Como gastroenterologista, um dos meus principais objetivos é ajudar as pessoas a evacuar melhor. Isso significa falar mais abertamente sobre nossa saúde intestinal em geral.
Muitas vezes me surpreendo com o quão pouco falamos sobre algo tão essencial para o funcionamento do corpo. Pense, por exemplo, em quantas vezes nos ensinaram a escovar os dentes corretamente na infância. Mas, por razões que médicos como eu ainda não entendem, quando o assunto é arrotar, soltar gases, evacuar ou qualquer coisa relacionada ao intestino, colocamos um limite.
O estigma em torno desses temas pode impedir as pessoas de buscarem respostas e cuidados que melhorariam sua saúde geral. Para mim, nenhuma pergunta é fora de limite ou embaraçosa demais.
Então, o que você deveria saber sobre a saúde do seu intestino? Aqui vão oito dicas baseadas em evidências que já abordei em colunas anteriores.
1. Não faça força nem fique muito tempo no vaso
Ficar sentado e fazendo força por muito tempo —o que geralmente acontece enquanto se rola o feed do celular no banheiro —pode comprometer os tecidos que sustentam o canal anal, podendo levar a hemorroidas sintomáticas. É por isso que frequentemente lembro meus pacientes: “Você tem uma missão e apenas uma missão quando senta no vaso”.
Décadas atrás, médicos acreditavam que constipação e dieta pobre em fibras eram as principais causas de hemorroidas. Mas estudos não confirmaram isso de forma consistente. Dietas ricas em fibras são recomendadas como tratamento, mas não necessariamente previnem o aparecimento das hemorroidas.
Hoje, acredita-se que hemorroidas sintomáticas estejam mais relacionadas à força excessiva e às fezes endurecidas —que podem ocorrer com a constipação, embora nem sempre. Se sua dieta é rica em fibras, mas você ainda faz força para evacuar, converse com um gastroenterologista —pode haver um problema com os músculos do assoalho pélvico que pode ser melhorado com fisioterapia.
2. Saiba o que é normal para você
Muitos dos adultos que atendo na clínica não têm ideia do que é considerado um padrão intestinal normal. Em geral, de três evacuações por semana até três por dia está dentro do normal. Uma vez ao dia é ótimo para muita gente. Mas, o mais importante é que, independentemente da frequência, o processo deve ser confortável.
“Se você evacua todos os dias, mas precisa fazer muita força ou tomar laxantes, pode haver um problema.” Por outro lado, se você evacua a cada dois ou três dias sem dor, inchaço ou esforço, isso também pode ser saudável. “Converse com seu médico se tiver dificuldade; às vezes, mudanças simples como aumentar a ingestão de água, fibras ou se exercitar mais podem ajudar muito.”
3. Evite medicamentos como ibuprofeno
“Medicamentos como ibuprofeno podem danificar o revestimento do intestino.” Por isso, é melhor evitar os anti-inflamatórios não esteroidais —como ibuprofeno, naproxeno e aspirina —sempre que possível. “Se precisar tomá-los, use a menor dose pelo menor tempo necessário.”
Não me preocupo se meus pacientes tomam uma ou duas doses de vez em quando. Mas o uso frequente (várias vezes ao mês ou mais) pode aumentar a permeabilidade intestinal. Se você depende desses medicamentos para dores crônicas, converse com seu médico sobre alternativas. Eles funcionam bem e são baratos, mas pode haver outras opções melhores para seu intestino.
4. Reduza bebidas açucaradas e carne vermelha
Embora muitos fatores do câncer estejam fora do nosso controle —como genética e ambiente —algumas escolhas podem ter grande impacto. Eu sempre recomendo que meus pacientes comecem mudando a dieta.
Seguir uma alimentação no estilo mediterrâneo —rica em leguminosas, nozes, frutas e vegetais— pode reduzir o risco de câncer colorretal em cerca de 18%. Mas muitas pessoas cresceram com dietas processadas e pobres em fibras, então suas papilas gustativas estão acostumadas com isso.
