O Ministério da Saúde informou às secretarias de estados e municípios sobre a possibilidade de “interrupção pontual” na distribuição da vacina da Covid durante as próximas semanas.
A pasta do governo Lula (PT) afirma que o atraso nas entregas se dá pela troca de fornecedor das doses destinadas ao público acima de 12 anos.
O município do Rio de Janeiro interrompeu a vacinação da Covid por falta de imunizantes. A orientação da secretaria local é que a população mantenha a caderneta de vacinação em dia com as outras vacinas disponíveis nas unidades da rede pública.
A nota técnica da Saúde, divulgada no último dia 22, mencionava falta de doses “nas próximas três semanas”. Procurado pela reportagem, o ministério disse na segunda-feira (28) que um primeiro lote de cerca de 1,3 milhão de doses deve chegar ao Brasil em maio, sem especificar a data.
“Essa primeira carga será distribuída aos estados e municípios logo após a conclusão das análises de controle de qualidade”, diz a pasta. No total, o ministério diz que receberá 7,4 milhões de vacinas da Covid durante o próximo mês.
A entrega de doses ao público pediátrico está regular, segundo o ministério.
O Ministério da Saúde assinou, no ano passado, contrato para a compra da vacina Covovax, fabricada no Instituto Serum, da Índia, e vendida no Brasil pela farmacêutica Zalika. A empresa entregou até janeiro cerca de 3 milhões de doses voltadas ao público maior de 12 anos.
Para as entregas seguintes, o ministério cobrou a atualização do modelo da vacina para atacar a cepa JN.1 —antes, a Zalika entregou a dose adaptada à variante XBB.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), porém, negou o pedido de atualização da vacina vendida pela Zalika. “Os dados não confirmaram que a vacina atualizada com composição da linhagem JN.1 é estável por 9 meses, quando armazenada nas condições recomendadas de 2°C a 8°C”, disse a Anvisa, em nota.
O Ministério da Saúde, então, reabriu o processo de compra das doses para trocar de fornecedor e contratou a Pfizer.
Agora, o laboratório será responsável pela entrega de todas as doses da Covid ao SUS (Sistema Único de Saúde), pois já havia assinado o contrato pela vacina destinada ao público menor de 12 anos.
A postura negacionista e o desdém de Jair Bolsonaro (PL) pela pandemia foram temas da campanha de Lula em 2022, mas o Ministério da Saúde ainda patina para organizar a imunização da Covid e evitar a perda de doses. Diversos estados ficaram sem vacinas da Covid em setembro, especialmente do modelo destinado aos menores de 12 anos.
A Folha ainda revelou que o governo Lula desperdiçou ao menos 80% de um lote de 10 milhões de vacinas Coronavac compradas tardiamente em 2023. O prejuízo superou R$ 260 milhões.
“Em março de 2025, a empresa inicialmente contratada para fornecer as vacinas para maiores de 12 anos descumpriu o contrato ao não atender à exigência de disponibilizar o imunizante com a cepa mais atualizada em circulação”, disse o ministério.
“Em abril, o Ministério da Saúde assinou um novo contrato com a empresa classificada em segundo lugar no pregão de 2024”, afirmou ainda a pasta à Folha.
A imunização contra a Covid-19 está atualmente recomendada no Calendário Nacional de Vacinação para crianças de 6 meses a menores de 5 anos, de forma rotineira; para pessoas dos grupos prioritários a partir de 5 anos; e para a população geral da mesma faixa etária, desde que não tenham recebido nenhuma dose anterior da vacina.
No começo do ano, o Ministério da Saúde também atualizou a estratégia de vacinação, incluindo gestantes e idosos com 60 anos ou mais. As gestantes devem receber uma dose por gestação, enquanto os idosos serão imunizados com uma dose a cada seis meses.
“O contrato com o novo laboratório fornecedor (Pfizer) foi assinado no dia 14 de abril de 2025, e neste momento, estão em curso os procedimentos logísticos de entrega. No entanto, considerando o estoque disponível no Ministério da Saúde e a data de entrega viável mais rápida, além dos trâmites legais e sanitários para recebimento e liberação de novos lotes, ainda assim poderá haver uma interrupção pontual da distribuição da vacina Covid-19 destinada à população acima de 12 anos em algumas localidades, nas próximas três semanas”, afirmou a Saúde, na nota enviada aos estados e municípios no último dia 22.
“A situação é temporária, e o Ministério está adotando todas as medidas necessárias para normalizar o abastecimento no menor tempo possível, de modo a assegurar a continuidade da vacinação em todo o território nacional”, disse ainda a pasta, no mesmo documento.