Página Inicial Saúde Câncer: Estudos reforçam importância da atividade física – 24/06/2025 – Bruno Gualano

Câncer: Estudos reforçam importância da atividade física – 24/06/2025 – Bruno Gualano

Publicado pela Redação

O espectro de ação da atividade física é amplo. Para algumas doenças (diabetes, hipertensão, depressão etc), o exercício figura entre as melhores opções de tratamento. Para outras, contudo, as evidências ainda são equívocas ou insuficientes. É o caso do câncer.

Embora o exercício possa atenuar os efeitos negativos da doença e do tratamento farmacológico, como a fadiga e a perda de massa muscular, seus impactos sobre a incidência ou o crescimento tumoral ainda são incertos.

Experimentos pré-clínicos, realizados em culturas celulares e roedores, têm indicado benefícios do exercício em alguns tipos de câncer. No entanto, como esses resultados não podem ser diretamente generalizados para humanos, só é possível falar em “efeitos promissores”. Dois estudos recentes —esses em humanos— elevam essa expectativa a um novo patamar.

No primeiro, publicado no JAMA Oncology, pesquisadores acompanharam 22.716 sobreviventes de câncer infantil entre 1970 e 1999. O objetivo foi examinar se níveis de atividade física e o índice de massa corporal (IMC) estariam associados ao risco de desenvolvimento de novos tumores.

Sobreviventes que realizavam mais atividade física (cerca de 30 a 45 minutos por dia) apresentaram uma redução significativa no risco de qualquer novo tumor (-39%), bem como de neoplasias sólidas (-35%), do sistema nervoso central (-50%), de pele (-28%), meningiomas (-49%) e carcinomas de tireoide (-47%). Por outro lado, a obesidade esteve associada a risco aumentado de alguns desses tumores, especialmente tireoide e meningiomas. Esses achados sugerem que, mesmo após a superação de um câncer na infância, o estilo de vida continua a modular riscos futuros de neoplasias.

No segundo estudo, publicado no New England Journal of Medicine, pesquisadores conduziram um ensaio clínico randomizado multicêntrico com 889 pacientes com câncer de cólon estágio III ou II de alto risco, recém-tratados com quimioterapia adjuvante. Os pacientes foram alocados para um programa estruturado de exercício supervisionado por três anos ou para um grupo controle com material educativo. Após quase 8 anos de seguimento, o grupo exercitado apresentou uma melhora de 28% na sobrevida livre de doença e de 37% na sobrevida global, mesmo com diferenças modestas na perda de peso. Ou seja, o benefício ocorreu principalmente por mecanismos relacionados à atividade física per se.

O estudo com sobreviventes de câncer infantil, por ser observacional, não permite estabelecer relações de causa e efeito, já que fatores de confusão não controlados —como predisposição genética, condições socioeconômicas, hábitos de vida e outras variáveis não mensuradas— podem ter influenciado os achados.

Já o ensaio clínico no câncer de cólon, embora robusto e randomizado, enfrentou desafios práticos: o recrutamento de pacientes foi mais lento do que o previsto, o número total de eventos (recidivas ou óbitos) ficou aquém do planejado e houve queda progressiva na adesão ao programa de exercícios ao longo dos três anos, o que limitou o poder das análises e levantou questionamento sobre a acentuada queda de mortalidade.

Assim, embora os resultados reforcem o potencial do exercício como aliado na oncologia, ainda são necessários ensaios clínicos maiores, com seguimento prolongado, para consolidar as evidências e definir com mais precisão a magnitude dos benefícios —quando existirem— em cada tipo de câncer, considerando suas diferentes causas, mecanismos biológicos, comportamentos clínicos e respostas ao tratamento. A estrada é longa, mas está pavimentada.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Você também pode gostar

Deixe seu Comentário