Página Inicial Saúde Doença do olho seco pode comprometer qualidade de vida – 10/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Doença do olho seco pode comprometer qualidade de vida – 10/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

A síndrome do olho seco, doença oftalmológica cada vez mais comum, mas frequentemente ignorada, atinge de 5% a 50% das pessoas globalmente, dependendo dos critérios aplicados, segundo dados da TFOS (Tear Film Ocular Surface Society), que pesquisa o filme lacrimal. Os dados mais recentes da entidade, divulgados em junho, apontam que as taxas variam de 2,7% em jovens a 30,1% em mulheres com mais de 80 anos.

No Brasil, um estudo publicado em 2018 por pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) relatou uma prevalência geral de 12,8% em indivíduos com mais de 40 anos. Outro levantamento realizado em 2022 pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) indicou que, só na cidade de São Paulo, o índice é de 24,4% em homens e mulheres acima de 18 anos.

O número de casos geralmente aumenta com a idade, contudo, os jovens estão sendo cada vez mais atingidos. Um trabalho feito em conjunto pela Unicamp e a Unifesp com 2.140 estudantes universitários brasileiros em 2021 detectou que 23,5% deles apresentavam sintomas de olho seco.

Neste mês é realizada a campanha mundial “Julho Turquesa”, para conscientização da população sobre a síndrome do olho seco.

Dois tipos, diferentes causas

José Álvaro Pereira Gomes, professor do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e vice-presidente da APOS (Associação dos Portadores de Olho Seco), explica que a doença está associada à lágrima.

“A lágrima é um componente extremamente importante para a superfície do olho, formada por camadas aquosa, lipídica e mucina. Quando há uma alteração no mecanismo de produção dela, pode ocorrer o olho seco”, diz o médico.

Ele acrescenta que a patologia se apresenta de duas as formas e o paciente pode ter apenas uma ou as duas ao mesmo tempo. A primeira, chamada de olho seco por deficiência aquosa, ocorre quando há uma diminuição da produção de lágrimas pela glândula lacrimal.

A razão para isso passa por alguns fatores. Um deles é o próprio processo de envelhecimento, já que, conforme vamos ficando mais velhos, produzimos menos lágrima e as células que produzem os seus componentes também envelhecem.

Outras causas são doenças que inflamam a glândula lacrimal (dacrioadenite e síndrome de Sjögren), algumas doenças autoimunes (artrite reumatoide e lúpus) e neurológicas (Parkinson), bem como o uso de alguns medicamentos, incluindo antidepressivos, anti-histamínicos e anti-hipertensivos.

O segundo tipo de olho seco e o mais comum é evaporativo, que se dá quando as lágrimas não têm a consistência correta e evaporam muito rapidamente. Os principais fatores para isso são as condições de trabalho e da vida atual, sobretudo o uso excessivo de telas, o que faz com que não pisquemos o suficiente. Por isso, o número de casos tem aumentado entre os mais jovens.

Também entram para a lista de causas condições ligadas ao ambiente que aumentam a evaporação da lágrima, como baixa umidade relativa do ar, vento, poluição do ar, sol, ar-condicionado, além de uso de lente de contato, disfunções da glândula de Meibômius, como a blefarite e meibomite, algumas doenças de pele, como rosácea, e cirurgias oftalmológicas.

De modo geral, as mulheres, sobretudo na menopausa, são as mais acometidas pela doença devido a alterações hormonais que impactam diretamente a produção de lágrimas.

Sintomas

Os sintomas do olho seco independentemente do tipo são irritação, ardência ou queimação, sensação de “areia” nos olhos, visão embaçada, coceira, olhos vermelhos e sensibilidade à luz. Todos eles tendem a piorar no final do dia e no inverno quando o clima fica mais seco e podem comprometer a qualidade de vida.

No evaporativo, por mais contraditória que possa parecer, ainda costuma ocorrer lacrimejamento excessivo. Gomes pondera que essa é uma reação reflexa. “Os olhos tentam compensar a falta de lubrificação produzindo mais lágrimas, porém, de pior qualidade e que não lubrificam adequadamente.”

Nos casos mais graves, quando o grau de ressecamento é muito grande, o paciente ainda pode ter dor, inflamação crônica e danos na córnea, com consequente limitações de funções, baixa vitalidade, problemas de saúde geral e depressão.

Mas isso, segundo os médicos, é uma situação menos comum, atingindo uma pequena porcentagem das pessoas. A aposentada Ligia Pinheiro da Silva, 66, faz parte dessa minoria.

Moradora de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, ela começou a apresentar sintomas de olho seco há alguns anos. “Sentia irritação, ardência e ficava com os olhos vermelhos e cansados. Procurei vários oftalmologistas e tratei com colírio, mas não melhorava. Pelo contrário. Depois de algum tempo, comecei a ter dor e coceira. Precisei parar de dirigir, tinha que ter ajuda para tudo e entrei em depressão”, conta.

Depois de fazer uma peregrinação por consultórios, ela encontrou um médico que lhe indicou um tratamento mais avançado, condizente com a gravidade do seu caso. “Só então consegui voltar a fazer minhas atividades. Minha qualidade de vida melhorou, mas sei que é algo que terei de tratar para sempre, não posso descuidar”, complementa.

Diagnóstico e tratamento

Ao apresentar um ou mais dos sintomas citados, a recomendação é procurar um oftalmologista para confirmar o diagnóstico porque a doença pode se confundir com outras, e determinar o grau e o tratamento correto.

O diagnóstico, no geral, é feito através de avaliação clínica, levantando em conta os fatores de risco e o estilo de vida, e exames específicos, como os medem a produção de lágrimas e avaliam toda a estrutura do olho em detalhes.

Bruno Fontes, secretário-geral da SOB (Sociedade Brasileira de Oftalmologia), destaca que, embora a doença do olho seco não tenha cura, seus sinais e sintomas podem ser controlados.

“O tratamento inicial, na grande maioria dos casos, envolve apenas o uso de colírio, os mais recomendados são os colírios lubrificantes e sem conservantes, e algumas mudanças de hábitos“, aconselha.

Esse último quesito inclui piscar com mais frequência; reduzir o número de horas por dia de utilização de telas e, quando usar, fazer pausas a cada 20 ou 30 minutos e olhar para objetos mais distantes; reduzir ou eliminar o uso de ar-condicionado e ventiladores; umidificar o ambiente; ter uma boa hidratação; evitar o tabagismo; consumir alimentos ricos em ômega 3; dormir bem; realizar compressas mornas nos olhos, e optar por cosméticos menos tóxicos. Tudo isso também é indicado para evitar a doença.

Quando nada disso resolve, pode ser necessários o uso de colírios lubrificante em forma de gel, pomadas, colírios e medicamentos anti-inflamatórios e colírio de soro autólogo, produzido a partir do plasma colhido do sangue do próprio paciente.

Também podem ser prescritos tratamentos mais modernos, como luz pulsada (frequência de luz que melhora a função das glândulas palpebrais e tem efeito anti-inflamatório) e equipamentos que usam calor para estimular as glândulas palpebrais. Como últimos recursos, são recomendados lentes de contato especiais, para manter a lágrima por mais tempo no olho, e até cirurgia.

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