Você já deve ter ouvido falar do paradoxo francês. Como uma população que se alimenta de uma dieta rica em gordura saturada, presente nos queijos e na manteiga, pode ter índices tão baixos de doenças cardiovasculares? Especialistas chegaram a algumas conclusões sobre esse fenômeno, e uma das respostas pode estar nos polifenóis.
Os polifenóis, ou compostos fenólicos, são um grupo de bioativos encontrados em frutas, verduras e outros alimentos vegetais, como frutas vermelhas, uva, jabuticaba, azeite, cacau, café, chás, ervas e especiarias, leguminosas e o vinho tinto. Esse resumo descreve quase precisamente a base de uma dieta mediterrânea.
Um estudo publicado neste ano no periódico Ageing Research Reviews constatou que nas regiões chamadas zonas azuis —onde as pessoas geralmente vivem mais— a dieta predominante é rica em polifenóis.
O motivo é por esses compostos terem uma forte ação antioxidante, explica Maurício Rostagno, professor de análise de alimentos e coordenador adjunto do Laboratório Multidisciplinar em Alimentos e Saúde da Unicamp (Universidade de Campinas).
“Os polifenóis têm um papel principalmente na prevenção de muitas doenças, e isso acaba implicando num envelhecimento mais saudável”, diz. Além disso, compostos de ação antioxidante combatem os radicais livres que são ruins para o nosso corpo e que nos envelhecem.
Segundo a Maria Clara Vieira Paschoal, nutricionista da Clínica Lassance e pós graduada em nutrição materno infantil pela USP (Universidade de São Paulo), outra propriedade desses alimentos é a anti-inflamatória.
Alimentos anti-inflamatórios ajudam a reduzir o estresse oxidativo e a inflamação, retarda o envelhecimento das células e as chances de desenvolver doenças cardiológicas, neurodegenerativas e até o câncer, afirma. Esses fatores auxiliam a ter um envelhecimento mais saudável e longevo.
Com tantos benefícios, a dúvida que fica é: podemos tê-los apenas pela alimentação ou é necessário suplementar? Os especialistas afirmam que uma alimentação rica em verduras, legumes, frutas e vegetais basta.
Já os suplementos devem ser olhados com maior cautela. Maurício explica que primeiro porque cada organismo digere esses compostos de forma diferente, a depender da genética e do metabolismo, o que faz com que a dose recomendada seja diferente.
“A gente não sabe ainda como dosar isso para cada pessoa. A gente não tem uma fórmula geral”, afirma. Ele também diz que os estudos disponíveis analisam os efeitos dos polifenóis na dieta. Com a falta de pesquisas definitivas sobre os suplementos, o ideal é garantir uma alimentação saudável e, eventualmente, sob prescrição médica.
Já os alimentos são de livre consumo. Andrea Pereira, nutróloga do Hospital Israelita Albert Einstein, diz que não há nenhum problema em consumi-los em abundância e que todos podem se beneficiar dos ativos. “Os estudos científicos demonstram benefícios para a população em geral.”
Ela, porém, atenta que é necessário moderar o consumo de alguns alimentos, como o vinho tinto, o chá preto e o café, devido a presença de álcool e cafeína.
Maria Clara sugere trocar o vinho por outro alimento que tenha potencial antioxidante, como o suco de uva integral sem açúcar, a fim de evitar o consumo de álcool. Em relação ao chocolate, prefira o consumo daqueles com maior teor de cacau, como os amargos e 70%.
Ou seja, se quiser viver mais e melhor, não tem segredo: “é se exercitar, se alimentar bem, consumir bastante fruta e verdura e evitar a gordura”, conclui Maurício.