Página Inicial Saúde Anorexia: contar calorias e exercícios pode ser gatilho – 24/07/2025 – Não Tem Cabimento

Anorexia: contar calorias e exercícios pode ser gatilho – 24/07/2025 – Não Tem Cabimento

Publicado pela Redação

O interesse em aplicativos de monitoramento de saúde têm crescido nos últimos anos, de acordo com o Google Trends. Termos como “gymrats”, “contador de calorias” e “relógio inteligente” apresentam uma curva ascendente na plataforma. Mas a obsessão por registrar tudo pode ser um gatilho para pessoas com predisposição a desenvolver um transtorno alimentar.

Isso acontece porque entre pessoas com transtornos, como a anorexia, há prevalência de comportamentos obsessivos compulsivos em relação à alimentação e a imagem corporal. “A pessoa foca em atingir metas e ganhar recompensas, perdendo sua autonomia e querendo validação por meio de números“, explica a psicóloga especializada em transtornos alimentares Patricia Vieira da Cunha Xavier.

Patricia afirma que, mesmo para quem não apresenta um comer transtornado, o uso contínuo desses aplicativos pode gerar “hiperconsciência corporal”, criando a sensação de hipervigilância, comparações com outras pessoas e sentimento de inadequação, em detrimento da saúde mental.

A psiquiatra e supervisora chefe dos residentes do Proata (Núcleo de Atendimento aos Transtornos Alimentares da UNIFESP), Veruska Lastória, diz ao blog que o uso desses aplicativos para acompanhamento de saúde podem ser benéficos se supervisionados por profissionais e com objetivos de saúde claros, desde que os usuários não tenham metas rígidas.

“Acompanhamento saudável é diferente de cobranças; ele deve apoiar a autonomia, não impor obediência, promover consciência e autorregulação, não vigilância punitiva e, deve oferecer acolhimento, não julgamento”, explica Veruska.

Segundo ela, em usuários com diagnóstico de transtornos alimentares ou em quadros subclínicos (em que a doença está presente, mas sem sintomas perceptíveis), a obsessão por números de passos, calorias e tempo de atividades físicas pode causar culpa ou comportamentos punitivos ao “falhar” nas metas, gerando desconexão de sinais como fome, saciedade e prazer, exacerbação de compulsões ou recaídas.

O estudo “Tecnologia de contagem de calorias e monitoramento de condicionamento físico: associações com sintomatologia de transtornos alimentares“, publicado em 2017 no periódico “Eating Behaviors” da Elsevier, indica que o uso de aplicativos de contagem de calorias e relógios inteligentes de monitoramento fitness pode estar associado a comportamentos de restrição alimentar, obsessão com índice IMC e hábitos compulsivos e purgativos, especialmente entre mulheres.

Em usuários com histórico de transtorno alimentar, o uso desses aplicativos é particularmente preocupante, pois pode atrelar a identidade ao corpo e ao desempenho e ser um gatilho para recaída.

O estudo “Uso do contador de calorias MyFitnessPal em Transtornos Alimentares“, publicado em 2018 pelo mesmo periódico, associa o uso do aplicativo de contagem de calorias a pacientes com transtornos alimentares. Dos participantes que relataram usar o appl, 30% dizem que a contagem contribuiu muito para seu transtorno alimentar, 28,2% dizem que contribuiu moderadamente e 10,3% dizem que contribuiu de alguma forma.

Segundo o artigo, quanto maior a probabilidade de um indivíduo relatar que o uso do rastreador de calorias contribuiu para seu transtorno, maior a probabilidade de apresentar sintomas mais graves.


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