Jenny O’Hara inicialmente se cadastrou em um aplicativo de namoro para aumentar sua confiança. Recém-saída de um casamento de 20 anos, a moradora de Neptune Township, Nova Jersey, não acreditava que um homem a acharia atraente novamente. Uma amiga sugeriu que ela tentasse encontros online, então ela criou um perfil no Facebook.
“Eu procurava pessoas que me dissessem: ‘Você está bem. Mesmo tendo acabado de se divorciar, você ainda é comercializável’”, disse ela, acrescentando que recebeu atenção de homens online. “E isso me fez sentir melhor —não por muito tempo, mas por um tempo.”
Mas quando alguns homens lhe pediram fotos picantes, ela recuou. “Você nunca diria algo assim para alguém se estivesse sentado em um bar com essa pessoa”, observa.
O’Hara está entre os cerca de 95,6 milhões de pessoas com 18 anos ou mais que usaram sites ou aplicativos de namoro, de acordo com a empresa de pesquisa SSRS. E ela não é a única a ver seu humor piorar com o tempo que passava online.
“Minha experiência com pacientes que usam aplicativos de namoro é que isso leva à fadiga, que as pessoas simplesmente ficam exaustas”, afirma Paul Hokemeyer, terapeuta conjugal e familiar licenciado em Telluride, Colorado. “Consome muita energia. Consome muito tempo. Consome muitas emoções. E há um enorme potencial de rejeição.”
Comportamento viciante
Em 2022, 3 em cada 10 adultos nos EUA disseram ter usado um site ou aplicativo de namoro, com cerca de 9% relatando ter usado um no ano anterior, de acordo com pesquisas realizadas pelo Pew Research Center.
De acordo com a SSRS, o Tinder é o aplicativo de namoro mais popular do país. (O Pew Research Center relata que cerca de 14% de todos os adultos nos EUA afirmam já tê-lo usado.) Embora o Tinder também tenha sido o mais popular entre pessoas de 18 a 49 anos, o Match foi o aplicativo preferido entre pessoas com 50 anos ou mais, segundo a SSRS.
Mas popularidade não se resume apenas a experiências positivas, e alguns especialistas afirmam que o namoro online pode gerar riscos à saúde mental.
Por um lado, os usuários podem se tornar viciados em aplicativos e na descarga de dopamina que sentem quando alguém em quem estão interessados responde, diz Hokemeyer. A objetificação também acontece, pois as pessoas se concentram mais na aparência do que na substância, acrescentou.
“Eles se reduzem a transações, e para pacientes que sofrem de transtornos mentais, que são basicamente todos que atendo, quanto mais profundo o nível de depressão, mais profundo o nível de ansiedade, mais profundo o nível de engajamento com esses aplicativos”, disse ele.
Há também um tipo de rolagem do apocalipse que acontece com aplicativos de namoro, não muito diferente da maneira como as pessoas rolam as manchetes no celular, passando por notícias ruins.
“As pessoas estão constantemente em busca de validação e uma descarga de dopamina e serotonina que não acontece, e se acontece, é passageira e as faz querer voltar para mais”, afirma. “Isso não melhora o bem-estar delas, como estar presente em suas vidas, buscando elevação interior, conectando-se com seres humanos em tempo real.”
Prós e contras
O namoro online pode fazer as pessoas se sentirem pouco atraentes ou indignas, principalmente quando os aplicativos envolvem deslizar o dedo ou expressar atração mútua para entrar em contato com alguém, diz Racine Henry, terapeuta familiar e matrimonial licenciada que atende clientes virtualmente em Nova York, Nova Jersey e Carolina do Norte. Os aplicativos podem ser particularmente negativos para os jovens, que ainda não têm o desenvolvimento emocional para contextualizar essa rejeição, disse ela.
“Aplicativos como esse podem realmente fazer as pessoas se sentirem feias e indesejadas”, diz Henry. “Eu realmente acredito que a autoestima, a autoconfiança e até mesmo a identidade própria precisam estar em níveis saudáveis antes de usar esses aplicativos e que as pessoas não devem dar muita importância ao que uma pessoa que está avaliando você a partir de algumas fotos e algumas linhas na tela pode pensar ou sentir sobre você.”
Dito isso, há vantagens nesses aplicativos. Eles podem beneficiar pessoas introvertidas, que têm certas fobias ou que talvez tenham passado por traumas amorosos ou sexuais que as tornaram relutantes em conhecer pessoas em ambientes da vida real, como bares, disse ela.
“Os aplicativos são uma boa maneira de conhecer pessoas em um ambiente seguro, dedicar um tempo para conhecê-las e controlar melhor o acesso dessa pessoa a elas”, diz Henry.
A chave é encontrar alguém com objetivos em comum. Se duas pessoas começam a conversar e uma está em busca de amor, enquanto a outra simplesmente quer uma interação sexual, isso não só pode resultar em uma experiência negativa para ambas, como também pode afetar a segurança de uma das partes. Cada pessoa deve articular claramente o que busca, observa.
Tudo se resume a expectativas, diz Nicole Karwashan, terapeuta familiar e conjugal licenciada em White Plains, Nova York, que conheceu seu atual noivo online.
“Quando alguém acessa um aplicativo de namoro com a expectativa de buscar validação externa ou encontrar o amor da sua vida, eu realmente acho que isso pode ser um erro.”