Página Inicial Saúde Como falar com adolescentes sobre temas como sexo e drogas – 15/07/2025 – Equilíbrio

Como falar com adolescentes sobre temas como sexo e drogas – 15/07/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Por que o céu é azul? Como nascem os bebês? O que acontece depois da morte? Se as perguntas que as crianças fazem parecem difíceis de responder, espere até elas crescerem e começarem a querer saber como seus pais se comportavam na adolescência.

Contar ou não com que idade começaram a beber ou a transar, se já mentiram para matar aula ou se fumavam maconha com os amigos pode ser um dilema até para pais e mães que se consideram super abertos ao diálogo.

A Folha ouviu especialistas para entender como falar com adolescentes sobre esses temas com honestidade, mas sem “sincericídio”.

A primeira recomendação é encarar essas conversas como uma oportunidade de criar conexão e influenciar a visão de mundo dos filhos. “O adolescente, quando está curioso, irá em busca de satisfazer essa curiosidade. Se ele pesquisa na internet ou pergunta para outras pessoas, não temos o menor controle sobre o que vai chegar até ele. Quando ele pergunta para nós, aí sim, podemos garantir a qualidade dessa informação”, afirma Lígia Moreiras, da página Cientista que virou Mãe, doutora em saúde coletiva e autora do livro digital “Adolescência com Amor”.



O adolescente, quando está curioso, irá em busca de satisfazer essa curiosidade. Se ele pesquisa na internet ou pergunta para outras pessoas, não temos o menor controle sobre o que vai chegar até ele. Quando ele pergunta para nós, aí sim, podemos garantir a qualidade dessa informação

Em sua opinião, falar sobre as próprias experiências pode ser uma chance de “descer do pedestal” em que muitos pais e mães se colocam. Mostrar vulnerabilidade ajuda os filhos a criar resiliência.

“É muito importante que adolescentes saibam, com todas as letras, que suas mães e seus pais também passaram pelas angústias, dúvidas e medos que eles têm, que fizeram escolhas erradas e depois foram atrás de resolver e que, por isso, têm condições de entender as dores deles”, diz.

Moreiras sugere ir além das próprias experiências e buscar informações fundamentadas. “Temos que entender o que vem sendo debatido hoje, desfazer equívocos que podemos ter sobre sexualidade ou sobre psicotrópicos, por exemplo, para não correr o risco de passar adiante erros ou preconceitos.”

Outra dica é aprender sobre as diferentes etapas do desenvolvimento humano, até para saber quais informações os filhos estão prontos para absorver. “A gente precisa adaptar o discurso a cada fase, e para isso não basta bom senso, temos que saber se o adolescente já possui um sistema nervoso central suficientemente desenvolvido para compreender algumas coisas”, diz a cientista.

Vale lembrar algumas particularidades do cérebro adolescente: o córtex pré-frontal, responsável por funções como planejamento e controle dos impulsos, ainda não está maduro, enquanto o sistema límbico, que processa as emoções, fica hiper-reativo. Essa mistura de intensidade emocional com racionalidade limitada deve ser levada em conta ao calibrar a intensidade das informações e emoções envolvidas nessas conversas.

Para o psiquiatra Gustavo Estanislau, pesquisador do Instituto Ame Sua Mente, ainda que a sinceridade seja importante, os pais devem tomar cuidado para não banalizar algumas experiências, relatando-as de forma apressada e descontextualizada.

“Uma coisa é ter fumado maconha com 20 anos. Outra é falar disso com um adolescente de 14, que não se projeta no tempo, não consegue entender o cenário em que aquilo aconteceu. Não dá para ter essa conversa no carro, na pressa, pois há grande chance de mal-entendido, de parecer que é uma liberação”, alerta.

Estanislau diz que há pais que glorificam tanto o próprio passado —inclusive comportamentos de risco— que geram uma pressão para que os filhos sigam o mesmo caminho.

“É aquele pai que quer ser o amigão e acaba se excedendo, contando que bebia todas, que pegava um monte de gente. O adolescente pode ficar ansioso, pensar: ‘Poxa, meu pai nessa época já tinha transado e eu nunca dei um beijo’.”

O desafio é buscar conexão sem ultrapassar essas barreiras. “Existem relações entre pais e filhos que são muito distantes, sem abertura para um diálogo, mas também há relações tão próximas que dificultam a vida do adolescente”, completa a psicanalista Renally Xavier, pesquisadora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Ela lembra que a adolescência é um período de ressignificação das relações com a família e de construção de uma identidade própria. “Não há nada pior para um filho do que saber tudo sobre a sexualidade dos pais. Isso pode obturar a experiência desse sujeito.”

Para Gustavo Estanislau, um caminho para alcançar mais naturalidade nesses diálogos é os pais se acostumaram a falar mais sobre seu dia a dia.

“Nossa tendência é fazer muitas perguntas —’como foi a escola? como foi seu dia?’—, mas é pouco comum ver pais contando que tiveram um dia difícil no trabalho ou que aprenderam algo super legal”, diz. “Aí vem a reclamação clássica de que o adolescente não fala, mas é que a conversa é quase um interrogatório, vai perdendo a graça.”

Lígia Moreiras acrescenta que essa relação de confiança deve ser construída desde a primeira infância. “A boa convivência com nossos adolescentes começa lá atrás, quando mostramos que eles não só podem como devem falar qualquer coisa para a gente. Saber que, se eles tiverem dúvidas, vão se sentir seguros para nos perguntar traz uma paz muito grande.”

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