Esta semana o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) lançou mais um dado do Censo Demográfico de 2022: Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios. Os resultados mostram dificuldades enfrentadas pela população, com grande heterogeneidade regional e social.
Destaco aqui cinco características levantadas pelo censo.
Primeiro, vias sem rampa para cadeirante, uma realidade enfrentada por 69% dos brasileiros. Isso representa uma melhora em relação a 2010, quando 95% da população não tinha acesso a vias com rampa.
Os estados do Ceará e São Paulo registram a pior situação, com mais de 77% da população sem acesso a rampa. Considerando a população com 60 anos ou mais, quase 72% não tem acesso a essa infraestrutura.
Segundo, calçadas livres de obstáculos. Dois terços da população e da população acima de 60 anos residem em vias onde calcadas tem obstáculos. No Rio Grande do Sul, quase 30% da população reside em vias com calcadas livres de obstáculos. Nos estados de Sergipe e Rio Grande do Norte, cerca de 80% da população acima de 60 anos enfrenta esse problema.
Terceiro, vias com drenagem, importante para evitar alagamentos. Quase 54% da população mora em vias com essa infraestrutura (em 2010 eram 39%). A região Sul se destaca com 80% das vias com drenagem. Em contraste, menos de um terço das vias no Nordeste possuem bueiros, sendo a pior situação observada no Piauí (12%) e no Rio Grande do Norte (19%).
Quarto, a iluminação pública. Essa foi a característica urbanística de maior cobertura e menor variação regional. No Brasil, 97,5% da população mora em vias com iluminação. Em todos os estados esse percentual é maior do que 92%. Aqui é importante destacar o Programa Luz para Todos, criado em 2003, que contribuiu para a expansão do acesso a energia elétrica.
Quinto, arborização. Um terço da população mora em vias sem árvores. Na região Norte, 45% da população reside em vias sem qualquer arborização e apenas um quinto tem 5 ou mais árvores no entorno no domicílio.
Esse cenário urbano evidencia o despreparo das cidades para o envelhecimento populacional; em 2022, 11% da população tinha 65 anos ou mais, em 2050 serão 30%.
Já abordei nesta coluna a necessidade de planejar ações para garantir uma velhice saudável e justa. Essas ações não estão apenas no campo da saúde, mas também no planejamento urbano.
Calçadas com obstáculos, sem rampas de acesso, dificultam o ir e vir e aumentam o risco de quedas, o que pode ser debilitante ou fatal para os idosos.
As características urbanas mostram ainda o despreparo para o cenário atual de eventos climáticos extremos mais frequentes e severos.
A falta de arborização cria ilhas de calor onde a temperatura é muito mais elevada. Isso é preocupante considerando que o número de dias com ondas de calor (temperatura máxima entre 5°C e 7°C graus acima da média por ao menos cinco dias consecutivos) tem aumentado, com graves consequências para a saúde, especialmente de idosos e crianças.
Os dados do Censo oferecem um panorama detalhado de demandas urbanas que prefeitos deveriam abordar para reduzir custos futuros devido ao envelhecimento e as mudanças climáticas. Investir no futuro é uma demanda urgente do presente.
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