PIB do Brasil pode perder até R$ 175 bilhões com tarifa de 50% de Trump, diz estudo
O dólar fechou em alta de 0,52% nesta segunda-feira (28), cotado a R$ 5,5904. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,6061. No fim do pregão, o Ibovespa, principal índice da bolsa, teve queda de 1,04%, aos 132.129 pontos.
Faltando quatro dias para o início do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continuam as negociações comerciais para reduzir as taxas. O destaque do fim de semana foi o anúncio de um acordo com a União Europeia (UE) no domingo (27).
📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça
▶️ O novo acordo entre os EUA e o bloco europeu reduziu a tarifa de 30% para 15% sobre produtos europeus. A nova alíquota também se aplica a automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos. Já o aço e o alumínio continuam com sobretaxa de 50%.
O acordo dividiu opiniões entre os líderes da Europas, que esperavam um desfecho mais equilibrado nas negociações com os EUA. (entenda mais abaixo)
▶️ O Brasil segue sem avanços nas negociações com os EUA. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) informou que o governo vem buscando negociação desde o anúncio das medidas, com “base em diálogo, sem qualquer contaminação política ou ideológica”.
“Reiteramos que a soberania do Brasil e o estado democrático de direito são inegociáveis. No entanto, o governo brasileiro continua e seguirá aberto ao debate das questões comerciais, em uma postura que já é clara também para o governo norte-americano”, declarou o MDIC, em nota à imprensa.
Na semana passada, o presidente Lula (PT) criticou a falta de disposição de Trump para discutir a tarifa de 50%, afirmando que o republicano “não quer conversar”. Como mostrou o g1 neste sábado, especialistas afirmam que os canais de comunicação entre Brasil e EUA, de fato, não são eficazes.
Entenda a dificuldade do governo para negociar tarifaço com os EUA
Veja abaixo como esses fatores impactam o mercado.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
a
Acumulado da semana: +0,52%;
Acumulado do mês: +2,89%;
Acumulado do ano: -9,54%.
📈Ibovespa
Acumulado da semana: -1,04%;
Acumulado do mês: -4,84%;
Acumulado do ano: +9,85%.
EUA e União Europeia anunciam acordo
Com a proximidade do prazo final de 1º de agosto para o tarifaço anunciado por Donald Trump, as negociações comerciais voltam ao centro das atenções do mercado financeiro nesta semana. O destaque do dia é o novo acordo entre os EUA e a União Europeia, anunciado no domingo (27).
O tratado estabelece uma taxa de 15% sobre todos os produtos europeus, incluindo automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos. Já o aço e o alumínio seguem com sobretaxa de 50%.
Segundo Trump, o acordo também prevê um investimento de US$ 600 bilhões (cerca de R$ 3,3 trilhões) da União Europeia nos EUA, além de contratos para aquisição de energia e equipamentos militares norte-americanos.
“O acordo com a União Europeia é o maior já feito”, afirmou o republicano.
Segundo o blog do Valdo Cruz, o acordo diminui ainda mais o poder de barganha do Brasil e reduz a urgência de um tratado dos europeus com o Mercosul.
‘Dias sombrios’ para a Europa
O acordo entre os EUA e a UE dividiu opiniões entre os líderes do bloco europeu. Nesta segunda, o primeiro-ministro francês, François Bayrou, afirmou que o continente pode enfrentar um período sombrio.
“É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar seus valores comuns e defender seus interesses comuns, se resigna à submissão”, afirmou.
O tratado também foi criticado pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que afirmou que Trump “devorou” a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
“Isso não é um acordo… Trump devorou von der Leyen no café da manhã. Foi isso o que aconteceu e nós esperávamos que isso acontecesse, já que o presidente dos EUA é um peso pesado quando se trata de negociações, enquanto a presidente é um peso-pena”, disse.
Líderes da Espanha, Alemanha e Itália reconheceram que o acordo pode trazer alguma previsibilidade para o futuro do bloco, mas demonstraram pouco entusiasmo com os termos firmados.
“O acordo, com sua tarifa básica de 15%, certamente é algo que nos desafiará. Mas o lado bom é que ele traz certeza”, disse a ministra da economia da Alemanha, Katherina Reiche.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, elogiou os esforços da Comissão Europeia e a “atitude construtiva e negociadora” de von der Leyen.
“De qualquer forma, apoio este acordo comercial, mas sem qualquer entusiasmo”, completou.
Ações europeias
Com a desconfiança sobre a efetividade do acordo, as ações europeias recuaram após atingirem o maior nível em quatro meses. O índice pan-europeu STOXX 600 chegou a subir 1%, mas encerrou o dia com queda de 0,2%.
As expectativas de um pacto “zero a zero” e a tarifa média superior aos 2,5% registrados no ano passado frustraram os investidores.
“Ainda é um salto acentuado em relação aos níveis anteriores a 2025, quando muitos produtos enfrentavam tarifas abaixo de 3%, e provavelmente aumentará as pressões inflacionárias nos próximos meses”, disse Lale Akoner, analista de mercados globais da eToro, à Reuters.
Além disso, as ações de empresas do setor de bebidas alcoólicas, como Pernod Ricard e Anheuser-Busch InBev, recuaram 3,5% e 3,6%, após o acordo comercial não contemplar nenhuma decisão específica sobre o setor de bebidas.
Lula x Trump
A proximidade da entrada em vigor das tarifas de Trump também eleva a preocupação com a situação do Brasil. As negociações com os EUA não avançaram até o momento, e investidores seguem cautelosos quanto à resposta brasileira.
Na semana passada, o presidente Lula (PT) desabafou em conversa com interlocutores que não há nenhum canal de negociação direta e fluido com Trump, indicando que existem conversas no nível diplomático, mas elas não chegam à Secretária do Comércio dos EUA e tampouco à Casa Branca.
Na última quinta-feira, assessores presidenciais relataram que Trump sinalizou a intenção de “punir” o Brasil, mesmo sem justificativa econômica clara para aplicar a tarifa mais alta. A avaliação aumentou o pessimismo da equipe de Lula quanto à possibilidade de reversão do tarifaço.
Na sexta-feira, uma comissão de senadores viajou aos EUA na tentativa de abrir um canal de negociação com o governo americano. A iniciativa, porém, é vista com cautela por diplomatas brasileiros e está sendo boicotada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo blogueiro Paulo Figueiredo.
Interlocutores de Lula que estão em Nova York relataram ao blog do Valdo Cruz que o presidente Donald Trump não autorizou sua equipe a abrir diálogo com o Brasil.
Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, há conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. No entanto, os negociadores têm ouvido que todas as decisões estão centralizadas na Casa Branca.
*Com informações da agência de notícias Reuters.
Cédulas de dólar
John Guccione/Pexels