A Alemanha se junta à Austrália, ao Canadá, à Nova Zelândia e à Suíça como país em que o emprego terapêutico da psilocibina de cogumelos “mágicos” se torna legal. Só para depressão resistente a tratamento, sob indicação médica e com apenas duas clínicas credenciadas, por ora.
O boletim Psychedelic alpha informa que o modelo alemão será mais liberal que nos outros países. Enquanto nesses outros mercados a aprovação de uso cabe a autoridades reguladoras e se dá caso a caso, os médicos das clínicas OVID e CIMH (conhecida em alemão como ZI Mannheim) decidirão eles próprios se o paciente pode e deve ser submetido à psicoterapia apoiada por psicodélico (PAP).
Ambas já acumulam experiência com cetamina (ou quetamina) como tratamento para depressão. Não se trata de um psicodélico clássico como a DMT da ayahuasca e da jurema-preta, o LSD ou a psilocibina, e sim de um anestésico dissociativo cujo efeito alterador da consciência tem semelhanças com a experiência psicodélica e efeito rápido em deprimidos graves, por exemplo com ideações suicidas.
Gerhard Gründer, pesquisador ligado aos dois estabelecimentos, também supervisionou teste clínico de fase 2 com psilocibina para depressão. Foi ele que peticionou pela licença perante o Instituto Federal de Drogas e Dispositivos Médicos (BfArM), a agência reguladora alemã.
A substância permanece proibida na Alemanha. O tipo de uso ora permitido se dá por razões humanitárias, ou seja, exceções abertas para pessoas que não encontram lenitivo para sofrimento grave. No caso da depressão resistente a tratamento, o critério é não ter obtido resultado com pelo menos dois medicamentos antidepressivos convencionais.
A exceção foi admitida com base na existência de ensaios clínicos de fase 3 em andamento, da empresa Compass Pathways (Reino Unido) e do Instituto Usona (EUA). Também pesaram os bons resultados em estudos de fase 2 dessas e outras organizações.
Além disso, o composto dos cogumelos Psilocybe teve seu uso legalizado em três estados norte-americanos, Oregon, Colorado e Novo México. Isso ocorreu, porém, à margem do sistema médico, nos chamados serviços de psilocibina, empresas licenciadas cujos “facilitadores” não podem se apresentar como psicoterapeutas.
O medicamento a ser usado na Alemanha é o PEX010, preparado de origem natural da empresa canadense Filament Health, especializada em fitoterápicos com alta pureza. A companhia já esteve na berlinda por ter anunciado a intenção de lançar “pílulas de ayahuasca”, ou seja, cápsulas contendo extrato das duas plantas empregadas na cocção do chá de origem amazônica. Foi muito criticada por organizações indígenas como apropriadora de conhecimento tradicional.
U
ma diferença importante no novo esquema germânico está na possibilidade de a aplicação do psicodélico ser coberta por seguros de saúde. Nos serviços de psilocibina dos EUA, por exemplo, isso está fora de questão, porque a substância continua proibida por leis federais.
No Brasil, algo similar ao uso humanitário agora vigente na Alemanha se dá com o psicodélico (em sentido amplo) ibogaína, uma substância considerada onirogênica (indutora de estado similar ao sonho), obtida da planta africana Tabernanthe iboga. A Anvisa autoriza caso a caso, em situações excepcionais, sua aplicação em pacientes com transtorno de abuso de substâncias (dependência química).
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