Num terreiro de Jurema em João Pessoa, li na parede um sábio mandamento: “É extremamente proibido falar da vida alheia”. Esta coluna afronta mais uma vez o bom senso para se meter na de Marina Silva e recomendar: saia do governo. Antes que seja tarde.
A deixa partiu do Congresso ao aprovar legislação que flexibiliza o licenciamento ambiental. Ou melhor, que o decepa, como bem se expressou a ministra do Meio Ambiente em reação ao descalabro comandado por Hugo Motta, presidente da Câmara no mesmo nível sacripanta de Arthur Lira e Eduardo Cunha.
A mesquinhez parlamentar não tem tamanho. Motta pôs o tema em votação de madrugada, escamoteando debate e transparência ao permitir que seus asseclas votassem remotamente. Deve se achar um gênio da política ao dar o troco por derrotas para o Planalto e o Supremo, mesmo rifando o futuro do Brasil.
Marquem o que escrevo: o Congresso Nacional no bolso do centrão é a maior ameaça para o país. O governo Lula pode ser fraco, inábil, fominha e errático, mas nem de longe tão antirrepublicano e irresponsável quanto Senado e Câmara empoderados pelas emendas da corrupção maquinadas por Temer e Bolsonaro.
Nas primeiras administrações do PT, certa vez se leu numa revista de economia que o Brasil ainda iria pagar o preço de ter Marina Silva como ministra (indiciando-a como suposta inimiga do desenvolvimento). Pois foram os leitores daquele panfleto que ajudaram a eleger Bolsonaro, salivando com a miragem Guedes.
Hoje só pagamos mais barato pelo desastre ambiental porque Marina voltou e está lá. Não vai durar, contudo.
Lula gosta de se apresentar como metamorfose ambulante. Mas é só ambíguo e aferrado a velhas opiniões formadas sobre tudo, como o desenvolvimentismo varguista que tão bem encarna em dupla com Dilma.
Pode até ser que vete algo, só para constar, no PL da devastação. No frigir dos ovos, acabará por fechar com Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia, leia-se Foz do Amazonas) e Carlos Fávaro (Agricultura, vulgo ruralistas) e pisará no acelerador dos tratores da destruição. Marina que se cuide.
A turma mancomunada com congressistas que lavam com pecuária o dinheiro embolsado das emendas quer mais é carta branca para desmatar e grilar terras. Não vão se deter perante filigranas como interesse nacional, imagem do país e crise climática. Estão se lixando para a COP30 em Belém do Pará.
O bonde do correntão tão bem representado no Congresso, é bom lembrar, queria organizar uma COP30 do Agro em Marabá e convidar para ela ninguém menos que Donald Trump. Aquele presidente dos EUA que a família Bolsonaro pressionou para aplicar sanções contra o Brasil? Esse mesmo.
Não falta gente graúda na Esplanada defendendo que a Presidência continue se agachando diante do centrão ruralista e dos lobbies de combustíveis fósseis. Marina Silva, qualquer um pode constatar, está falando sozinha por lá. Será atropelada em breve, e os petistas lavarão as mãos –de novo– em petróleo.
A COP30 começa em menos de quatro meses. É o momento perfeito para Marina largar no colo de Lula não um bagre, como o presidente se queixava em 2007, mas uma carta-bomba de demissão.
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