Faz 15 dias que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 70, está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em Brasília e já teve uma agenda cheia com live, visitas e entrevista. A recuperação deve ser avaliada individualmente, mas especialistas dizem que estímulos precoces podem ajudar o corpo a se recuperar —evitando sempre situações estressantes.
Durante esse período, Bolsonaro já deu entrevista por vídeo ao SBT Brasil, participou de live com seus filhos Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro e o ex-piloto Nelson Piquet, recebeu visita de Valdemar Costa Neto, que comanda o PL, e ainda recebeu uma oficial de Justiça em seu quarto para intimá-lo da abertura do processo penal sobre a trama golpista de 2022.
Normalmente, explica Murillo Lobo, médico cirurgião do aparelho digestivo da Clínica Sartor e da Universidade de São Paulo (USP), o paciente já tem leito reservado na UTI pré-cirurgia em dois casos: quando tem questões clínicas e precisará de uma monitoração mais intensa no pós-operatório, seja por idade ou doenças relacionadas, ou quando a cirurgia é longa e tem alto grau de inflamação; ou mesmo por precaução, até estar seguro de que o paciente está estável.
No caso de Bolsonaro, a cirurgia do último dia 13 foi longa e houve bastante manipulação do intestino.
A recuperação deve ser avaliada caso a caso, segundo Lobo. Ele afirma que nos últimos anos houve uma mudança importante a partir de pesquisas de um conceito chamado Early Recovery After Surgery (ERAS), recuperação precoce após a cirurgia, em português.
“Entende-se que é melhor o paciente ter movimentação precoce, receber alimentação precoce, ter atividade, ou seja, assistir, ler ou conversar, ter estímulos o quanto antes para ajudar o corpo, de certa forma, a se recuperar”, afirma. “Atividades como uma caminhada leve e uma fisioterapia, quanto antes forem feitas de acordo com a tolerância do paciente, melhor.”
O médico, no entanto, reforça que as atividades não devem envolver alto grau de estresse. Apesar de Bolsonaro ter feito atividades que não aparentam demandar muito esforço, como a live com os filhos em que apareceu sentado em uma poltrona, ele foi submetido a situações de exaltação, como quando recebeu a visita da oficial de justiça. Isso, segundo o médico, deve ser evitado.
Segundo nota técnica divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o acesso à UTI é estrito e regulado por normas técnicas e legais a serem seguidas em todos os estabelecimentos de assistência médica do país.
É necessária uma autorização prévia da equipe médica, deve ocorrer em horários restritos e há uma limitação estrita do número de pessoas por leito. Além disso, é obrigatório o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs).
“Estas regras garantem a estabilidade clínica e a segurança física e emocional dos pacientes em condição crítica”, afirma a nota. As regras devem ser aplicadas “indistintamente a quaisquer pessoas sob qualquer pretexto, inclusive equipes de jornalismo e agentes públicos em cumprimento de determinação judicial”.
O CFM também destacou que o não cumprimento dos protocolos deve ser apurado pelos Conselhos Regionais de Medicina.
Bolsonaro passou mal no dia 11 no interior do Rio Grande do Norte e foi internado por problemas decorrentes da facada que sofreu durante a campanha presidencial de 2018. Segundo o último boletim médico divulgado nesta sexta-feira (25), o ex-presidente está estável, segue na UTI e não tem previsão de alta. Ele não passará por um novo procedimento.
Ele segue em jejum oral, com alimentação intravenosa. A alimentação é chamada de nutrição parenteral, em que é instalado um cateter que, por meio dele, o paciente recebe uma fórmula composta por glicose, lipídios, aminoácidos, eletrólitos, vitaminas e minerais. Assim, os nutrientes são absorvidos direto pela corrente sanguínea, sem passar pelo sistema digestivo.