Página Inicial Saúde Chamar cachorro de filho é coisa mais ridícula que existe – 26/04/2025 – Equilíbrio

Chamar cachorro de filho é coisa mais ridícula que existe – 26/04/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Há dois anos estava caminhando pela praça Buenos Aires, em Higienópolis, quando cruzei com uma mulher chamando carinhosamente pelo filho: “Vem, Teozinho, mamãe vai te limpar antes de entrar no carro”. Ao olhar para trás, em vez de um garotinho fofo brincando na pracinha, dei de cara com um schnauzer bigodudo correndo na direção de fulana. Ao vê-lo se aproximar, a mulher puxou um lenço umedecido da bolsa e limpou as patas do animal como se fosse o bumbum de recém-nascido.

Revirei os olhos. Que ridículo chamar um bicho de filho. Ainda mais um cachorro que nem nome de bicho tem. Na minha época, cachorro era Totó, Scooby, no máximo um Marley, batizado por um tutor maconheiro. Agora quando você passeia pelas pracinhas é possível ver Franciscos, Gabrielas e Teodoros fazendo xixi no meio-fio. Qual o próximo passo? Chamar um husky siberiano de Juninho porque ele tem os olhos azuis igual ao dono, digo, ao pai?

E festa de aniversário para pets? Pelo amor de Deus, chamem a carrocinha e levem os donos. Fico só imaginando o que passa pela cabeça de um poodle de chapéuzinho de festa que se vê diante de uma mesa repleta de brigadeiros. Certeza de que para ele as bolinhas marrons são os dejetos de algum colega canino que andou passando por ali. Não sei se essa humanização é carência, loucura ou as duas coisas juntas. Só sei que sempre prometi a mim mesma que, quando tivesse um cachorro, jamais seria ridícula assim. Nunca daria beijos (que nojo, bactérias) e nunca, jamais, sob hipótese alguma, deixaria o bicho subir no meu sofá de veludo.

Eis que minha filha completa quatro anos e resolvemos adotar uma cachorrinha. No mesmo instante em que vi aquela filhotinha caramelo correndo na minha direção, gritei instintivamente: “vem pra mamãe!”. A cachorrinha desesperada por afeto pulou em mim, me lambeu do queixo até a testa, e eu não só deixei, como amei. Saí do sítio onde fui buscá-la carregando-a no colo e, pasmem: antes de entrar no carro para voltar a São Paulo, limpei suas patinhas com lenços umedecidos perfumados com lavanda.

Ok, eu andava emocionalmente abalada. Tinha acabado de perder meu segundo filho que não chegou ao primeiro trimestre da gestação e sabia que estava tentando compensar a dor desse luto. Dei à cachorra o nome de Amora, acreditando que meus delírios de humanização canina acabariam por aí.

Corta para a semana passada, quando Amora completou um ano. Minha filha e eu fizemos um bolo de aniversário feito de batata-doce para que ela pudesse comer. Cantamos parabéns para a cachorra, que, sentada no meu sofá de veludo, vestia seu pijama xadrez (tá muito na moda) e latia empolgada. Meu marido, que nunca gostou de cachorro, também foi fisgado por essa charmosa pilantra.

Quando Amora entrou no cio pela primeira vez, ele se sentou na mesa da cozinha e teve uma conversa séria com ela. “Se algum macho se aproximar de você de forma desrespeitosa, pode contar pro papai.” Estamos todos loucos. Loucos de amor. E ela certamente não entende nossos disparates. Para Amora, essa coluna não é uma declaração de amor e, sim, o espaço onde daqui a alguns dias ela fará suas necessidades. E eu, como boa mãe de pet que sou, vou aplaudir achando lindo. Dane-se a coluna. Importante é que minha filha finalmente aprendeu a fazer xixi no lugar certo.

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