Página Inicial Saúde Aulas de capoeira ajudam pacientes com Parkinson no RJ – 20/05/2025 – Equilíbrio e Saúde

Aulas de capoeira ajudam pacientes com Parkinson no RJ – 20/05/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

A combinação entre ginga, musicalidade e fisioterapia virou método de reabilitação para idosos com Parkinson no bairro da Lapa, no centro do Rio de Janeiro. O projeto Parkinson na Ginga, idealizado pela fisioterapeuta Rosimeire Peixoto, 60, une os fundamentos da capoeira a protocolos clínicos de cuidado motor e cognitivo.

O trabalho ocorre de forma social e os participantes pagam um valor fixo para manter o espaço onde ocorrem as aulas. Caso a pessoa não possa pagar por determinado valor, ele é atendido e acolhido da mesma forma.

A proposta nasceu da experiência com pacientes neurológicos e da paixão adquirida pela capoeira, esporte que ela pratica há 17 anos. Inquieta com os limites dos métodos tradicionais, decidiu usar a dança como ferramenta terapêutica. “A capoeira é multifatorial. Além da parte motora, ela também melhora a depressão, ansiedade, o sono e outras alterações não motoras”, afirma.

A doença neurodegenerativa afeta principalmente pessoas acima dos 60 anos e compromete progressivamente o sistema motor. Mas, segundo Peixoto, os sintomas começam até dez anos antes do diagnóstico, período marcado por alterações não motoras, como distúrbios do sono, ansiedade e depressão.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quatro milhões de pessoas no mundo convivem com a condição. No Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham o diagnóstico.

Além do impacto físico, o Parkinson afeta a vida social e emocional dos pacientes. Ronaldo Maurício de Freitas, 54, diz que sentia vergonha de ter a condição. Ele recebeu o diagnóstico da doença há dez anos e não falava abertamente sobre o problema com os amigos do bairro. A condição o afastou do trabalho e fez com que ele ficasse mais em casa, já que antes atuava como promotor de vendas.

Depois que iniciou as aulas, seis anos atrás, sentiu uma melhora no equilíbrio e ganhou mais autonomia. “Antes minhas pernas travavam e eu tinha dificuldade para dormir. Agora já vou para a aula sozinho e gosto bastante. Voltei a digitar no celular também”, diz. “Até banho e outras atividades faço sozinho”, complementa o aposentado que mora na Ilha do Governador.

No projeto, os alunos são avaliados com escalas clínicas que indicam o grau de progressão da doença. A partir disso, a fisioterapeuta prescreve exercícios adaptados com base nos movimentos da capoeira, respeitando as limitações e potencialidades de cada integrante. “Alguns têm mais instabilidade postural, outros apresentam rigidez no tronco. Por isso, monto protocolos que envolvem rotação, equilíbrio, cama elástica e até obstáculos, para que consigam melhorar a marcha e a coordenação”, explica a coordenadora do projeto.

A “ginga” serve como base da metodologia, mas o trabalho vai além da movimentação. “Eles treinam dupla tarefa, respondem ao coro da música enquanto se movimentam. Isso melhora a memória, atenção, tempo de reação e até a postura. Muitos chegam curvados e, em poucos meses, já se corrigem naturalmente.”

As aulas também são espaço para desenvolver autonomia e confiança. “Eles fazem sozinhos, em duplas, sem que ninguém precise segurar. Isso gera autoestima e melhora funcional visível.”

A professora aposentada Nilma Teles, 80, é uma das frequentadoras do projeto há mais de seis anos e conta que a prática mudou a sua rotina. Ela recebeu o diagnóstico aos 69 anos e não lidava bem com os efeitos do Parkinson. “Hoje foi o melhor que aconteceu em minha vida. Sentia insegurança em socializar e, principalmente, em diferentes grupos. Atualmente, consigo assumir a doença sem medo e sem preconceito”, conta.

Além do convívio social, as mudanças físicas foram perceptíveis, segundo a aposentada. “Eu caía sempre e vivia com os braços engessados. Hoje tenho mais equilíbrio, consigo me manter caminhando e não caio mais”, diz.

Embora a maior parte dos participantes tenha mais de 60 anos, a idealizadora do projeto também recebe casos precoces, de pessoas na faixa dos 40. Segundo ela, o principal desafio dos mais jovens é a aceitação do diagnóstico. “Acho que é a parte mais difícil”, reforça.

Ela destaca ainda que, além do cuidado físico, o projeto proporciona apoio emocional e social. O Parkinson na Ginga é um esforço coletivo. A fisioterapeuta conta com o apoio da própria família e de colegas da capoeira para manter o projeto funcionando. Segundo ela, o maior desafio atualmente é ter apoio na divulgação do projeto, tanto de forma pública quanto privada. A ideia é levar a prática para mais estados e até para fora do Brasil.

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