Página Inicial Saúde Psicodélicos: UFRN inova com DMT contra depressão – 22/04/2025 – Virada Psicodélica

Psicodélicos: UFRN inova com DMT contra depressão – 22/04/2025 – Virada Psicodélica

Publicado pela Redação

Artigo no periódico Neuropsychopharmacology desta terça-feira (22) confirma o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN) na liderança da pesquisa brasileira de tratamentos psicodélicos para depressão. O trabalho mostra o efeito antidepressivo da inalação de dimetiltriptamina (DMT) extraída da jurema-preta até três meses depois de aplicada.

Participaram 14 voluntários portadores de depressão resistente a tratamento, caracterizada pela ausência de melhora mesmo após o paciente tentar dois medicamentos antidepressivos. O benefício foi imediato: já no dia seguinte 11 deles exibiam diminuição significativa de sintomas, entre os quais dez em remissão, condição que perdurou para cinco deles três meses depois do experimento (quando oito ainda estavam melhores do que antes da intervenção).

O artigo sobre o estudo clínico de fase 2 tem como primeiros autores Marcelo Falchi-Carvalho e Fernanda Palhano-Fontes. O grupo liderado pelo neurocientista Dráulio de Araújo já havia publicado em 2018 um pioneiro experimento clínico com o chá amazônico ayahuasca para tratar depressão.

Em ensaios de fase 1 de 2024, a segurança da inalação de DMT pura tinha sido comprovada com 27 pessoas saudáveis, sem depressão. Na etapa piloto que precedeu a fase 1, fui voluntário do experimento, como narrado em 2022 em reportagem da série “A Ressurreição da Jurema”, que por sua vez daria origem ao livro “A Ciência Encantada de Jurema”, publicado neste mês pela Fósforo Editora.

A DMT da jurema-preta (Mimosa tenuiflora) é a mesma substância da ayahuasca cujo potencial antidepressivo fora comprovado no teste clínico controlado por placebo de 2018. O efeito do chá por via oral, no entanto, dura de 4 a 6 horas, além de provocar vômitos e diarreia, o que torna problemática sua adoção na clínica. Outros estudos com DMT recorrem a injeções.

“O pioneirismo do nosso estudo reside na utilização de uma rota não invasiva, a via inalatória, para a administração de DMT em pacientes com depressão resistente, algo até então inédito na literatura científica”, diz o psiquiatra Marcelo Falchi-Carvalho. “Essa via permite absorção rápida e menor complexidade operacional.”

O protocolo criado no ICe-UFRN consiste em duas inalações separadas por 1h30. A primeira dose é baixa, 15 miligramas, quando o paciente tem a oportunidade de conhecer de forma menos intensa a alteração de consciência pela DMT. Depois recebe 60 mg, que desencadeiam viagem mais profunda, mas também curta, de 10 a 20 minutos.

Com isso, o grupo pretende chegar a um tratamento aplicável em serviços do SUS, por exemplo, onde já se usa o anestésico dissociativo cetamina para enfrentar a depressão resistente. São alternativas para tratar pacientes refratários, um terço a metade de deprimidos que não melhoram com antidepressivos disponíveis, muitos deles com ideações suicidas.

O plano agora é partir para estudos de fase 3, com várias dezenas de pacientes, requisito para iniciar a regulamentação de um medicamento. “Ainda não sabemos quando o estudo fase 3 acontecerá, quem sabe em 2026”, diz Dráulio de Araújo. “Embora os resultados deste novo estudo sejam preliminares, eles também são notáveis. Além disso, o protocolo que montamos parece seguro e eficaz. Precisamos refletir bem sobre como avançar de forma ágil e justa.”

Outros psicodélicos como a psilocibina de cogumelos “mágicos” são estudados para depressão, já em fase 3, na Europa e nos EUA. Mas ela precisa passar pelo trato gastrointestinal para fazer efeito, e a única via em teste é a oral, informa Fernanda Palhano-Fontes. “Acredito que os resultados encontrados até agora são semelhantes para a DMT e a psilocibina. A psilocibina se assemelha mais à ayahuasca pelo tempo de efeito.”

O estudo da UFRN adota um modelo de psiquiatria de intervenção, com suporte psicológico e acompanhamento médico, o que o difere dos modelos hegemônicos de psicoterapia apoiada por psicodélicos, como nos ensaios com MDMA (ecstasy) para transtorno de estresse pós-traumático. Esta que era a grande promessa de terapia psicodélica foi rejeitada em agosto pela FDA, agência de fármacos dos EUA.


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