portanto, podem ter mais gases.
↳ De forma geral, carboidratos são fermentáveis, mas há um grupo específico que fermenta mais. Eles são chamados de FODMAPs (sigla em inglês para Oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis Fermentáveis). A endocrinologista lista exemplos:
- Frutanos (presentes no trigo, alho, cebola)
- Lactose (leite e derivados)
- Frutose (encontrada em frutas como maçã, pera, manga)
- Galactanos (feijão, lentilha, grão-de-bico)
- Polióis (adoçantes como sorbitol e xilitol)
“Esses alimentos são totalmente saudáveis para a maioria das pessoas, mas em quem tem maior sensibilidade intestinal podem causar gases, distensão abdominal e desconforto”, afirma.
Hábitos à mesa: a forma como você come pode levar mais gases ao trato digestivo. Falar durante uma refeição ou ingerir os alimentos muito rápido favorece a deglutição de ar e os gases.
Respiradores orais: pessoas com obstrução crônica de nariz acabam respirando pela boca, o que faz com que engulam mais ar, segundo Garcia. É o caso de quem tem rinite, sinusite, apneia do sono, entre outras condições.
Uso de medicamentos: alguns remédios podem reduzir o ritmo do intestino, favorecendo a retenção de gases, diz Rascovski. Certos antidepressivos, analgésicos opióides, antiespasmódicos e até anti-histamínicos estão na lista.
↳ O uso de antibióticos pode alterar a microbiota e trazer sintomas intestinais. “Os efeitos variam de pessoa para pessoa, mas é bom observar como o organismo reage”, explica a endocrinologista.
Problemas gastrointestinais: gases são o principal sintoma de intolerâncias alimentares, de acordo com Garcia. Eles também podem aparecer em pessoas com síndrome do intestino irritável, obstrução intestinal, doença celíaca e de disbiose, que é o desequilíbrio da microbiota intestinal.
O que é normal? A frequência de eliminação de gases varia de pessoa para pessoa, mas a média é de 10 a 20 por dia, de acordo com Durval Ribas Filho, nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Se sua média é mais alta, não precisa se desesperar. “Em geral, soltar gases não é preocupante”, explica o médico. Segundo ele, porém, “dores, distensão abdominal e odor muito forte” podem ser sinais de problemas.
Falando no cheiro… Por que alguns cheiram mal? O odor desagradável vem de gases sulfurosos, ou seja, com alto teor de enxofre. Alguns alimentos contribuem para o cheiro ruim, segundo o nutrólogo:
- Ovos, carne vermelha e queijos envelhecidos (ricos em aminoácidos sulfurados);
- Feijão, lentilha e outras leguminosas (combinados à proteína animal, podem tornar o cheiro mais intenso);
- Repolho, brócolis, couve-flor e alho (vegetais crucíferos ricos em enxofre).
O mau cheiro também pode ser resultado do desequilíbrio da microbiota ou de outras condições, como supercrescimento de bactérias ou intolerâncias alimentares, complementa Garcia.
Segurar faz mal? A ciência não aponta riscos graves, mas há evidências de possíveis consequências incômodas como inchaço e dor abdominal, reabsorção parcial do gás e aumento do refluxo ou arrotos, explica Ribas Filho. Ou seja, não é perigoso, mas pode trazer desconforto.
Como controlar os gases? Veja dicas dos três especialistas:
Deixe o feijão de molho
Colocar leguminosas na água antes de cozinhá-las ajuda a eliminar parte dos oligossacarídeos responsáveis pela fermentação. O ideal é deixar de molho de 8 a 12 horas (se der, troque a água pelo menos uma vez nesse período).
Cozinhe bem os legumes
Saladas cruas são mais difíceis de serem digeridas por algumas pessoas, enquanto legumes cozidos costumam ser melhor tolerados.
Evite comer muitos alimentos que fermentam de uma só vez
O equilíbrio na alimentação é essencial. Sabe que vai comer uma feijoada, ou seja, muito feijão? Evite exagerar na sobremesa —assim, você não soma mais carboidratos para serem fermentados no intestino.
Controle a ingestão de ar
Mascar chiclete e consumir bebidas gaseificadas podem piorar a situação, então, em caso de incômodo, tente evitar essas práticas. Na hora da refeição, coma devagar e mastigue bem os alimentos.
Teste sua tolerância individual
Não é porque seu colega tem intolerância à lactose que você deve cortar o alimento da dieta. “O que causa desconforto em uma pessoa pode ser bem tolerado por outra”, diz Rascovski.
Evite restrições desnecessárias. Buscar acompanhamento nutricional ajuda a não excluir alimentos de forma indevida. “Isso pode aumentar risco de desnutrição e, inclusive, de transtornos psicológicos. Comer é um ato social, então isso pode atrapalhar a convivência”, relata Garcia.
Ir atrás de um médico e/ou nutricionista é importante no caso de intolerâncias e outros sintomas que podem acompanhar os gases, como dores, distensões abdominais, ruídos intestinais aumentados e alterações no hábito do intestino.
“O ideal para controlar os gases é entender as causas e ajustar hábitos”, defende a endocrinologista.
O que você precisa saber
Notícias sobre saúde e bem-estar
Combate natural à malária. A bilirrubina, pigmento amarelado normalmente visto como sinal de distúrbio no fígado, pode ajudar a controlar a doença. Um estudo publicado na revista Science mostrou que a substância provoca a morte do parasita e impede a evolução da malária para casos graves.
Implanon no SUS. O Ministério da Saúde anunciou que o implante hormonal contraceptivo será oferecido no SUS ainda neste ano. O dispositivo subcutâneo age por até três anos no organismo e é considerado altamente eficaz.
Cogumelos proibidos. A Anvisa proibiu a venda de extratos de cogumelo da empresa Mush Mush Club, divulgados como “superalimentos que podem ajudar no bem-estar físico e mental”. Eles eram comercializados como medicamentos, mas não possuem regularização sanitária.