Por isso, o ideal é começar aos poucos, reduzindo alimentos ligados ao câncer de cólon: bebidas açucaradas (como refrigerantes), carnes vermelhas e processadas, grãos refinados e álcool.
5. Experimente um bidê
Bidês são suaves e higiênicos. Eu os recomendo o tempo todo, especialmente para pacientes com fezes moles (como na síndrome do intestino irritável), que sofrem com o atrito constante do papel higiênico.
Também são ótimos para quem tem dificuldade de mobilidade ou equilíbrio, além de benéficos para quem tem hemorroidas, fissuras anais ou está no pós-parto. “Eu entendo: pode parecer estranho tentar algo novo nessa área. Mas, depois que você experimenta a sensação de limpeza, fica difícil voltar ao papel higiênico.
Existe uma curva de aprendizado —como ajustar a pressão da água e encontrar o ângulo certo. E, a menos que você tenha um bidê com secador, vai precisar secar a área com papel higiênico ou uma toalha limpa.
Você não precisa trocar o vaso sanitário todo. Existem assentos com bidê que custam cerca de US$ 50. É só medir seu vaso e verificar se há uma tomada por perto.
6. Coma uma dieta rica em fibras
A maioria das pessoas não consome a quantidade recomendada de fibras por dia. Mas todos deveríamos. Essa é uma das formas mais estudadas e eficazes de manter um microbioma saudável e melhorar a saúde geral.
Dietas pobres em fibras podem levar à perda de grupos importantes de bactérias —e, uma vez perdidos, eles podem não voltar, mesmo que você aumente o consumo de fibras depois.
O momento de agir é agora.
Quanto mais variada sua dieta, mais diverso será seu microbioma —e mais saudável você será. Escolha uma variedade de plantas ricas em fibras, nozes e alimentos fermentados para oferecer ao seu intestino um verdadeiro banquete de nutrientes.
99% dos gases intestinais são compostos de nitrogênio, oxigênio, hidrogênio, dióxido de carbono e metano.”= Esses são inodoros. O problema está no 1% que contém enxofre, como o sulfeto de hidrogênio.
Se você precisa de uma solução rápida —para uma conferência de trabalho ou um encontro —tome subsalicilato de bismuto (Pepto-Bismol). Ele neutraliza mais de 95% dos gases sulfurosos e reduz sintomas de flatulência. Também ajuda a prevenir diarreia do viajante.
Há algum risco de toxicidade pelo salicilato se usado com frequência, mas se for por um ou dois dias para aliviar um desconforto social, tudo bem. A dose recomendada é 524 mg por via oral, quatro vezes ao dia.
8. Pense duas vezes antes de cortar laticínios
Cerca de dois terços da população mundial desenvolve dificuldade em digerir lactose com o passar dos anos, pois a enzima lactase vai diminuindo. Sem lactase suficiente, a lactose chega ao intestino grosso, onde é fermentada pelas bactérias, gerando gases e inchaço.
Mesmo com esses sintomas, meu conselho é: Não corte os laticínios de vez.
Estudos mostram que a maioria das pessoas com intolerância à lactose tolera de 12 a 15 g por vez —cerca de um copo de leite. Isso é importante, pois os laticínios são uma das principais fontes de cálcio e vitamina D. Além disso, consumir pequenas quantidades de lactose regularmente pode ter um efeito prebiótico, ajudando o intestino a se adaptar e melhorar a tolerância.
Tente consumir laticínios em pequenas porções ao longo do dia e junto com outros alimentos. Ou opte por versões com pouca ou nenhuma lactose, como o iogurte grego, que tem cerca de metade da lactose do iogurte comum.
Você também pode tomar enzimas lactase cerca de 15 minutos antes de consumir alimentos com lactose. “Esses suplementos não funcionam para todo mundo, e os estudos ainda são limitados, mas é um experimento simples e seguro que vale a pena tentar.”