Página Inicial Saúde Bruxismo pode causar fraturas de dentes e até da mandíbula – 06/08/2025 – Equilíbrio

Bruxismo pode causar fraturas de dentes e até da mandíbula – 06/08/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

A psicóloga Beatriz Ferreira, 26, sofre há sete anos com sintomas decorrentes do bruxismo. Os primeiros sinais foram dores no pescoço —às vezes mais intensas, às vezes menos—, mas ela achou que era natural. Até que, em 2020, com o acúmulo do estresse e ansiedade por causa do fim da faculdade e da pandemia, as dores pioraram. Além do pescoço, começou a sentir forte dores na cabeça.

Ela procurou diversos especialistas, como ortopedistas, fisioterapeutas e dentistas. “Além de não estar melhorando, estava piorando. Eu sentia que as dores estavam mais intensas e começando a subir para o meu rosto e meus dentes.”

Foi quando seu dentista observou sinais de apertamento dentário que ela procurou um profissional especializado para investigar a dor. Depois de tanto tempo tentando entender a causa de duas dores, o bruxismo de Beatriz tinha evoluído para uma disfunção temporomandibular (DTM) e uma fratura no côndilo, a parte mais vulnerável da mandíbula.

Juliana Stuginski Barbosa, especialista em bruxismo, DTM e dor orofacial, diz que chegar a esse ponto é raro e uma exceção nos casos de bruxismo, mesmo os mais severos. “O que é mais comum é fratura de dente, quebra de restauração, lesão cervical não cariosa [retração gengival, que é a perda de estrutura dentária próxima à gengiva].”

O bruxismo é conhecido pelo ato involuntário de ranger os dentes durante a noite. Ele ocorre pela contração dos músculos envolvidos na mastigação, que empurram a mandíbula e apertam os dentes.

Barbosa explica que há uma diferença entre o bruxismo do sono e o de vigília, que é o praticado durante o dia. Ela afirma que, apesar de o bruxismo do sono ser o mais conhecido, é o de vigília que é o mais frequente na população.

“Nas pessoas que não têm desfechos negativos, o bruxismo do sono não é considerado um distúrbio do sono ou do movimento”, explica Laís Valencise Magri, professora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP/USP).

A professora complementa que o bruxismo não é uma doença, mas sim uma atividade muscular da mandíbula. Durante o dia, quando a pessoa está acordada, Magri explica que o ato acontece pelo contato repetitivo dos dentes ou por pressionar a mandíbula de forma rígida. As causas, segundo a professora, podem ser diversas e múltiplas.

Entre elas estão fatores relacionados ao sistema nervoso central e psicossociais —como estresse e ansiedade—, principalmente no bruxismo de vigília. Predisposição genética, apneia do sono, ronco e refluxo e o uso de medicações podem contribuir para o agravamento da condição. “O café, a cafeína, o cigarro, o sono, podem também ser fatores associados a essa manifestação”, complementa Magri.

Barbosa realizou um estudo pioneiro que relaciona derivados de anfetamina, mais especificamente lisdexanfetamina, com o bruxismo. A movimentação involuntária pode surgir como efeito colateral de medicações e drogas estimulantes.

Dentre as duas formas de apresentação, que são diferentes, algumas pessoas também podem apresentar um bruxismo cíclico —que aparece de tempos em tempos— ou contínuo, diz Mayra Torres Vasques, professora da especialização em DTM, dor orofacial e odontologia do sono do Ensino Einstein.

“É comum o paciente começar a sentir dor muscular na face, dificuldade para abrir a boca, ruídos nas articulações durante a mastigação, desgastes dentários e, eventualmente, até fraturas”, diz. É importante procurar um especialistas em DTM e dor orofacial se apresentar sintomas persistentes.

A dor, geralmente muscular, pode afetar a qualidade de vida dos pacientes e comprometer tarefas do dia a dia, como falar, rir e até comer. Gabriel Kubota, coordenador do Centro de Dor do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, explica que é comum receber pessoas com enxaqueca que têm relação com o bruxismo.

Por esse motivo, o médico reforça a importância da interdisciplinaridade para tratar os casos, ou seja, que o profissional da saúde tenha um conhecimento mais amplo do que o que está restrito à sua especialidade, para assim poder fazer os encaminhamentos necessários.

Hoje, Beatriz faz acompanhamento multiprofissional para lidar com as consequências que a condição causou e evitar uma intervenção cirúrgica. Ela faz sessões de fisioterapia, acompanhamento com neurologista para lidar com as dores, com um dentista para proteger os dentes e também com uma psicóloga para controlar a ansiedade, que é um dos pontos-chave no seu caso.

“Venho lidando também na maneira de ir aceitando isso, porque sentir dor sempre é enlouquecedor. Tem dias e dias: tem dias ainda terríveis de dor, mas é quando as coisas estão todas fora do lugar, né?”, diz, se referindo a quando deixa de fazer os exercícios de fisioterapia, está mais ansiosa, ou dorme sem a placa.

Barbosa diz que o bruxismo, especialmente o de vigília, está relacionado a alguns fatores psicossociais, como ansiedade e estresse. Por sua vez, esses sintomas psicológicos podem estar associados à insônia. Ela cita um estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) que concluiu que a má qualidade do sono tem relação com a condição.

“Se a gente for olhar a ansiedade e o estilo de vida, conseguir controlar o comportamento quando está acordado, reduzindo a ansiedade e estresse, melhorando a qualidade do sono, isso ajuda a controlar o bruxismo”, conclui a especialista.

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