Página Inicial Saúde Usar droga na adolescência pode causar psicose – 01/08/2025 – Equilíbrio e Saúde

Usar droga na adolescência pode causar psicose – 01/08/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Não é segredo que a adolescência é um período de grandes transformações. Além das mudanças físicas herdadas da puberdade, o jovem vive uma fase de criação da própria identidade. Mas há também uma constante transformação invisível e crucial: o desenvolvimento do cérebro.

Cientistas apontam que, se antes acreditava-se que o neurodesenvolvimento acontecia até os 21 anos, hoje o entendimento é que esse processo se estenda até quase os 30 anos. Durante esse período, o nosso cérebro tem uma plasticidade maior, o que significa que é mais afetado por uso de drogas.

Eduardo Sequerra, professor e pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), explica que esse é o chamado período crítico, época em que os neurônios estão mais abertos a modificações.

“Na adolescência, ocorre o período crítico de algumas áreas cerebrais importantes. Um para desenvolvimento da identidade, que é o córtex pré-frontal, e também áreas límbicas e as áreas envolvidas no que a gente chama de sistema de recompensa”, conta. “O sistema de recompensa é importante para o metabolismo de dopamina e para o vício.”

Kaled El Sahli, psiquiatra da infância e da adolescência e médico assistente no Serviço de Transtornos por Uso de Substâncias/Psiquiatria Infanto-Juvenil do Instituto Perdizes (IPer), afirma que a experimentação de substâncias antes dos 18 aumenta de forma significativa os riscos de dependência no futuro.

Como os neurônios estão com uma maior plasticidade, há maior chance também de eles serem dessensibilizados, explica Sequerra. Ou seja, se eles são muito estimulados —o que ocorre com o uso de drogas estimulantes, como a cocaína—, podem perder a sensibilidade àquela estimulação e precisar de um estímulo maior, gerando o vício.

Estudos mostram que o risco de desencadear uma dependência é de duas a três vezes maior [se o uso de drogas começar na adolescência]”, diz El Sahli. O psiquiatra ressalta que é importante considerar questões genéticas e histórico familiar de dependência de diversos tipos de substâncias, lícitas —como álcool e nicotina— ou ilícitas; além do abuso de substâncias durante a gestação.

As influências sociais são outro ponto relevante nessa fase da vida e podem impactar na hora da experimentação de diferentes substâncias. Apesar de todos os seres humanos, de todas as idades, estarem inseridos em contextos sociais, o adolescente está começando a ter uma autonomia maior em relação aos seus vínculos.

Dartiu Xavier, psiquiatra da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), destaca a importância de considerar os fatores psicossociais da questão. “A gente muda muito do começo da adolescência até a idade adulta, isso faz parte do processo normal de amadurecimento. E é claro que o adolescente é muito interessado em novidades, entre essas coisas entra sexualidade, entra também alterações de consciência.”

Os fatores psicossociais, nessa situação, importam tanto quanto os biológicos. Os adolescentes estão expostos a influências de amigos —chamada de pressão por pares—, em constante busca por pertencimento e também a curiosidade de experimentar coisas novas.

El Sahli complementa que o caminho que leva o adolescente ao uso de drogas é complexo e envolve o contexto em que esse jovem está inserido.

Além de uma curiosidade natural, algumas pessoas também usam substâncias como uma válvula de escape para problemas familiares, traumas, exposição a diferentes tipos de violência e até o alívio de sintomas psiquiátricos, como ansiedade e depressão.

O problema é que a expectativa do alívio dos sintomas é frustrada, já que as substâncias podem piorar o quadro pré-existente e ainda desencadear novos sintomas e prejuízos, como problemas escolares, comportamentos de risco e o funcionamento emocional.

“O uso de substâncias pode impactar na formação de alguns comportamentos do indivíduo e precipitar o desenvolvimento de doenças psiquiátricas“, diz El Sahli.

Dartiu Xavier diz que os estudos realizados nessa área mostram que é muito difícil adultos desenvolverem psicose com o uso recreativo de maconha. Por outro lado, o uso na adolescência apresenta chances elevadas, principalmente pela vulnerabilidade do desenvolvimento cerebral, com o desenvolvimento do córtex pré-frontal, o sistema límbico e a plasticidade neuronal, que têm um papel importante para a saúde mental.

No entanto, Xavier reforça que é utópico pensar que todos os jovens deixarão de experimentar substâncias psicoativas durante a adolescência. Apesar de ser o ideal, por não haver dosagem segura, o que se pode garantir para reduzir os danos desse uso é mapear os que estão usando e entender o que os levou a essa procura.

“O que se preconiza hoje em dia é fazer mais um modelo de prevenção que abarque também o que a gente chama de redução de danos, o que não é falar que tudo bem você usar droga. O que a gente quer é identificar aqueles que, caso experimentem drogas, tenham uma chance maior de se tornarem dependentes”, afirma.

Isso também envolve analisar os fatores de risco para esse abuso. Como citado anteriormente, questões emocionais, familiares, contextuais e com um histórico familiar anterior estão mais vulneráveis.

El Sahli pontua a importância do apoio da família, quando possível, com diálogo aberto e acolhimento. “A família é uma peça-chave, acompanhar a rotina do jovem, demonstrar interesse pela sua vida, estabelecer regras claras. Estando presente, sem tanto julgamento ou tentativa de estabelecer um controle autoritário.”

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