O Brasil apresentou um aumento de casos de hepatite A entre 2022 e 2024, impulsionado principalmente por homens jovens e pelas regiões Sul e Sudeste, segundo boletim epidemiológico divulgado nesta terça-feira (8) pelo Ministério da Saúde.
Embora a taxa de incidência tenha mostrado uma redução de 47% nos últimos 10 anos, o número voltou a crescer partir de 2022, com 0,4 casos por 100 mil habitantes para 1,7 em 2024, o que representa um aumento de 325% no período.
Em 2024, o aumento foi impulsionado principalmente pelas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que apresentaram taxas de 3,3, 2,1 e 1,8 casos por 100 mil habitantes, com crescimento de 50%, 57,1% e 350%, respectivamente, em relação a 2023.
Como forma de prevenção, o Ministério passou a disponibilizar este ano a vacinação para usuários de Prep (profilaxia pré-exposição), método de prevenção contra o HIV, uma vez que uma das formas de transmissão da doença é o contato sexual.
Entre as faixas etárias, são os jovens adultos que puxaram a alta. Entre os de 20 a 24 anos, o crescimento foi de 524,7% em dois anos (77 casos em 2022 para 481 casos em 2024). Em seguida, a faixa de 25 a 29 anos registrou aumento de 510,9% (114 em 2022 para 707 em 2024).
O aumento foi similar na faixa dos 30 a 34 anos (506,8%, de 103 para 625 casos) e de 35 a 39 anos (462,2%, de 82 para 461 casos).
A doença também aumentou principalmente entre homens, com incidência de 3 homens para cada 1 mulher infectados em 2024, o coordenador-geral de vigilância das hepatites virais, Mario Gonzalez (2.653 casos em homens para 885 em mulheres).
A vacinação é a principal forma de prevenção da hepatite A e B. No caso da hepatite A, são também formas de prevenção o uso de preservativos e a higienização das mãos. Não há vacinação para hepatite C.
No evento, Gonzalez atribuiu o aumento entre a população dos 20 aos 39 anos à falta de anticorpos prévios contra a doença, devido às altas taxas de vacinação infantil.
“Isso reflete uma transmissão epidemiológica, o que quer dizer que tínhamos alta prevalência de anticorpos contra hepatite A porque as pessoas se contaminavam na infância”, diz.
Em São Paulo, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que, em 2025, de janeiro até 2 de julho, foram registrados 476 casos de hepatite A na capital paulista. Em 2024, de janeiro até o final de junho, foram registrados 266 casos. A vacina é indicada para crianças a partir de 15 meses e para grupos especiais. Desde 4 de junho, também é indicada para homens que fazem sexo com homens.
Em 2024, Curitiba viveu um surto de hepatite A, que foi contido com a estratégia de controle de forma combinada da vacinação para usuários de Prep, segundo o Ministério da Saúde.
A infecção viral, que provoca inflamação no fígado, tem a transmissão frequentemente ligada a condições de saneamento, a partir da ingestão de água ou alimentos contaminados, mas um inquérito epidemiológico para que buscava entender o surto da doença na cidade indicou que a principal fonte de contaminação foi sexual, e que a maioria das pessoas contaminadas eram homens entre 20 e 39 anos.
Transmissão sexual
Apesar de o boletim registrar uma estabilidade na hepatite C nos últimos anos, o Ministério da Saúde chama a atenção para o aumento de casos por transmissão sexual nos últimos dez anos. O crescimento foi de cerca de 124% entre 2014 e 2024.
Segundo o informe, em 2024, os casos de infecções por essa via foram duas vezes maiores que os casos de infecções relacionadas ao uso de drogas e quatro vezes superiores aos de infecções por via transfusional.
“Os conceitos foram mudando ao longo do tempo. Nos anos 1990, dizia-se que a hepatite C não era transmitida por via sexual, mas começaram a observar que isso acontecia em alguns grupos. Hoje, estudos mostram que a transmissão por via vaginal não é tão comum, e o público de homens que fazem sexo com homens está mais sujeitos”, afirmou Gonzalez.
Aproximadamente 80% das pessoas com hepatite C não apresentam sintomas. Para os 20% sintomáticos, o período entre a infecção e o início dos sintomas varia de 2 a 12 semanas. Os sintomas incluem principalmente febre, fadiga, náusea, vômito, diarreia, dor abdominal, urina escura, fezes claras e icterícia (pele e olhos amarelados).
Já os casos de hepatite B mostram uma tendência de declínio nos últimos dez anos, e estabilidade nos últimos três. O Ministério aponta uma redução de 34,6% nas taxas de detecção entre 2014 e 2024, passando de 8,1 para 5,3 casos por 100 mil habitantes.
A doença pode ser transmitida sexualmente e por contato com sangue contaminado. Na maioria dos casos, a hepatite B não apresenta sintomas. Muitas vezes a doença é diagnosticada décadas após a infecção, com sinais relacionados a outras doenças do fígado (cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, urina escura e fezes claras, pele e olhos amarelados), que costumam manifestar-se apenas em fases mais avançadas da doença.
O Ministério da Saúde recomenda que pessoas com mais de 20 anos façam teste para hepatite ao menos uma vez na vida e que procurem unidades básicas de saúde em caso de suspeita.