No começo, parecia impossível. A decisão de parar de beber me veio depois de muitos momentos difíceis, internações, e a certeza absoluta de que eu estava perdendo o controle da minha vida. A bebida, que um dia foi um alívio, se tornou uma prisão. E quando decidiram que eu tinha que sair dela, a enorme dificuldade que seria o caminho. Decidiram porque talvez eu mesma teria me acabado sozinha, isso diz a doença.
Os primeiros dias foram os mais duros. A abstinência não era tanto física —era emocional. Eu me sentia irritada, ansiosa e triste. A bebida estava ligada a muitos momentos do meu dia: relaxar, comemorar, lidar com frustrações, ser companhia. Tirar o álcool significava reaprender a viver. E isso exigiu muito.
Comecei evitando qualquer situação de risco, como me foi aconselhado. Festas, encontros em bares, até mesmo reuniões de família que envolviam bebida. No início, me isolei um pouco, não por querer ficar sozinha, mas por entender que precisava me proteger. Foi um esforço consciente: eu precisava colocar minha recuperação em primeiro lugar. Disseram-me uma vez, no AA, que “evitar a primeira dose é mais fácil do que parar a décima”, e essa frase ficou na minha mente.
Encontrei uma grande ajuda nos Alcoólicos Anônimos. Ali, pela primeira vez, ouvi histórias que pareciam ser as minhas, contadas por outras pessoas. Descobri que não estava sozinha. Ao contrário do que eu pensava, tinham milhares de pessoas enfrentando o mesmo desafio, e algumas já estavam anos em sobriedade, vivendo vidas mais leves e significativas. O apoio mútuo, o respeito, a escuta sem julgamento, me fortaleceu para continuar.
Outra coisa que me ajudou foi o exercício físico. Comecei caminhando, aos poucos, com meu cachorro, e isso me deu um novo foco. O movimento do corpo ajudava a acalmar a mente, aliviar a ansiedade e melhorar meu humor. Também passei a me permitir pequenos prazeres que substituíram a bebida. Doces, por exemplo, se tornaram aliados. Um chocolate ou um pedaço de bolo, por exemplo, não resolviam tudo, mas me ajudaram em momentos de vontade.
A presença de pessoas queridas também foi essencial. Nem todos entenderam de imediato, mas aqueles que ficaram ao meu lado, respeitando meu processo, fizeram uma diferença imensa. Às vezes, só o fato de alguém perguntar como eu estava já me deixava emocionada.
Hoje, ainda luto, porque o alcoolismo é uma doença que não tem cura, mas tem tratamento. E cada dia limpo é uma conquista. Para quem está começando agora, eu digo: não se cobre perfeição, mas busque progresso. Um dia de cada vez. Você vai errar, vai se sentir fraco, mas também vai se surpreender com a sua própria força. Seja gentil com você.
Substitua a bebida por algo que te nutra, física e emocionalmente. Caminhe, respire, coma um doce, se quiser. Mas acima de tudo: fale sobre suas dores. Não guarde para você. Os grupos de apoio existem por um motivo: neles, a gente encontra compreensão, conselhos sinceros e, principalmente, esperança. Se eu consegui do jeito que estava, você também pode. E saiba que nunca estará sozinho.
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