“Mais um Dia dos Namorados solteiro e triste.” Este tipo de pensamento e de conversa, seja entre homens ou entre mulheres, já é antigo. Com as redes sociais, ele só se intensifica. No dia 12 de junho, flores, chocolates, ursinhos, beijos e abraços se multiplicam nos stories do Instagram.
Nas semanas que antecedem o fatídico dia, restaurantes anunciam cardápios especiais, cinemas exibem filmes românticos e cantores programam shows com repertório amoroso. Enquanto casais correm para fazer suas reservas, solteiros já antecipam o sofrimento.
Entender o motivo pelo qual ficamos tristes no Dia dos Namorados, mesmo que não estando em busca de um relacionamento, pode ajudar a interromper o ciclo. Além disso, fazer programações diferentes, seja sozinho ou com amigos, também muda o significado da data.
Significado biológico
Sim, os seres humanos são biologicamente programados para se sentirem sozinhos e tristes no Dia dos Namorados quando não estão em um relacionamento. Larissa Fonseca, psicóloga clínica e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), explica que somos programados para buscar pertencimento e nos sentimos frustrados quando não o encontramos.
“Mesmo quem não está buscando um relacionamento pode se sentir deslocado quando tudo ao redor reforça a ideia de que estar em casal é sinônimo de sucesso emocional. Nessas datas, o cérebro ativa mecanismos de comparação e, muitas vezes, de mimetismo: ao observar casais celebrando, é comum ver pessoas reproduzindo gestos, frases ou postagens similares, mesmo que não estejam vivendo todo aquele sentimento na relação. É uma tentativa inconsciente de inclusão”, diz.
Mesmo quem não está buscando um relacionamento pode se sentir deslocado quando tudo ao redor reforça a ideia de que estar em casal é sinônimo de sucesso emocional. Nessas datas, o cérebro ativa mecanismos de comparação e, muitas vezes, de mimetismo
Assim, segundo a profissional, é possível que o problema não seja a falta de um parceiro, mas a ausência de pertencimento, o que confunde o cérebro: “Ao comparar a própria vida com a de quem parece mais feliz, ou melhor, com esse recorte da vida alheia, o cérebro não diferencia muito bem e a sensação, é como se estivesse perdendo algo”.
Ela diz ainda que as redes sociais pioram o efeito de comparação e aumentam a ilusão de que todos os casais são perfeitos e felizes: “Elas funcionam como vitrines emocionais editadas. No Dia dos Namorados, esse efeito se intensifica: casais postam declarações, fotos planejadas, presentes, e isso alimenta a comparação social de quem não está tão feliz em casal e até quem está só”.
Nesses casos, fazemos um julgamento interno: Por que comigo não?. “Isso aciona memórias de rejeição, frustrações passadas e até traumas afetivos. É uma data que toca a ferida da ausência de conexão romântica”, observa a psicóloga.
Alternativas
Apesar de o sentimento de solidão no Dia dos Namorados ser biológico, ele pode ser contornado. Qualquer um pode estabelecer um novo padrão, apenas mudando a forma como se trata, se prioriza e se valoriza. Veja sugestões de o que fazer na data e antes dela para evitar se sentir triste.
Evite as redes sociais
Uma medida rápida e prática para evitar comparações é simplesmente não acessar as redes sociais no Dia dos Namorados. Lembre-se que todos os casais vão postar homenagens aos seus parceiros, mesmo aqueles que não estão em relacionamentos saudáveis. Se quer evitar se sentir mal, devido à sensação de não pertencimento, um dia fora do Instagram pode ser muito efetivo.
Cuide de você mesmo
Ir ao salão de beleza, mudar o visual, fazer as próprias unhas, cuidar dos cabelos e da pele podem ser boas alternativas para quem quer fugir da tristeza. Separe o dia, ou pelo menos algumas horas dele, para concentrar-se em si, excluindo o espaço para os casais exibidos e elevando sua autoestima.
“A solidão pode ser um momento de celebração para melhorar a conexão com você mesmo”, diz Larissa Fonseca, que recomenda a celebração do autocuidado.
Jante com outros solteiros
Que tal aproveitar o dia para conhecer pessoas novas? Uma ideia é marcar um jantar com amigos e pedir para cada um levar uma terceira pessoa, desconhecida pelas demais. Assim, é mais fácil evitar repetir os mesmos temas de relacionamentos passados, muito prováveis de serem comentados entre amigos próximos.
“Faça algo que te dê prazer e senso de presença”, diz a psicóloga. Uma conversa com amigos pode despertar o sentimento de pertencimento a um grupo.
Saia para dançar
A psicóloga diz que atividades ativadoras da dopamina, o hormônio do prazer, e da ocitocina, o hormônio do amor, como dançar, rir ou praticar gratidão, ajudam o cérebro a sair do estado de escassez.
Muitas baladas e casas de shows oferecem programações para solteiros no Dia dos Namorados. Experimentar uma programação noturna, não para procurar alguém para suprir a ausência, mas para simplesmente dançar e deixar a dopamina te animar.
Coloque a leitura em dia
Pegar firme nos estudos, retomar um livro que estava atrasado ou alguma tarefa importante do dia também pode ser uma alternativa eficaz. Ocupe-se com outros assuntos e trabalhe seu próprio desenvolvimento.
O trabalho interno é o principal para sentir-se bem sem um relacionamento ou para ingressar em um novo. Aproveite a fase solteira para fazer bem a si mesmo.