Página Inicial Saúde Covid longa: o que ela ensina sobre futuras pandemias – 12/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Covid longa: o que ela ensina sobre futuras pandemias – 12/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Surtos de novos tipos de infecções e, sim, até mesmo pandemias estão se tornando cada vez mais prováveis, e precisamos nos preparar não apenas para a próxima, mas também para seus efeitos físicos e mentais duradouros, afirmam especialistas.

“A realidade é que as pandemias vão acontecer. Elas vão acontecer novamente”, diz Ziyad Al-Aly, epidemiologista clínico da Universidade Washington em St. Louis que pesquisa a Covid longa. “Não é uma questão de se, mas de quando.”

Nos últimos cinco anos, a Covid causou uma quantidade significativa de doenças crônicas e incapacidades. O vírus Sars-CoV-2 continua infectando pessoas todos os dias, e estima-se que 20 milhões de americanos ainda estejam lidando com os muitos sintomas da Covid longa.

Pesquisadores estão melhorando nossa compreensão das causas biológicas da Covid longa e trabalhando em direção a tratamentos. Esses avanços podem ajudar não apenas pessoas que enfrentam doenças crônicas hoje, mas também síndromes pós-infecção no futuro.

Mas especialistas estão preocupados pois, apesar das lições duramente aprendidas com a Covid, não estamos totalmente preparados para a próxima pandemia e suas consequências devido à diminuição do financiamento e apoio à pesquisa e à polarização das medidas de saúde pública.

As mudanças climáticas e o aumento da invasão humana em habitats selvagens significam um maior risco de propagação de doenças. “Eu diria que provavelmente estamos menos preparados para isso agora do que estávamos até mesmo para a pandemia de Covid-19”, diz Al-Aly.

Condições como a Covid longa não são novas

A Covid longa inicialmente surpreendeu pesquisadores e médicos, mas, em retrospecto, havia indícios de que infecções poderiam levar a condições crônicas de saúde em alguns pacientes, disseram os pesquisadores. Outras doenças e pandemias causaram síndromes pós-infecção aguda que apresentam semelhanças impressionantes com as da Covid longa.

Portanto, a Covid longa é nova e, ao mesmo tempo, não é nova.

Agora sabemos que “temos síndromes pós-infecciosas que ocorrem e que isso não é exclusivo da Covid, mas a Covid realmente trouxe isso para o primeiro plano”, diz Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota.

Durante e após a pandemia de gripe de 1918, as pessoas reclamavam de se sentirem letárgicas, com problemas de memória e pensamento nebuloso —o que se parece muito com a “névoa cerebral” e outros efeitos neurocognitivos da Covid longa. Agricultores não conseguiam cuidar de suas plantações ou tosquiar suas ovelhas, o que levou a dificuldades econômicas.

Anos depois que a gripe diminuiu, houve um aumento de sintomas semelhantes aos do Parkinson ligados à doença. Houve também uma epidemia coincidente de encefalite letárgica, ou doença do sono, que alguns acreditam estar relacionada à gripe, embora essa ligação seja contestada.

Sintomas duradouros semelhantes seguiram surtos dos vírus respiratórios Sars-CoV-1 e síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) nas décadas anteriores à Covid. Algumas pessoas também enfrentam sintomas persistentes após a doença de Lyme, ebola e dengue.

A encefalomielite miálgica/síndrome da fadiga crônica (EM/SFC), uma condição ainda misteriosa marcada por fadiga persistente e mal-estar após esforço, também é suspeita de ter causas subjacentes semelhantes às da Covid longa; uma meta-análise de 2024 descobriu que aproximadamente metade dos pacientes com Covid longa tem EM/SFC.

A diferença com a Covid, é claro, é “apenas o enorme volume de pessoas que tiveram Covid e desenvolveram Covid longa”, o que tornou muito mais fácil estudar e pesquisar, em comparação com as outras síndromes pós-agudas, diz Wes Ely, professor de medicina e codiretor do Centro para Doenças Críticas, Disfunção Cerebral e Sobrevivência da Universidade Vanderbilt.

O padrão agora é mais aparente: embora muitas pessoas escapem ilesas, “está claro que há uma onda de doenças crônicas e incapacidades após as pandemias”, diz Al-Aly.

Isso deve ser considerado na preparação para futuras pandemias e seus efeitos posteriores.

