Dylan Sjolie diz que era muito “certinho” para participar da onda de vape em seu ensino médio.
Quando experimentou Zyn —pastilhas de nicotina— aos 19 anos, durante seu primeiro semestre na faculdade, parecia que todos que ele via carregavam um recipiente do tamanho de um disco de hóquei dessas pastilhas de nicotina calcárias: atletas, comediantes, seu colega de quarto. Calouros trocavam dicas sobre onde comprar as pastilhas, que legalmente só podem ser adquiridas por maiores de 21 anos, sem precisar de identificação.
“Eu ando pelo campus e vejo as pequenas pastilhas de Zyn por toda parte, cuspe na calçada e na grama”, diz Sjolie, agora com 21 anos, que é de Maryland. “Eu conversava com as pessoas, e elas sorriam e eu via aquilo no lábio superior delas.”
No início de seu segundo ano, ele mantinha um Zyn na boca em todos os momentos em que estava acordado, exceto quando tomava banho, comia ou escovava os dentes. Logo, a agradável sensação de euforia deu lugar à dependência. Seu coração acelerava, e ele tinha ansiedade e problemas para dormir que, segundo ele, não existiam antes do hábito da nicotina.
Uma busca desesperada no Google em um domingo de Super Bowl o levou ao fórum do Reddit chamado QuittingZyn (Parando de usar Zyn, em português), um ponto de encontro online para pessoas que estão tentando abandonar o Zyn e outras pastilhas de nicotina. Seus membros orientam uns aos outros durante o processo de desmame de uma substância viciante. Mas eles também estão se ajudando a abandonar algo mais do que isso.
Em uma era de valorização da estética e influenciadores mais musculosos do que nunca, colocar uma pastilha no lábio pode parecer uma maneira de baixo esforço para se encaixar entre os caras. Deixar esse clube pode ser solitário, de acordo com conversas com meia dúzia de homens em vários estágios de abandono do Zyn. Então, muitos deles recorreram a um clube semelhante. Também é bastante masculino —mas o objetivo é parar.
Os membros do grupo do Reddit, que chegou a 10 mil pessoas no mês passado, escrevem uns aos outros com um tipo de camaradagem musculosa que faz parecer que estão prestes a explodir de uma roda de aquecimento pré-jogo e avançar para o campo enlameado da cessação da nicotina.
“Vamos nessa, irmão”, escreve um para animar um recém-desistente.
“Continue arrasando”, diz outro, adicionando um emoji de bíceps flexionado.
Outro: “Mantenha o nariz na pedra de amolar e longe dos Zyns.”
Quando encontrou o grupo pela primeira vez, Sjolie passou por parágrafo após parágrafo que o lembravam de sua própria experiência.
Ele conhecia aqueles problemas estomacais. Tinha lidado com aquela insônia. Finalmente criou coragem para postar sua própria mensagem declarando que também queria acabar com as pastilhas.
As mensagens começaram a chegar.
Uma luta silenciosa
O usuário de Zyn contém diferentes facetas, o que pode ser parte do motivo pelo qual o produto cresceu tão rapidamente: as vendas aumentaram cerca de 50% nos Estados Unidos no ano passado, chegando a 581 milhões de latas, de acordo com uma recente teleconferência de resultados da proprietária da marca, Philip Morris International. Cerca de 75% de seus clientes nos Estados Unidos são homens, segundo a empresa.
James McHugh, um operador da bolsa em Phoenixville, Pensilvânia, diz que o Zyn estava incorporado na cultura de trabalho intenso de seu local de trabalho. Latas estavam enfiadas em lixeiras nos banheiros de seu escritório, e as pessoas nunca falavam sobre tentar parar, conta, como se fazer isso pudesse ser visto como fraqueza ou constrangimento.
“É uma espécie de luta silenciosa para um indivíduo parar”, diz McHugh, 36.
“Pelo menos entre os homens, de alguma forma essa é uma forma de masculinidade em que você assume algum tipo de identidade pelo fato de ser um usuário de nicotina“, acrescenta. “Ainda tem a capacidade de influenciar, como nos dias do Homem Marlboro.”
McHugh criou o QuittingZyn, o grupo do Reddit, em 2021 após sua primeira tentativa fracassada de abandonar o Zyn, se espelhando em um fórum semelhante do Reddit para parar de usar cigarros eletrônicos. Na época, disse ele, estava gastando mais de US$ 3.500 (R$ 19.940) por ano nas pastilhas.
Ele espera que o grupo ajude os jovens a perceber que nem todo mundo está feliz consumindo as pastilhas.
“Eles eventualmente verão os ícones culturais da nicotina como os palhaços que são”, diz ele.
O Zyn foi introduzido no mercado americano em 2014 e adquirido pelo gigante do tabaco Philip Morris International em 2022, justamente quando as vendas das pastilhas começaram a disparar. A empresa investiu US$ 600 milhões (R$ 3,4 bilhões) em uma nova instalação de fabricação para o Zyn no Colorado.
