Página Inicial Saúde Acreditação dá selo de qualidade a hospitais – 09/06/2025 – Equilíbrio e Saúde

Acreditação dá selo de qualidade a hospitais – 09/06/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Quanto mais delicado o problema de saúde, mais difícil pode ser a escolha de um hospital de referência. Uma medida a ser considerada é se a instituição é acreditada, ou seja, tem uma espécie de selo de qualidade emitido por empresas que analisam o funcionamento da unidade de saúde —desde a lavagem dos lençóis e o preparo de refeições até os procedimentos mais especializados.

A acreditação não consiste na simples emissão de um certificado, mas compreende um processo de avaliação independente de hospitais e clínicas por mais de um ano (a duração média varia de 18 a 24 meses). Durante esse período, cada setor é avaliado, falhas de procedimento são mapeadas e um protocolo de ajustes é construído.

Quando tudo foi corrigido, especialistas são enviados pela instituição acreditadora para avaliar se o hospital de fato cumpriu os pontos de melhoria. Se tudo estiver de acordo, o selo é concedido. O processo é voluntário, custeado pelo próprio hospital, e a acreditação tem validade de três anos. Nesse período, os procedimentos são reavaliados a cada seis meses, em média, de forma contínua.

Levantamento feito pela Folha mostra que dos cerca de 7.700 hospitais registrados no Ministério da Saúde, 645 (8,4% do total) têm acreditação.

O hospital privado Moinhos de Vento já renovou sua acreditação oito vezes desde 2002. O processo foi conduzido pela JCI (Joint Comission Internacional), acreditadora com sede nos Estados Unidos. O hospital do Rio Grande do Sul foi o segundo brasileiro a obter a acreditação. Antes, o Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, recebeu o selo em 1999.

Segundo Mohamed Parrini, CEO e diretor-executivo do Moinhos de Vento, todos os anos o hospital passa por uma avaliação de treinamento interna, com mobilização dos funcionários e simulação do processo.

São avaliados aspectos como o desempenho do corpo clínico, as instalações elétricas do prédio e a documentação da empresa. Medicamentos passam por dupla checagem, e protocolos de rotina são revisados.

Segundo ele, a qualidade e a segurança são elementos essenciais para a estratégia de negócios do hospital desde sua fundação, em 1927.

“A acreditação padroniza a qualidade, faz com que você continue sendo bom e, se você tem gaps de qualidade, ela te força a subir o nível. Oferece métodos para se reter qualidade e preservá-la ao longo dos anos, ainda que as equipes sejam trocadas”, afirma.

Para Alexia Costa, diretora operacional do Grupo Ibes, uma das principais instituições acreditadoras da América Latina, a acreditação oferece mais segurança, qualidade e confiança ao paciente. “Esses selos atestam que a instituição segue rigorosos padrões de excelência, reduzindo riscos e garantindo um atendimento centrado no doente. Isso significa estar em um ambiente que prioriza sua segurança e bem-estar”, diz.

De acordo com ela, a acreditação reduz erros graças a protocolos bem definidos para emergências e situações críticas. O paciente também pode esperar mais qualidade na assistência médica e um atendimento mais humanizado, porque os profissionais são treinados continuamente, e os fluxos de atendimento são reorganizados para trazer agilidade.

Instituições privadas são a maioria entre as acreditadas. De acordo com o levantamento do DeltaFolha, cerca de 116 hospitais públicos do país passaram pelo processo e foram aprovados.

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre, vinculado ao Ministério da Educação e à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi acreditado pela primeira vez em 2013, também pela JCI.

“Entendemos que esse selo traz uma credibilidade importante para a instituição. É um processo complexo, extenso, muito detalhado. Não é porque somos um hospital público que não deveríamos perseguir isso”, explica Brasil Silva Neto, diretor-presidente da instituição.

Neto observa que limitações financeiras podem dificultar que instituições públicas passem pelo processo de acreditação. “Mas isso deveria estar no planejamento de alguma forma, não o buscar a acreditação em si, mas ter estruturas que permitam trabalhar conceitos importantes de qualidade e segurança”, afirma.

Rubens Covello, CEO e cofundador da acreditadora QGA (Quality Global Alliance), concorda que a acreditação traz segurança ao paciente. “Não quer dizer que não vão acontecer erros, mas teremos uma série de processos para que o risco seja menor, desde a entrada do paciente na recepção até a alta.”

A QGA é responsável pelo programa de acreditação canadense Qmentum International, desenvolvido pela Accreditation Canada com base nos padrões da HSO (Health Standards Organization). No Brasil, hospitais com essa acreditação a identificam como ACI (Accreditation Canada International).

Covello afirma ainda que os parâmetros de gestão trabalhados no processo de acreditação podem contribuir com a redução do custo de procedimentos. “A qualidade diminui o custo, porque um modelo baseado em prevenção reduz os investimentos gastos no tratamento”, diz.

O Grupo Ibes oferece dois tipos de acreditação: a ONA (Organização Nacional de Acreditação), brasileira, e a Acsa (Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucía) International, europeia.

Embora a maioria das metodologias seja internacional, cada país as adapta à sua realidade. No Brasil, padrões pré-determinados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) são considerados, por exemplo.

Os custos do processo de acreditação podem variar de acordo com fatores como o tamanho da instituição de saúde, o número de leitos ou a quantidade de funcionários, a complexidade dos serviços oferecidos e até a localização geográfica. Essas características influenciam na quantidade de dias de avaliação e no número de avaliadores na equipe.

A Folha desenvolveu um guia de estabelecimentos de saúde acreditados. O projeto foi criado com base nos dados do CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos), do Ministério da Saúde, nos dados das acreditadoras ONA, ACI, JCI e Acsa e na consulta a estabelecimentos.

O sistema inclui serviços de saúde com pelo menos um tipo de acreditação e com registro ativo no CNES em janeiro de 2025, quando o levantamento foi feito. Também lista estabelecimentos com falhas no cadastro, mas que declararam estar em funcionamento.

Os dados do CNES foram baixados pelos sistemas do DataSUS, do Ministério da Saúde, e os das agências acreditadoras foram coletados em seus sites.

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