Página Inicial Saúde Surto de sarampo no Canadá supera EUA e divide cidade – 22/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Surto de sarampo no Canadá supera EUA e divide cidade – 22/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Na tranquila cidade canadense de Aylmer, onde cristãos menonitas com trajes tradicionais convivem com os residentes laicos, os debates em torno das vacinas foram reacendidos com a epidemia de sarampo que afeta o país.

O Canadá erradicou oficialmente esta grave doença altamente contagiosa em 1998.

Mas com 3.500 casos confirmados neste ano, o país de 40 milhões de habitantes tem agora mais contágios que seu vizinho Estados Unidos —que vive sua pior epidemia de sarampo em mais de 30 anos— e que qualquer outro país ocidental, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), atualizados em 9 de julho.

Há diferentes comunidades afetadas, mas os especialistas acreditam que os grupos anabatistas antivacinas das províncias de Ontário (sudeste) e Alberta (oeste) são os que mais estão contribuindo para a epidemia.

Brett Hueston, que cresceu em Aylmer, conta à AFP que antes da covid não prestava atenção às duas visões de mundo dos habitantes desta cidade bucólica rodeada de terras agrícolas no sudoeste de Ontário. Mas isso mudou.

“Cresci pensando, talvez ingenuamente, que todos estávamos na mesma sintonia como comunidade”, diz este homem de 40 anos, cuja família publica o jornal local Aylmer Express, com 145 anos de existência.

“A covid realmente disparou as diferenças que existiam”, acrescenta.

Aylmer e suas 13 igrejas —para uma população de 8.000 habitantes— foram um autêntico barril de pólvora durante a pandemia.

Uma das principais congregações, a Igreja de Deus de Aylmer, situada em um amplo e bem cuidado terreno, desafiou as restrições de confinamento e seu pastor, Henry Hildebrandt, pagou uma multa de 65.000 dólares canadenses (cerca de 47.000 dólares americanos) por reunir fiéis.

“Obedeci a Deus antes que aos homens”, disse então Hildebrandt, ao reconhecer que havia infringido a lei conscientemente.

‘Ressentimento’

Michelle Barton, diretora da divisão de doenças infecciosas no hospital infantil do London Health Sciences Center, em Ontário, tratou este ano alguns dos casos mais graves de sarampo pediátrico.

É “difícil ver” o reaparecimento de um vírus que havia sido erradicado, disse à AFP. No entanto, assinalou que nem todos os casos estão necessariamente relacionados com menonitas não vacinados.

Como exemplo, mencionou as infecções entre novos imigrantes que não se vacinaram após se instalarem no Canadá, em parte devido à grave escassez de médicos de família.

Há muito tempo é evidente que a presença de “grupos de pessoas não vacinadas” tornou a região mais vulnerável ao sarampo, embora tenha encontrado posições diversas das famílias menonitas em relação às vacinas.

Diante da doença de seus filhos, algumas mães se mostraram abertas a vaciná-los, mas mudaram de opinião temendo a reação de seu marido ou pastor.

“Não querem ir contra sua cultura nem contra os anciãos (da igreja)”, explicou Barton.

A médica disse sentir empatia com a comunidade menonita, que enfrenta o “ressentimento” de certos profissionais de saúde frustrados por uma epidemia que poderia ter sido evitada.

‘Um muro de mentiras’

Para Alon Vaisman, médico especialista em doenças infecciosas da University Health Network de Ontário, as autoridades devem continuar buscando convencer os líderes religiosos da necessidade da vacinação, independentemente de sua oposição.

“Da perspectiva da saúde pública, não devemos considerar nada insuperável quando se trata de campanhas de vacinação”, declarou à AFP.

As taxas de vacinação infantil se mantêm muito abaixo do que deveriam, o que possibilita um novo surto viral, especialmente de sarampo, afirmou Vaisman.

“Realmente temos que redobrar os esforços”, insistiu, embora tenha admitido que não é fácil. “Lutamos contra um muro de desinformação e mentiras”.

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