Página Inicial Saúde Alunas zombam de jovem que transplantou coração 3 vezes – 09/04/2025 – Equilíbrio e Saúde

Alunas zombam de jovem que transplantou coração 3 vezes – 09/04/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Duas estudantes de medicina publicaram vídeo nas redes sociais zombando de uma jovem internada no Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) pela paciente ter passado por quatro transplantes, três no coração e um no rim. A postagem foi feita dias antes da morte da paciente.

A família de Vitória Chaves da Silva, 26, registrou queixa na delegacia nesta terça-feira (8) e acionou o Ministério Público para denunciar as alunas Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano, as autoras da publicação, pedindo retratação. O vídeo já foi apagado das redes.

Vitória recebeu o diagnóstico de cardiopatia congênita, uma má formação no coração surgida ainda no desenvolvimento do feto. Ela morreu por choque séptico e insuficiência renal crônica.

Gabrielli e Thaís não foram localizadas até a publicação desta reportagem.

As duas, sem citar Vitória nominalmente, diziam estar chocadas por saberem que uma paciente tinha recebido três corações mesmo diante das questões burocráticas, da fila para o procedimento e das dificuldades relacionadas à compatibilidade do órgão com o possível receptor.

Ambas fazem chacota do caso no vídeo, publicado em fevereiro, afirmando que um dos transplantes de coração não foi bem-sucedido porque os medicamentos não foram tomados corretamente, e disseram que a menina deve achar que tem sete vidas.

Disseram ainda que um dos transplantes teriam dado errado pois a paciente teria tomado os medicamentos de forma incorreta. Ao portal g1, a família contesta essa informação, afirmando que todos os procedimentos para o êxito do transplante foram realizados regularmente.

As estudantes tiveram conhecimento do caso pois estiveram no Hospital das Clínicas para a realização de um curso de extensão de curta duração. A instituição afirmou, em nota, que as alunas envolvidas são graduandas de outras instituições. Ressaltaram tomar medidas adicionais para reforçar a conduta ética junto aos estudantes, e disseram repudiar qualquer desrespeito a pacientes.

Já o Incor disse que está apurando a situação e tomando medidas cabíveis. Afirmou também repudiar comportamentos contrários à ética e confidencialidade do estado de saúde dos pacientes.

Também em nota, o Ministério Público do Estado de São Paulo informou que o caso foi protocolado na terça-feira (8) na Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital, e está sendo analisado pelo órgão.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo também se manifestou, relatando a investigação do caso como crime de injúria pelo 14° Distrito Policial, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista. Segundo a secretaria, a mãe da vítima foi ouvida.

O caso de Vitória já havia sido retratado pelo Profissão Repórter, da TV Globo, em 2016. Cinco anos depois, em nova entrevista ao mesmo programa, a própria paciente ressaltou estar debilitada e cuidando de problemas decorrentes da insuficiência cardíaca.

A jovem nasceu em Luziânia (196 km de Goiânia) e recebeu o diagnóstico de Anomalia de Ebstein, uma cardiopatia congênita, após o nascimento. Mudou-se para São Paulo com quatro anos para realizar procedimentos médicos, e realizou o primeiro transplante em 2005.

O segundo transplante viria em 2016, após novos problemas no coração. Três anos depois, sofreu de rejeição aguda do órgão e foi internada no Distrito Federal. Recebeu liberação médica para fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Em 2023, Vitória passou por um transplante no rim e voltou para a fila de possíveis receptores para um novo coração. O terceiro órgão foi recebido no ano passado.

Segundo o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, dos estudantes de medicina da USP, Gabrielli e Thaís faziam parte do Experiência HC na Prática, programa do hospital possibilitando que estudantes de outras faculdades realizem até três disciplinas oferecidas pela instituição.

Custa R$ 8.450,00 por especialidade, além de uma taxa de R$ 350,00 de inscrição no processo seletivo. A exigência é que os alunos estejam entre o quarto e o sexto ano da faculdade.

O programa foi alvo de greve dos estudantes da Faculdade de Medicina no ano passado, argumentando que ele atrasaria o período de internato dos uspianos diante da divisão de vagas, já limitadas, com os discentes externos.

Em nota, o centro acadêmico lamentou a espetacularização da vida de Vitória e afirmou que o Hospital das Clínicas deve verificar o compromisso ético dos alunos matriculados em favor da segurança e do sigilo dos pacientes.

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