Uma pesquisa com dados de crianças britânicas observou que a prática de exercícios físicos aparenta diminuir o índice de tabagismo durante a adolescência. Na média mundial, 13 a cada 1.000 crianças começam a fumar aos 13 anos. No entanto, entre aquelas com histórico de atividade física, esse número é de 6 a cada 1.000.
Publicado na revista Behaviour Research and Therapy, o estudo é uma tentativa de entender como barrar o aparecimento de doenças crônicas, como diabetes, por proporcionar melhores hábitos de saúde ainda na infância. Andrew Agbaje, autor do artigo, explica que antes do desenvolvimento completo de doenças crônicas, é possível observar sinais que indicam riscos para essas condições de saúde. Por exemplo, antes de um ataque cardíaco, ocorre o aumento do coração do paciente. Ao observar esses sinais, medidas preventivas podem ser tomadas.
“É necessário identificar exatamente onde e quando é o momento certo para intervir, para reverter [o quadro de saúde]”, continua Agbaje, que é professor associado de epidemiologia clínica e saúde infantil na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Leste da Finlândia.
Diferentes fatores influenciam o aparecimento ou não dessas doenças crônicas. Tabagismo e atividade física são dois. Esses aspectos podem, em conjunto, aumentar o risco para condições crônicas. Mas o que Agbaje tentou ver foi o contrário. A hipótese foi que talvez fosse possível utilizar um desses fatores para combater outros.
Por isso o pesquisador analisou a relação entre atividade física e tabagismo. A ideia foi checar se a prática de exercícios regulares —algo que diminui o risco para doenças crônicas— influencia o hábito de fumar, que é um fator sério para diversos problemas de saúde.
O público elencado para essa pesquisa foram crianças. O pesquisador se valeu de dados compilados em um estudo do Reino Unido com cerca de 2.500 crianças nascidas entre 1991 e 1992. Elas foram acompanhadas por anos e seus dados foram coletados constantemente com o passar do tempo. Entre essas informações atualizadas, estavam índices de atividade física e questionários acerca de hábitos pessoais, incluindo tabagismo.
Esses dados estatísticos foram analisados a fim de constatar a relação entre atividade física e o fumo durante a adolescência. O resultado foi que crianças com prática de exercícios apresentaram uma queda de mais de 50% na adesão ao tabagismo quando chegavam aos 13 anos comparado a média global. Mas o contrário não foi visto: ser sedentário não aumentou o risco de começar a fumar na adolescência.
Agbaje elenca algumas hipóteses de por que atividade física aparenta diminuir a prevalência de tabagismo. Uma dessas explicações envolve as sensações de prazer e satisfação que exercícios físicos proporcionam, algo que também poderia ser alcançado com o cigarro. No entanto, a criança que pratica atividade física já atinge esses níveis de satisfação pela atividade física, o que diminui o interesse por cigarro.
Esse resultado da pesquisa é importante como um guia para o desenvolvimento de políticas públicas anti-tabaco. “Você nunca pode mudar a política de um governo se não houver evidências científicas. Todas essas evidências que apresentamos servem para prover [ferramentas] aos gestores de políticas públicas, especialistas em saúde pública e legisladores”, afirma o autor do estudo.
Por enquanto, o estudo está restrito aos dados compilados no Reino Unido. Agbaje diz que são poucos os bancos de dados com informações que começam a ser compiladas na infância e passam a ser atualizadas com o passar dos anos. Material sobre prática de atividades físicas, que normalmente envolve equipamentos utilizados pelos participantes das pesquisas para mensurar esse fator, é ainda mais raro.
Outra área difícil de ser acessada é relacionada aos cigarros eletrônicos. Por ser um produto novo, existe uma falta de dados coletados temporalmente. No entanto, Agbaje acredita que o resultado não seria tão diferente do que foi visto no artigo assinado por ele já que a composição de cigarros eletrônicos tende a ser bem parecida com cigarros tradicionais, como no caso da nicotina.
“Quase podemos dizer que, mesmo sem saber o grau de certeza, talvez também possamos reduzir um pouco o uso de cigarros eletrônicos [a partir da atividade física na infância]”, afirma o pesquisador.