O fígado é um dos órgãos que mais trabalham no corpo humano. Ele desintoxica substâncias nocivas, auxilia na digestão, armazena nutrientes e regula o metabolismo.
Apesar de sua notável resiliência —e até mesmo de sua capacidade de regeneração— o fígado não é indestrutível. De fato, muitos hábitos cotidianos, muitas vezes negligenciados, podem causar danos lentos que podem levar a condições graves, como cirrose (formação de tecido cicatricial no fígado) ou insuficiência hepática.
Um dos desafios da doença hepática é que ela pode ser uma ameaça silenciosa. Em seus estágios iniciais, pode causar apenas sintomas vagos, como fadiga constante ou náusea.
À medida que os danos progridem, sinais mais evidentes podem surgir. Um dos mais reconhecíveis é a icterícia, quando a pele e a parte branca dos olhos ficam amareladas. Embora a maioria das pessoas associe a doença hepática ao consumo excessivo de álcool, o álcool não é o único culpado. Aqui estão cinco hábitos comuns que podem estar prejudicando silenciosamente o seu fígado.
1. Consumo excessivo de álcool
O álcool é talvez a causa mais conhecida de danos ao fígado. Quando você bebe, seu fígado trabalha para decompor o álcool e eliminá-lo do organismo. Mas o excesso de álcool sobrecarrega esse processo, causando o acúmulo de subprodutos tóxicos que danificam as células hepáticas.
A doença hepática relacionada ao álcool progride em estágios. Inicialmente, a gordura começa a se acumular no fígado (esteatose hepática), muitas vezes sem sintomas perceptíveis e reversível com a interrupção do consumo de álcool. O consumo contínuo de álcool pode levar à hepatite alcoólica, na qual inflamação e tecido cicatricial começam a se formar à medida que o fígado tenta se curar.
Com o tempo, essa cicatrização pode evoluir para cirrose, onde o endurecimento extenso do fígado afeta seriamente sua capacidade de funcionar. Embora a cirrose seja difícil de reverter, parar de beber pode ajudar a prevenir danos maiores.
Mesmo o consumo moderado de álcool, se mantido por muitos anos, pode ter um custo, principalmente quando combinado com outros fatores de risco, como obesidade ou uso de medicamentos. Especialistas recomendam não consumir mais de 14 unidades de álcool por semana e incluir dias sem álcool para dar tempo ao fígado de se recuperar.
2. Má alimentação e hábitos alimentares pouco saudáveis
Você não precisa beber álcool para desenvolver problemas no fígado. A gordura pode se acumular no fígado devido a uma dieta pouco saudável, levando a uma condição agora chamada de doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), anteriormente conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA).
O excesso de gordura no fígado pode prejudicar sua função e, com o tempo, causar inflamação, cicatrizes e, eventualmente, cirrose. Pessoas com sobrepeso —especialmente aquelas com excesso de peso na região abdominal— têm maior probabilidade de desenvolver MASLD. Outros fatores de risco incluem pressão alta, diabetes e colesterol alto.
A dieta desempenha um papel fundamental. Alimentos ricos em gordura saturada, como carne vermelha, frituras e salgadinhos processados, podem aumentar os níveis de colesterol e contribuir para o acúmulo de gordura no fígado. Alimentos e bebidas açucarados também são um importante fator de risco. Em 2018, uma revisão constatou que pessoas que consumiam mais bebidas açucaradas tinham um risco 40% maior de desenvolver doença hepática gordurosa.
Alimentos ultraprocessados, como fast food, refeições prontas e lanches cheios de açúcar e gorduras não saudáveis, também contribuem para a sobrecarga hepática. Um amplo estudo descobriu que pessoas que consumiam mais alimentos processados tinham probabilidade significativamente maior de desenvolver problemas hepáticos.
Por outro lado, uma dieta balanceada e integral pode ajudar a prevenir —e até mesmo reverter— a doença hepática gordurosa. Pesquisas sugerem que dietas ricas em vegetais, frutas, grãos integrais, leguminosas e peixes podem reduzir a gordura hepática e melhorar fatores de risco relacionados, como níveis elevados de açúcar no sangue e colesterol.
Manter-se hidratado também é importante. Procure beber cerca de oito copos de água por dia para auxiliar os processos naturais de desintoxicação do seu fígado.
3. Uso excessivo de analgésicos
Muitas pessoas recorrem a analgésicos de venda livre, como o paracetamol, para dores de cabeça, dores musculares ou febre. Embora geralmente seguro quando usado conforme as instruções, tomar em excesso – mesmo excedendo ligeiramente a dose recomendada —pode ser extremamente perigoso para o fígado.
O fígado decompõe o paracetamol, mas, no processo, produz um subproduto tóxico chamado NAPQI. Normalmente, o corpo neutraliza o NAPQI usando uma substância protetora chamada glutationa. No entanto, em uma overdose, os estoques de glutationa se esgotam, permitindo que o NAPQI se acumule e ataque as células hepáticas. Isso pode resultar em insuficiência hepática aguda, que pode ser fatal.
Mesmo pequenas overdoses ou a combinação de paracetamol com álcool podem aumentar o risco de danos graves. Siga sempre a dose recomendada e consulte um médico se precisar de analgésicos regularmente.
4. Falta de exercício
Um estilo de vida sedentário é outro grande fator de risco para doenças hepáticas. A inatividade física contribui para o ganho de peso, a resistência à insulina e a disfunção metabólica —fatores que podem promover o acúmulo de gordura no fígado.
A boa notícia é que o exercício pode beneficiar o fígado mesmo sem perder muito peso. Um estudo descobriu que apenas oito semanas de treinamento de resistência reduziram a gordura hepática em 13% e melhoraram o controle do açúcar no sangue. O exercício aeróbico também é altamente eficaz: caminhadas rápidas regulares por 30 minutos, cinco vezes por semana, demonstraram reduzir a gordura hepática e melhorar a sensibilidade à insulina.
5. Fumar
A maioria das pessoas associa o tabagismo ao câncer de pulmão ou doenças cardíacas, mas muitas não percebem os sérios danos que isso pode causar ao fígado.
A fumaça do cigarro contém milhares de substâncias químicas tóxicas que aumentam a carga de trabalho do fígado, que tenta filtrá-las e decompô-las. Com o tempo, isso pode levar ao estresse oxidativo, em que moléculas instáveis (radicais livres) danificam as células hepáticas, restringem o fluxo sanguíneo e contribuem para a formação de cicatrizes (cirrose).
Fumar também aumenta significativamente o risco de câncer de fígado. Substâncias químicas nocivas presentes na fumaça do tabaco, incluindo nitrosaminas, cloreto de vinila, alcatrão e 4-aminobifenil, são conhecidas como cancerígenas. De acordo com a Cancer Research UK, o tabagismo é responsável por cerca de 20% dos casos de câncer de fígado no Reino Unido.
Ame seu fígado
O fígado é um órgão notavelmente robusto, mas não é invencível. Você pode protegê-lo consumindo álcool com moderação, parando de fumar, tomando medicamentos com responsabilidade, mantendo uma dieta balanceada, mantendo-se ativo e hidratado.
Se notar quaisquer sintomas que possam sugerir problemas no fígado, como fadiga persistente, náuseas ou icterícia, não hesite em consultar o seu médico. Quanto mais cedo os problemas no fígado forem detectados, maiores serão as chances de sucesso no tratamento.