As pastilhas são colocadas como uma alternativa de menor risco ao tabagismo, que deve ser adquirida apenas por pessoas com mais de 21 anos que já usam nicotina. “Sua melhor opção é nunca começar, sua segunda melhor opção é a cessação completa, e sua terceira é mudar” para um produto sem fumaça como uma pastilha de nicotina, diz Brian Erkkila, o conselheiro sênior de engajamento científico da Swedish Match, a subsidiária da Philip Morris International que produz o Zyn.
Os efeitos de longo prazo das pastilhas de nicotina na saúde ainda não estão claros: os médicos acreditam que são mais seguras que o tabagismo, mas alertam que podem aumentar o risco cardiovascular e deteriorar o tecido gengival. E especialistas médicos e legisladores se preocupam com o potencial dos produtos de viciar pessoas como Sjolie: adolescentes que nunca antes experimentaram um produto com nicotina.
A importância do apoio
O anonimato do Reddit pode torná-lo um terreno fértil para sarcasmo e bullying —mas também pode permitir vulnerabilidade. Em entrevistas, vários membros do grupo disseram que também recorreram à rede para obter apoio social que tinha sido mais difícil de encontrar offline.
Ty Robertson, 25, que trabalha em vendas para uma empresa de encanamento em San Antonio, pegou o hábito de usar Zyn junto com seus colegas de equipe de beisebol do ensino médio e da faculdade, onde as pastilhas eram “super, super, super comuns”. Primeiro ele colocava uma pastilha a cada poucas horas. Depois passou a ser uma lata de 15 pastilhas por dia. Depois se tornou duas pastilhas de cada vez.
Robertson foi ao pronto-socorro no ano passado com dor no peito e dificuldade para respirar. Ele pensou que estava tendo um ataque cardíaco. O médico que o atendeu disse que era mais provável que estivesse tendo um ataque de ansiedade e aconselhou-o a diminuir a nicotina, um estimulante.
“Eu coloquei um Zyn enquanto ele dizia isso”, diz Robertson. “Eu pensei: ‘Legal, não me importo’.”
Ele não foi persuadido a parar até mais tarde naquela noite, quando se deparou com uma postagem no grupo do Reddit de outro usuário pesado de Zyn que descrevia sintomas semelhantes. Ele entrou em contato com a pessoa, e os dois começaram a conversar, conta Robertson, que agora está há três meses sem Zyn.
A postagem havia sido escrita por Don Hood, 41, um dos três moderadores voluntários que McHugh recrutou no último ano. Hood passa horas por semana, além de seu trabalho como administrador de propriedades na Carolina do Norte, verificando estranhos do grupo via mensagens diretas, mensagens de texto e às vezes ligações telefônicas.
Hood disse que assumiu um papel paterno com os muitos homens na casa dos 20 anos do grupo.
“Eu dou um pouco de bronca nos mais jovens, e um pouco de amor duro”, diz Hood, que abandonou o Zyn há cerca de um ano. Na vida real, acrescenta, “você não fica sentado falando sobre seus problemas com outros caras, especialmente com algo que todos os outros estão usando.”
A vida após o Zyn
Não importa quantas mensagens de apoio troquem com outros usuários anônimos do Reddit, aqueles que abandonam o Zyn ainda precisam navegar por um território mais traiçoeiro onde não podem se esconder atrás de um nome de usuário: a vida real.
Devon Verro, 26, uma otometrista em Denver, está lidando com o fato de que, embora tenha abandonado o Zyn, a maioria dos membros de sua família continua viciada em nicotina. Quando ela visitou seu pai no mês passado, ele fez um esforço “doce”, mas não totalmente bem-sucedido, para esconder seus Zyns e cigarros antes de ela chegar.
“Sempre que ele ia pegar alguma coisa, dizia ‘Dev, olhe para o outro lado'”, diz.
Verro notou que está na aparente minoria de mulheres que usam Zyn. “Garotas usam vape, e caras usam Zyn”, conta. Mas a energia machista de seus irmãos de guerra do grupo do Reddit não a incomodou, diz: “Eles estão falando comigo como se eu fosse um ser humano, não como se eu fosse um problema.”
Para Sjolie, as coisas ficaram mais fáceis com o tempo. Em uma conversa por telefone no mês passado, quase um ano depois de termos entrado em contato pela primeira vez, ele parecia mais leve. Ele mal pensava no Zyn, fala. Estava dormindo muito melhor.
Enquanto conversávamos, ele abriu o aplicativo do Reddit em seu telefone e viu que tinha seis notificações de membros do grupo QuittingZyn. Uma pessoa perguntou se sua ansiedade havia diminuído. Outro, um ex-fumante, escreveu que a abstinência do Zyn foi a coisa mais difícil que ele já teve que enfrentar.
Sjolie percebeu que fazia alguns meses desde que verificara o grupo. “Provavelmente vou responder a essas mais tarde”, diz.