A maioria dos pacientes com inchaço que vêm ao meu consultório de gastroenterologia pensa que é porque algo de dentro —como o aumento de gases— está empurrando suas barrigas para fora. Isso os leva a tentar mudar suas dietas.
Às vezes isso ajuda. Muitas vezes não.
Para muitas pessoas, o inchaço frequente tem pouco a ver com gases ou fezes. Pode ser uma resposta muscular anormal, como os pesquisadores da minha área passaram a entender.
Se pensarmos na cavidade abdominal —ou na parte oca da barriga que contém órgãos internos como o fígado e o estômago— como uma caixa de papelão, o problema pode não ser o que está dentro da caixa, mas sim a própria caixa.
E se começássemos a empurrar a tampa da caixa para baixo, algo teria que ceder.
Para muitas pessoas, durante episódios de inchaço, o diafragma —ou o músculo que sustenta os pulmões entre as cavidades abdominal e torácica— desce, e os músculos da parede abdominal relaxam, empurrando tudo dentro da cavidade abdominal, como os intestinos, para frente.
Essa resposta —chamada de dissinergia abdomino-frênica— pode parecer contraintuitiva; afinal, o inchaço geralmente ocorre com as refeições. Então, as pessoas tentam mudar suas dietas. E, para alguns, eliminar certos gatilhos clássicos, como cebolas ou alho, pode melhorar os sintomas, mas muitos ficam se perguntando por que isso não resolveu nada.
A boa notícia? Existem outras maneiras de ajudar.
Dissinergia abdomino-frênica
Algum grau de inchaço é normal e universal. Normalmente, é infrequente e transitório —mas se acontecer com frequência e afetar sua qualidade de vida, converse com seu médico. Às vezes, encontro uma solução rápida e fácil, como parar com adoçantes artificiais e chicletes, ou mudar as máscaras de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP, na sigla em inglês) dos meus pacientes.
Mas há muitas outras causas de inchaço, incluindo alimentos. Condições médicas como a síndrome do intestino irritável também podem desempenhar um papel. A dissinergia abdomino-frênica pode acontecer após comer, razão pela qual a comida tende a ser a primeira coisa culpada. Por exemplo, muitas pessoas reclamam que a alface lhes dá gases e inchaço desconfortáveis. Mas um estudo de 2019 descobriu que o gás produzido pela fermentação da alface através de nossos microbiomas intestinais é mínimo.
Tomografias do abdômen revelaram que pessoas que reclamavam de inchaço após comer alface não apresentavam mudanças significativas em seus gases intestinais em comparação com antes de comer alface. Em vez disso, suas tomografias mostraram as características da dissinergia abdomino-frênica: um diafragma descendente e os músculos da parede abdominal protuberantes que forçavam seus intestinos a se moverem de uma posição confortável sob a caixa torácica para mais perto do umbigo.
O que tentar para o inchaço
Consulte seu médico. As pessoas às vezes ficam constrangidas com seu inchaço ou o descartam como algo sem importância. É importante falar abertamente com seu médico sobre o que está preocupando você e não adiar.
O primeiro passo é garantir que não estamos perdendo nada sério, incluindo doença celíaca ou câncer de ovário. Avalie os gatilhos alimentares de forma sistemática: A intolerância à lactose ou outros alimentos clássicos ofensores, como vegetais crucíferos, lentilhas e feijões, são responsáveis pelo inchaço em até um terço dos pacientes.
Eu tendo a não recomendar a restrição de muitos alimentos —como com um teste de dieta baixa em FODMAP— sem a orientação de um nutricionista registrado. Certifique-se de ter a equipe certa com você e de estar avaliando possíveis gatilhos de forma sistemática e rastreável.
Seja aberto sobre seus hábitos intestinais com seu médico. Intestinos lentos são uma fonte importante de inchaço e podem ser facilmente tratados com medicamentos. Seu médico também pode ajudar a avaliar se seu assoalho pélvico pode estar agravando seus sintomas. Lembra da caixa de papelão? O assoalho pélvico é o fundo dessa caixa, e ele também pode contribuir para o inchaço quando esses músculos não se coordenam adequadamente.
Discuta o treinamento de biofeedback. Se mudanças dietéticas simples não ajudarem e a constipação não for um problema, você pode precisar pensar sobre a dissinergia abdomino-frênica. Um gastroenterologista pode avaliar melhor. Dois ensaios randomizados controlados por placebo mostraram que tipos especiais de exercícios de fisioterapia, chamados biofeedback, podem treinar os pacientes a mobilizar seu diafragma e reduzir o inchaço. Isso envolveu manobras para elevar o peito e contrair a parede abdominal.
Após quatro semanas, os participantes que fizeram esses exercícios antes e depois de comer experimentaram uma melhora de 66% nos sintomas. Esse tipo de biofeedback pode não estar disponível em todos os centros médicos. Alguns cientistas sugeriram que exercícios de respiração diafragmática, que envolvem manobras relacionadas e podem ser praticados em casa de forma independente, também podem ser úteis para pacientes com inchaço, mas mais pesquisas são necessárias para confirmar o benefício.
O que quero que meus pacientes saibam
Quando uma mulher que passou pela menopausa vem ao meu consultório reclamando de novo inchaço, um pequeno alarme soa na minha mente. Esse alarme fica mais alto se ela me disser que o inchaço está presente o tempo todo —até mesmo logo de manhã.
O inchaço e a distensão podem ser um dos primeiros sinais de câncer de ovário. O câncer de ovário é relativamente raro, pelo menos quando comparado a outros tipos de câncer, mas levo muito a sério novos sintomas de inchaço como este porque este tipo de tumor também é um dos cânceres mais fáceis de se perder em um estágio inicial.