Página Inicial Saúde Treino ao som de hip hop atrai mulheres negras em SP – 28/07/2025 – Equilíbrio

Treino ao som de hip hop atrai mulheres negras em SP – 28/07/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Em um palco de uma balada em São Paulo, três mulheres se movimentam enquanto um DJ toca hip hop e músicas de divas pop como Rihanna e Beyoncé. Na pista, em vez de garrafas de cerveja, elas seguram garrafas de água enquanto pingam de suor —não exatamente por dançar, mas por fazer agachamentos e polichinelos. As roupas brilhantes e saias dão lugar a peças fitness em tons de marrom.

Trata-se do Hip Hop Workout Collective, um treino funcional ritmado cujo diferencial é o uso da trilha sonora de hip hop, rompendo com os gêneros dominantes em aulas coletivas no Brasil, como sertanejo e forró. Não se trata de uma aula de dança, mas sim de exercícios funcionais.

O projeto surgiu com Juliana Oliveira, 26, personal trainer, instrutora de fight e boxeadora. Ela se inspirou em aulas dos Estados Unidos que combinam música com treino funcional e percebeu que algo semelhante não existia no Brasil, principalmente voltado a mulheres negras.

A proposta começou informalmente, em 2023, quando Oliveira costumava pegar uma caixa de som e ir para um parque com cerca de dez alunas. Na época, chamava de “aulão”. Após uma tentativa frustrada com cobrança, ela quase desistiu do projeto. Porém, em 2024, decidiu retomar a iniciativa com o apoio de Caroline Araujo, 27, e Juliane Silva, 38.

O evento acontece mensalmente, e o primeiro foi realizado em abril deste ano, com ingressos esgotados. A repercussão mostrou que o projeto tinha potencial, evidenciado também pelo crescimento em rede social e pelo desenvolvimento de uma identidade visual consistente, tanto no Instagram quanto no próprio evento, onde convidam as participantes a se vestirem com tons terrosos ou preto.

O Hip Hop Workout Collective é voltado especialmente para mulheres, em particular àquelas que não se sentem representadas nos ambientes tradicionais de treino. Apesar de não restringirem o acesso a ninguém, o maior público são mulheres negras, o que elas acreditam ser por uma questão de identificação.

“É a primeira vez que muitas meninas pretas veem três professoras pretas liderando, sorrindo, falando de cuidado com o corpo e saúde com alegria”, afirma Silva, que é educadora física, mãe e produtora do projeto.



É a primeira vez que muitas meninas pretas veem três professoras pretas liderando, sorrindo, falando de cuidado com o corpo e saúde com alegria

Araujo, educadora física, personal trainer e atleta de powerlifting, ressalta essa representatividade: “É aquela coisa de olhar para nós e ver que nós estamos ali, que faltava essa referência. E a parte da cultura, principalmente musical, querendo ou não, nós escutamos isso a vida toda”. O hip hop, o funk e outras vertentes da black music são trilhas sonoras da vida delas, conectando o treino à vivência cultural real das participantes.

As instrutoras prezam pela importância do bem-estar como experiência coletiva e comunitária. “Nós sentimos falta daquela coisa do: vamos fazer algo para nós, para a nossa comunidade”, afirma Araujo.

Para Araújo, o projeto cria um envolvimento de corpo e alma. Elas se emocionam ao ver um espaço de acolhimento, liberdade e prazer no movimento. “As pessoas choram no treino. Tem uma coisa emocional muito intensa, no sentido positivo”, relata.

Cada treino custa R$ 20 e é descrito como uma experiência afetiva e sensorial completa, com DJs ao vivo, acolhimento, brindes e marcas parceiras. Antes era realizado uma vez ao mês, mas agora elas fazem até dois encontros devido à crescente demanda. Na primeira edição de julho, participaram 124 mulheres. As datas são divulgadas no perfil do Instagram (@hhwc.br).

Um dos principais desafios é encontrar locais adequados para realizar o evento em todas as regiões de São Paulo. O espaço precisa comportar muitas pessoas, ter boa ventilação e contar com apoio de bombeiros e ambulância. Além disso, as organizadoras prezam por um ambiente diferente dos tradicionais espaços de treino. A ideia é trazer a atmosfera de balada em uma manhã de domingo, contrastando com o ambiente de academia.

O programa é voltado para mulheres que “estão cansadas” de padrões estéticos e da cobrança por performance. “Elas se sentirão seguras, diferente das academias tradicionais, onde sabem que, se fizerem um agachamento, vai ter um cara olhando para elas, vai ter uma outra pessoa julgando, vai ter alguém querendo se exibir, vai ter alguém querendo disputar o peso”, explica Silva.

Araújo afirma que os espaços de bem-estar costumam ser marcados por exclusão ou silenciamento, seja pela estética eurocentrada, seja pela falta de acolhimento cultural. O Hip Hop Workout Collective é, portanto, uma forma de romper esse ciclo e criar novas referências.

“A mulher, principalmente a mulher preta, sempre teve um lugar de servir. É a mãe, a empregada, é sempre a funcionária. E a gente conseguiu criar, com o Hip Hop Workout, um momento para a pessoa que cuida se cuidar”, afirma a produtora.

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