Os novos medicamentos para perda de peso que suprimem o apetite e reduzem a vontade de comer podem ser bastante eficazes, com relatos de quem perdeu, pelo menos, 10% ou 20% do peso corporal enquanto fizeram uso dos fármacos.
Mas no mundo real, apesar da eficácia dos medicamentos, estudos mostram que metade dos usuários abandona o uso deles em um ano, devido ao custo, aos efeitos colaterais ou por outros motivos.
Depois disso, os quilos quase invariavelmente retornam e, tão preocupante quanto, o peso que as pessoas recuperam tende a ser exclusivamente de gordura, com pouca massa muscular. O resultado é que elas costumam ser metabolicamente menos saudáveis do que antes de começarem a tomar os medicamentos.
Mas um novo estudo, importante e de longo prazo com pessoas que usaram e depois pararam de tomar um dos fármacos para perda de peso, sugere que pode haver uma maneira simples e acessível de evitar o ganho de peso prejudicial à saúde após parar de tomar os medicamentos: exercícios.
No estudo, pessoas que se exercitaram enquanto usavam um medicamento para emagrecimento mantiveram uma quantidade muito maior de peso após interromper o uso do remédio do que pessoas que não se exercitaram, e mantiveram mais músculos.
Signe Sørensen Torekov, professora de ciências biomédicas na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e autora sênior do novo estudo, afirma que os resultados indicam fortemente que as pessoas que usam os medicamentos podem conseguir “manter um peso saudável”, mesmo depois de interromperem o uso. “Mas elas precisam se exercitar.”
A maioria dos especialistas em obesidade concorda que o Santo Graal do emagrecimento saudável e a longo prazo é a manutenção. Perder peso é possível para muitas pessoas a curto prazo, mas manter o peso perdido pode parecer quase impossível.
A nova classe de medicamentos GLP-1 para diabetes ou perda de peso, com marcas como Ozempic, Wegovy, Zepbound e Mounjaro, parece estar intensificando essa dinâmica. GLP-1 é a abreviação de agonista do peptídeo semelhante ao glucagon 1; esses medicamentos imitam os efeitos da substância GLP-1.
A maioria das pessoas perde peso substancial rapidamente com esses remédios. Mas, se pararem de tomá-los, os quilos retornam quase na mesma velocidade.
Mas essa recuperação é inevitável?
Torekov e seus colegas planejaram um esforço multifacetado e de vários anos para descobrir.
Tudo começou com 195 adultos dinamarqueses com obesidade, mas sem outras doenças graves. Eles foram submetidos a uma dieta extremamente hipocalórica, sob a supervisão dos cientistas, para perder rapidamente cerca de 13 quilos. Como se tratava de um estudo de manutenção do peso, os cientistas queriam que eles perdessem rapidamente e, em seguida, passassem para a fase de manutenção.
Nessa fase, os pesquisadores designaram alguns voluntários para começar a tomar Saxenda, conhecido genericamente como liraglutida, um dos primeiros medicamentos GLP-1, para verificar se o medicamento os ajudaria a manter e até mesmo aumentar a perda de peso resultante da dieta. O fármaco é fabricado pela Novo Nordisk, empresa responsável também pelo Ozempic, de diabetes, e o Wegovy, para a perda de peso.
(O estudo foi financiado em parte pela Fundação Novo Nordisk, uma organização de caridade afiliada a fabricante do Saxenda. A própria empresa farmacêutica não teve nenhuma supervisão do estudo ou de seus resultados, segundo um porta-voz da empresa.)
Um grupo separado de voluntários iniciou o mesmo medicamento, mas também um programa de exercícios supervisionado, com aulas de spinning em grupo, duas vezes por semana, com duração de meia hora, e 15 minutos de treinamento de resistência de alta intensidade para o corpo inteiro, além de duas corridas em casa ou treinos semelhantes. Os exercícios eram, em sua maioria, vigorosos, ou seja, extenuantes o suficiente para que as pessoas mal conseguissem falar enquanto se exercitavam.
Um grupo de controle não se exercitou e recebeu um placebo, em vez de liraglutida. (Embora a bula do Saxenda indique que ele deva ser usado em conjunto com uma dieta hipocalórica e aumento da atividade física, essa recomendação é frequentemente ignorada.)
