Homens são mais altos que mulheres e possuem uma diferença média de cerca de 13 centímetros. Mas por quê? Não é uma inevitabilidade genética —existem muitas espécies de animais em que as fêmeas superam os machos quando o quesito é altura.
Um novo estudo, publicado na segunda-feira (19) no PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), importante publicação científica norte-americana, que envolveu dados genéticos de um milhão de pessoas, encontrou uma possível explicação.
O gene chamado SHOX, conhecido por estar associado à altura, está presente tanto no cromossomo X (as mulheres têm dois cromossomos X) quanto no cromossomo Y (presente apenas nos homens, que possuem um Y e um X).
Os pesquisadores suspeitavam que o SHOX poderia explicar as diferenças de altura entre homens e mulheres, mas havia um problema com essa hipótese. Como o gene está presente em ambos os cromossomos X e Y, precisaria ter um efeito diferente em cada cromossomo.
Para investigar a hipótese, os responsáveis pelo estudo questionaram se um cromossomo Y extra aumentava mais a altura de uma pessoa do que um cromossomo X extra.
Existem condições raras em que pessoas nascem com um X ou Y extra, ou têm um X ou Y ausente. Para encontrar quem tinha essas condições, os pesquisadores exploraram dados de três biobancos, ou repositórios de dados genéticos, e médicos não-identificados desses indivíduos. Foram utilizadas informações de um biobanco da Grã-Bretanha e de outros dois dos Estados Unidos.
Com dados de quase um milhão de indivíduos nos biobancos, o grupo conseguiu encontrar 1.225 pessoas com cromossomos X ou Y extras ou ausentes. Algumas dessas condições, como em pessoas com um X e nenhum Y, já eram conhecidas por estarem associadas a problemas de saúde —como, neste caso, a baixa estatura.
O estudo apontou que um cromossomo Y extra proporcionava mais altura do que um X adicional, confirmando a hipótese que relacionava a baixa estatura à mulheres. E a bioquímica do gene SHOX pode ser a razão.
Pesquisador de genética do Geisinger College of Health Sciences, na Pensilvânia, e autor sênior do estudo, Matthew Oetjens explica que a localização do gene relacionado a altura está próxima ao final dos cromossomos sexuais. Nas mulheres, a maioria dos genes em um dos dois X é silenciada, ou inativa. Mas uma região onde os genes permanecem ativos é na ponta do X, ou seja, o SHOX está próximo o suficiente da ponta para não ser completamente silenciado.
Nos homens, o X, com seu SHOX, está totalmente ativo, assim como o Y.
Isso significa que uma mulher, com seus dois cromossomos X, tem uma dose ligeiramente menor do gene SHOX do que um homem, com um X e um Y.
Como resultado, os homens obtêm um efeito ligeiramente maior do gene SHOX. Isso, segundo os pesquisadores, representa quase um quarto da diferença média de altura entre homens e mulheres.
Oetjens afirma ainda que outras características dos hormônios sexuais masculinos explicam a maior parte do restante da diferença, e acredita-se que outros fatores genéticos também desempenhem um papel importante.
O trabalho é “definitivamente interessante”, afirma Eric Schadt, professor do departamento de genética e ciência genômica da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York.
“É um ótimo uso desses biobancos para descobrir o que ainda é um pouco misterioso”, diz. “Mesmo que o efeito seja modesto, explica cerca de 20% da diferença de altura.”