Seu coração é mais velho do que você?
Uma calculadora online gratuita (com funcionalidade apenas em inglês) e recém-desenvolvida pode ser capaz de te informar, de acordo com um estudo em larga escala sobre saúde cardíaca publicado na última quarta-feira (30) na revista Jama Cardiology (Journal of the American Medical Association).
Baseada nas equações mais atuais sobre riscos de doenças cardiovasculares, a calculadora usa respostas para algumas perguntas simples sobre pressão arterial, níveis de colesterol e outras medidas comuns de saúde para determinar a idade biológica do seu coração, que pode ser diferente de sua idade cronológica.
Seu coração pode ser biologicamente mais velho ou mais jovem ou ter a mesma idade que sua idade real, com diferentes consequências no que diz respeito aos riscos de desenvolver doenças cardíacas.
“Com a crescente conscientização de que a idade biológica é um conceito diferente da idade cronológica, ou quantas vezes você deu a volta ao Sol, queríamos encontrar uma maneira de aplicar essa ideia e ajudar as pessoas a entenderem melhor seus riscos específicos” de desenvolver doenças cardiovasculares, diz Sadiya Khan, professora de epidemiologia cardiovascular da Escola de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern (EUA) e autora sênior do novo estudo.
A calculadora está na vanguarda dos testes de “envelhecimento de órgãos”, que usam uma variedade de técnicas avançadas e algoritmos para determinar se certas partes de nossos corpos estão envelhecendo mais rápido ou mais lentamente que outras.
A maioria desses testes ainda está em fase inicial de desenvolvimento, e a calculadora de idade cardíaca é uma das primeiras a ser disponibilizada gratuitamente.
Novas formas de avaliar a saúde cardíaca
A ideia de usar dados de saúde para avaliar seu risco de desenvolver doenças cardíacas não é novidade, é claro. O Escore de Risco de Framingham, por exemplo, que usa várias métricas de saúde para prever a probabilidade de desenvolver doenças cardíacas em dez anos, existe há décadas.
Mais recentemente, a Associação Americana do Coração desenvolveu as chamadas equações PREVENT (Predicting Risk of Cardiovascular Disease Events), que usam novos dados sobre a saúde de dezenas de milhares de adultos americanos, a partir dos 30 anos, para prever o risco de doenças cardíacas.
Khan foi a autora principal do estudo de 2023 que apresentou as equações PREVENT. Mas ela também é clínica e sabia, por conversas com pacientes, que “é realmente difícil entender o que significa um risco de 10% de desenvolver doenças cardíacas em um futuro próximo”.
Ela também estudou a longevidade entre os Amish e estava interessada nas diferenças entre idade biológica e cronológica e no fato de que pessoas nascidas no mesmo ano podem envelhecer de maneiras bem diferentes.
Americanos têm corações mais velhos
Khan e seus colegas usaram dados do PREVENT para estabelecer marcadores ideais de saúde cardíaca, como pressão arterial e açúcar no sangue, entre homens e mulheres de 30 a 79 anos.
Como estavam interessados no cenário nos Estados Unidos, verificaram as idades cardíacas de mais de 14 mil homens e mulheres inscritos na enorme e contínua Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição do governo.
O resultado é que a maioria deles tem corações mais velhos do que eles próprios. Os homens, em média, tinham idade cardíaca cerca de sete anos mais velha que sua idade cronológica, enquanto os corações das mulheres eram cerca de quatro anos mais velhos. E mesmo pessoas na casa dos 30 anos tinham corações relativamente velhos.
O que significa ter um coração mais velho que você?
“Primeiro, é importante ter contexto”, diz Khan. “Uma diferença de um ano da sua idade cronológica provavelmente não é significativa. Mas se os corações das pessoas estiverem mais de cinco ou dez anos distantes de sua idade cronológica, vale a pena prestar atenção ao que está acontecendo e o que pode estar causando isso.”
Converse com seu médico se a idade do seu coração for pelo menos cinco anos mais velha que sua idade cronológica, ela disse.
“Sabemos que metade das pessoas com pressão alta não está sendo tratada“, diz ela, “e a maioria das pessoas que se qualificam para terapia com estatina (medicamentos usados para reduzir os níveis de colesterol no sangue) não a utiliza”.
As intervenções não precisam ser todas médicas. “Mudanças no estilo de vida, especialmente exercícios e dieta, também são importantes”, afirma.
Mesmo pessoas cujas idades cardíacas são iguais ou mais jovens que sua idade real podem se beneficiar desse conhecimento.
“Uma das coisas mais desafiadoras é manter um envelhecimento saudável“, diz. Assim, à medida que os anos passam ou que a pessoa entra em transições, como a menopausa, a calculadora pode ajudar a acompanhar quão bem o coração continua a envelhecer.
O que a calculadora deixa de fora
A calculadora de idade cardíaca tem limites. Suas equações não incluem, por exemplo, certos fatores de risco cardiovascular específicos para mulheres, como mudanças da menopausa e complicações na gravidez, diz Martha Gulati, diretora de cardiologia preventiva e diretora associada do Centro Cardíaco Feminino Barbra Streisand da Universidade de Ciências da Saúde Cedars-Sinai, em Los Angeles.
As equações também não incluem estimativas de condicionamento aeróbico ou hábitos de exercício, que podem ser fundamentais para a saúde cardíaca, acrescenta Ulrik Wisloff, chefe do grupo de pesquisa de exercícios cardíacos da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia em Trondheim, que estuda exercícios e longevidade há décadas.
“Ainda acho intrigante o fato de que a atividade física não foi incorporada ao modelo de risco original de Framingham”, diz ele. Seu grupo desenvolveu uma calculadora online gratuita própria, baseada em exercícios e resistência, que estima sua idade física em comparação com sua idade cronológica.
O ponto chave de todas essas calculadoras de idade biológica, sejam elas focadas em condicionamento físico ou órgãos, como o coração, é que elas podem servir como um alerta, afirma Gulati. Se os números indicarem que seu coração pode estar envelhecendo muito rapidamente, essa é uma mensagem de que você provavelmente precisa prestar mais atenção à sua saúde.
“Se isso ajudar a motivar um paciente a fazer mudanças, estou aqui para apoiar”, conclui Gulati.