Interromper o uso de antidepressivos não causa tantos sintomas de abstinência quanto se acreditava, de acordo com um novo estudo.
Em um amplo ensaio que analisou as semanas cruciais após a suspensão do tratamento, cientistas descobriram que os sintomas relatados após uma semana não foram clinicamente significativos. O estudo, publicado na JAMA Psychiatry na quarta-feira (9), descartou mudanças de humor como sintoma, enquanto tontura foi o efeito mais frequentemente relatado.
Os resultados parecem contradizer pesquisas anteriores, incluindo uma que apontou que até metade dos pacientes que pararam de tomar antidepressivos experimentou sintomas como tontura, náusea ou dor de cabeça.
Estudos anteriores tendiam a recrutar pacientes que já sofriam com abstinência, explica Gemma Lewis, professora associada de epidemiologia psiquiátrica na University College London e coautora do novo estudo. “Na minha opinião, esses levantamentos superestimaram os resultados”, disse Lewis.
O paciente médio do estudo apresentou apenas um sintoma associado à descontinuação uma semana após interromper o tratamento. De acordo com os critérios da pesquisa, eram necessários pelo menos quatro sintomas diferentes para caracterizar abstinência. O estudo não avaliou a gravidade dos sintomas.
Além da tontura, alguns pacientes relataram náusea, vertigem e nervosismo —sintomas que “fazem sentido biológico”, afirma Sameer Jauhar, pesquisador principal do estudo e especialista em transtornos de humor do Imperial College London.
Os cientistas fizeram distinções entre recaída e abstinência. “Se alguém para o antidepressivo e tem uma recaída depressiva, isso precisa de tratamento”, ressalta Jauhar.
A equipe revisou cerca de 50 estudos sobre o tema, incluindo dados não publicados, totalizando mais de 17 mil participantes. Jauhar diz esperar que os resultados tranquilizem pacientes e orientem decisões clínicas, já que relatos anteriores de sintomas intensos levaram o Royal College of Psychiatry a atualizar suas diretrizes.
“Este novo estudo é extremamente bem-vindo para ajudar a desestigmatizar os antidepressivos”, diz Katharina Domschke, chefe de psiquiatria da Universidade de Freiburg, Alemanha. Ela defende que o termo “sintomas de abstinência” seja reservado para dependência química.