Página Inicial Saúde ‘Bebês’ reborn servem de apoio para pessoas com Alzheimer – 20/05/2025 – Equilíbrio

‘Bebês’ reborn servem de apoio para pessoas com Alzheimer – 20/05/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Famílias e cuidadores de pessoas com Alzheimer têm recorrido a bonecos reborns —réplicas hiper-realistas de bebês— para reduzir ansiedade e aumentar a interação dos pacientes.

A administradora Lidiane Saburi de Oliveira, 45, presenteou sua tia-avó Lais Saburri Alves, 89, com o brinquedo por recomendação do neurologista. “Ela recebeu diagnóstico de Alzheimer há um ano, mas há uns dois já apresentava sinais. A boneca acabou sendo a razão da alegria dela. A melhor coisa que fizemos”, relata.

A terapeuta ocupacional Carla da Silva Santana, docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP-USP) e membro da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz-SP), explica que o apego é “considerado uma necessidade psicológica essencial” em pacientes com doenças neurodegenerativas.

Isso acontece devido ao comprometimento físico-psicológico causado pela demência. “Uma boneca pode ser uma oportunidade para terapia de validação e reminiscências”, diz. Ela ressalta, porém, o alto custo das reborns —que podem chegar a R$ 5.000— como barreira.

Santana reforça que o uso de bonecas ou bichos de pelúcia e até robôs como brinquedos de empatia para pessoas com Alzheimer não são em si uma novidade, mas o hiper-realismo das peças impõe novos desafios éticos.

“Usando bonecas ou não, é preciso sempre tratar todos os adultos como adultos”, diz a terapeuta. Recomenda-se evitar a infantilização e não mentir para o paciente sobre o brinquedo, para que não haja situações de humilhação ou que causem confusão sobre o que é real para o adulto que vive com problemas cognitivos.

O momento deve ser usado para conversar e explorar percepções sobre o cuidado de pequenos ou sobre as bonecas que a pessoa já teve, seus nomes, como brincava, entre outros temas. “Nem todas as pessoas com Alzheimer têm interesse por essas bonecas e não é em qualquer estágio da doença. É mais comum o interesse nas fases intermediárias e graves”, diz a professora.

Sem filhos, Alves batizou a boneca que ganhou da sobrinha de Angélica e passou a carregá-la para todo canto como se fosse a mãe dela, o que a tornou mais engajada em atividades diárias. “Meus pais [cuidadores da paciente] falam que ela ficou mais calma, alegre. Parece que agora tem um motivo para estar viva, alguma coisa para fazer”, conta Oliveira.

A sobrinha diz que a aposentada nem sempre acreditou que a boneca era uma criança, mas ao longo dos meses foi se afeiçoando no brincar, com efeito benéfico para o tratamento devido ao perfil dela. “Tem que ver a afinidade da pessoa. Minha tia sempre amou crianças. Para ela, foi perfeito”, afirma.

Na Baby Maternidade Reborn, rede com seis lojas físicas, sendo duas delas em shoppings de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, uma em cada cinco bonecas vendidas é destinada à terapia de pacientes com doenças degenerativas.

“Hoje, cerca de 20% das vendas são para presentear pessoas com Alzheimer e demência. Os clientes buscam os bebês mais realistas possíveis, para que quem receba sinta a sensação de estar com um bebê real”, diz Isabelita Brilhante, 35, proprietária do grupo.

Brilhante conta que aprendeu a técnica para criar esse tipo de boneca após ter dificuldade de comprar uma reborn para as filhas e vem acompanhando o crescimento do setor. “Comecei a vender de forma online e há um ano abri a primeira loja física. Desde então, abrimos mais cinco filiais e tivemos um aumento de 70% no faturamento”, conta.

No último mês, devido ao amplo debate sobre colecionadoras de reborn na mídia, a empresária diz que a procura na loja tem sido “altíssima”.

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