Depois de um ano, quase todos que tomaram o medicamento mantiveram o peso baixo ou perderam mais quilos.
No entanto, aqueles que combinaram o medicamento e o exercício foram os que mais perderam. Foram cerca de 3 quilos a mais do que aqueles que tomaram apenas o medicamento —nesse caso, a maior parte do peso era constituída de gordura, em vez de músculo.
O que aconteceu quando pararam de tomar a droga
Os pesquisadores publicaram esses resultados em 2021 no New England Journal of Medicine. Então, deram início ao aspecto mais revelador do estudo. Suspenderam os medicamentos e as sessões de atividades para todos, deixando que as pessoas mantivessem —ou recuperassem— a perda de peso completamente por conta própria.
Após um ano, os pesquisadores convidaram todos os voluntários de volta ao laboratório. Destes, 109% retornaram e tiveram o peso corporal, a composição corporal e os hábitos de exercícios atuais verificados.
Para alguns, o ano foi desanimador. Aqueles que haviam tomado o medicamento para perda de peso sem exercícios recuperaram cerca de 70% ou mais de todo o peso perdido desde o início do estudo. A maior parte desses quilos recuperados era na forma de gordura, não de músculo, então eles acabaram com porcentagens de gordura corporal relativamente maiores do que antes de começar a tomar o medicamento.
“Eles ganharam peso de uma maneira pouco saudável”, segundo Torekov.
Mas aqueles que se exercitaram enquanto tomavam o medicamento mantiveram uma perda de peso consideravelmente maior durante essa fase. Muitos permaneceram pelo menos 10% mais magros do que no início do estudo, e pelo menos parte do peso que recuperaram foi músculo, deixando-os com uma composição corporal mais saudável do que os outros grupos.
Exercitando-se apenas duas horas por semana
É fácil entender por que os praticantes de exercícios ganharam menos quilos após interromper o uso do medicamento, diz Torekov. “Eles continuaram se exercitando”, mesmo sem supervisão ou incentivo dos cientistas. De acordo com questionários e rastreadores de atividade, eles geralmente continuavam a se exercitar por várias horas por semana, voluntariamente.
Essas descobertas sugerem que “cerca de duas horas por semana de exercícios vigorosos” pode ser uma boa meta para evitar o ganho de peso após interromper o uso de medicamentos para emagrecer, continuou ela. Combinar exercícios aeróbicos e de resistência é provavelmente a melhor opção.
Enquanto isso, aqueles que tomaram o medicamento sem fazer exercícios estavam quase completamente sedentários, fazendo uma média de menos de 30 minutos de exercícios por semana.
“Mais pessoas que não se exercitaram enquanto estavam medicadas reclamaram de fadiga” durante o tratamento e depois, segundo Torekov, o que pode ter contribuído para sua inatividade agora.
No geral, os resultados demonstram fortemente “a importância de adicionar exercícios a um regime que inclua um fármaco GLP-1”, afirma Daniel Drucker, especialista em diabetes e pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Lunenfeld-Tanenbaum, em Toronto, no Canadá, cuja pesquisa ajudou a abrir caminho para os medicamentos do tipo. Ele não participou do novo estudo.
“Os resultados são muito encorajadores”, concorda Robert Kushner, endocrinologista e professor da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, especializado em perda de peso. “Mas estudos adicionais precisarão ser realizados para verificar se uma rotina de exercícios menos intensa” tem efeitos semelhantes na manutenção do peso quando as pessoas interrompem o uso de um medicamento GLP-1.
O estudo tem outras limitações. Utilizou liraglutida, que não é tão potente quanto os medicamentos mais recentes contra a obesidade. Mas “eu esperaria que os resultados fossem direcionalmente semelhantes com os medicamentos GLP-1 mais recentes”, afirma Drucker.
A pesquisa também envolveu dinamarqueses relativamente saudáveis, que podem não ser típicos de outras pessoas que buscam perder peso. E a rotina de exercícios do estudo não era apenas vigorosa, o que pode ser desafiador. Também era gratuita e supervisionada de perto durante o primeiro ano, um luxo inacessível a muitos de nós.
Ainda assim, por enquanto, o estudo nos diz que para evitar o ganho de peso e manter a massa muscular durante e após o tratamento com um medicamento contra obesidade, “é muito importante ter um programa de exercícios”, completa Torekov.