“Toda vez que acontece algo com Jesus eu engordo 5kg”, diz texto viral nas redes sociais. A publicação se refere às comidas típicas de datas como Natal, Páscoa ou a Sexta-feira Santa. Em uma era em que a magreza extrema voltou à tona, o pânico moral se espalhou como fogo.
A nutricionista Thelma Feltrin, do Conselho Regional de Nutrição da 3ª Região (CRN-3), explica que a comida tem um propósito além da alimentação. “O sentar à mesa e compartilhar as refeições com entes queridos fortalece os relacionamentos”, diz. “É natural e esperado que comamos mais nessas datas do que no dia a dia. São eventos esporádicos, não refletem o cotidiano e hábitos alimentares”.
E a celebração não precisa acontecer só no momento de se sentar à mesa. “Envolver-se na preparação de pratos e na montagem da mesa cria um sentido maior ao ato de comer”, diz Dulcinéa Aparecida Carvalho da Silva, diretora na Associação Paulista de Nutrição (APAN).
A demonização de alguns alimentos pode perpetuar estereótipos e causar “terrorismo alimentar”, levando à privação e causando culpa diante da alimentação, inclusive buscando alternativas que não suprem o desejo por um pedaço de chocolate, por exemplo. Diante deste cenário o CRN-3 lançou a campanha Nutrição Sem Estereótipos com o objetivo de promover a saúde e educação alimentar.
Thelma reitera que não há necessidade de adotar medidas extremas em relação à alimentação após comemorações. “Não existe suco ou dieta detox com fama de ‘limpar’ o organismo que funcione. O corpo tem mecanismos de desintoxicação, que envolvem principalmente o fígado”.
O peso corporal, medido na balança, pode variar de 1 a 2kg em um único dia. A nutricionista explica que depende de quanto líquido ingerimos, se o intestino funcionou, ou se, no caso de mulheres, estão no período pré-menstrual e mais propensas à retenção de líquido. “Aumento de peso não é sinônimo de aumento de gordura. Se em um fim de semana comemos mais que o normal e não nos movimentamos muito, o peso pode aumentar. Mas, isso não significa que a pessoa engordou”.
E não adianta entrar em uma dieta restritiva tentando “correr atrás do prejuízo”. A restrição pode gerar episódios de compulsão, além de desregular hormônios que controlam a fome e a saciedade. “O ideal é aderir a um padrão alimentar adequado, dentro das suas necessidades e orientado por nutricionistas, sem tomar medidas extremistas”, diz Thelma. “A monotonia e privação alimentar faz a pessoa ter mais vontade de comer o que a dieta não permite”.
Ou seja, a menos que você tenha alguma condição de saúde, como alergia ao glúten, intolerância à lactose, diabetes, hipertensão, entre outros, não há razão para evitar qualquer alimento. “As pessoas em dietas restritivas são vítimas de um sistema falho, afinal, ninguém consegue se privar por muito tempo e, principalmente, em ocasiões comemorativas”.
Dulcinéa reforça a importância de refletir o consumo antes dos períodos festivos, procurando manter refeições completas e diversas ao longo do dia.
Então, não precisa se culpar pela porção de bacalhau ou ovo de páscoa. “O recomendado é comermos de tudo, mas não é necessário comer demasiadamente. A comida deve ser nossa aliada para vivermos de forma saudável e não uma inimiga.”
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