“Precisamos pensar tanto no curto como no longo prazo desde o início ao projetar antivirais, desenvolver vacinas” e identificar pacientes precocemente para obter ajuda mais cedo,acrescenta Al-Aly.

Preparando-se para futuras pandemias

Em muitos aspectos, os Estados Unidos podem estar menos preparados para lidar com as Covid longas do futuro do que se poderia pensar.

Compreender as causas biológicas da Covid longa nos ajudará. “Investir na compreensão ou desvendar os segredos da Covid longa” vai render dividendos não apenas para a Covid longa, mas poderia ser reaproveitado de forma mais ampla para doenças pós-virais do presente e do futuro, diz Al-Aly.

Mas, agora, muitos desses recursos e investimentos estão em risco.

O Escritório de Pesquisa e Prática da Covid Longa, estabelecido em 2023 no Departamento de Saúde e Serviços Humanos para coordenar os amplos esforços de pesquisa sobre a condição, foi fechado. O Comitê Consultivo do Secretário de Saúde sobre Covid Longa ——um grupo de médicos, pesquisadores, pacientes e seus defensores destinado a aconselhar sobre lacunas no conhecimento e prioridades de pesquisa— foi encerrado antes de sua primeira reunião.

Embora o secretário Robert F. Kennedy Jr. tenha declarado seu compromisso em encontrar tratamentos para a Covid longa, citando o impacto da condição em seu filho, não havia novas estruturas implementadas para pesquisa da Covid longa até junho.

Enquanto isso, ensaios clínicos em busca de tratamentos continuam, mas os pesquisadores temem que o financiamento futuro possa estar em risco, após cortes em dezenas de subsídios de pesquisa para Covid longa (alguns dos quais foram posteriormente restaurados).

A proposta orçamentária da administração Donald Trump reduzirá o financiamento do HHS de US$ 127 bilhões para US$ 93,7 bilhões, incluindo um corte de 40% nos Institutos Nacionais de Saúde, que têm sido uma importante fonte de apoio para a pesquisa da Covid longa como o maior financiador público histórico de pesquisa biomédica no mundo.

“Acho que temos muito trabalho a fazer. E, sabe, é terrivelmente lamentável que tanto desse trabalho tenha sido interrompido por esta administração”, diz Osterholm.

No entanto, a iniciativa Recover Covid de vários bilhões de dólares permitiu que pesquisadores estabelecessem clínicas e estudassem a Covid longa em uma “escala muito maior do que jamais tiveram antes”, diz Leora Horwitz, professora de saúde populacional e medicina na Escola de Medicina da Universidade de Nova York. “Acho que eles nos colocaram em uma boa posição agora para reconhecer condições semelhantes de futuras pandemias ainda desconhecidas.”

A infraestrutura estabelecida pelo Recover permitiu o acompanhamento de longo prazo de dados detalhados de saúde e poderia ser um modelo para o que testar em futuras pandemias, diz Horwitz, à frente da equipe que estuda pacientes adultos, o que inclui quase 15 mil participantes em 83 locais em 33 estados.

Mais importante, agora há um reconhecimento mais amplo de que um subconjunto de pessoas pode desenvolver sintomas prolongados a partir de infecções, diz Horwitz.

Especialistas disseram que muitos desses desenvolvimentos e entendimentos foram impulsionados pela forte defesa da comunidade de pacientes com Covid longa, que levaram os políticos a agir.

O sistema de saúde dos EUA, no entanto, permanece sobrecarregado mesmo sem lidar com outra pandemia, afirma Osterholm, que apontou para uma escassez de médicos e outros profissionais de saúde.

Ao mesmo tempo, muitas das ferramentas de saúde pública para mitigar a propagação e a gravidade da infecção —e, portanto, o risco de sintomas de longo prazo— tornaram-se cada vez mais politizadas.

Máscaras e vacinação ajudaram a combater a Covid e são ferramentas valiosas a serem implementadas caso surja outra pandemia, afirma Al-Aly, mas as pessoas estão cada vez mais ignorando essas conversas de saúde pública e resistindo a se lembrar da pandemia, “como uma amnésia coletiva”, diz ele.

“Pagamos um preço alto por esse conhecimento, e literalmente mais de 1,1 milhão de pessoas morreram” nos Estados Unidos, diz Al-Aly. Agora é uma “questão de se haverá vontade política para realmente utilizar essas informações para o bem público.”

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