Com a próstata em tamanho seis vezes maior que o normal, um idoso de 89 anos foi submetido a um procedimento inovador no Hospital de Base de São José do Rio Preto (a 440 km de São Paulo).
Portador de hiperplasia prostática benigna (HPB) e outras comorbidades, os médicos não indicavam para Gumercindo Gonçalves da Silva a realização de uma cirurgia mais invasiva e com anestesia geral. Assim, o paciente passou por uma embolização das artérias da próstata, o primeiro procedimento do tipo realizado no hospital do interior de São Paulo.
Silva já teve alta e se recupera em casa, embora ainda tenha que passar pelo pronto-atendimento para tratar um sangramento.
Com o sucesso da operação, a embolização pode ser uma alternativa no SUS (Sistema Único de Saúde) ao protocolo de atendimento de pacientes com HPB de grande volume ou sem condições cirúrgicas.
“Trata-se de uma técnica bastante promissora. Devemos lembrá-la como uma alternativa aos tratamentos cirúrgicos clássicos, notadamente para pacientes sem condições clínicas para intervenções maiores”, afirma o médico Rafael Garzon, radiologista intervencionista do Hospital de Base e responsável pela cirurgia.
O protocolo tradicional para esses casos requer anestesia geral e internação hospitalar prolongada. O procedimento está associado a riscos como sangramento, infecção, incontinência urinária e disfunção erétil, diferentemente da embolização.
A intervenção, desenvolvida inteiramente por pesquisadores brasileiros, é menos invasiva e demanda somente anestesia local. Até então, o procedimento só estava disponível na rede privada e em grandes hospitais universitários, para poucos casos. A técnica foi consolidada por uma equipe da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) liderada pelo professor Francisco Cesar Carnevale.
As pesquisas para o desenvolvimento tiveram início em 2008, e em 2024 o trabalho rendeu ao docente o reconhecimento internacional como primeiro médico da América Latina a receber a Gold Medallist da Cardiovascular and Interventional Radiological Society of Europe (CIRSE).
A embolização está prevista no rol de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), mas sua recomendação deve ser dada de forma multidisciplinar, por equipe que contenha urologista, radiologista e clínico responsável pelo paciente.
A autorização para realizar a embolização no Hospital de Base via SUS partiu da direção da Fundação Faculdade Regional de Medicina (Funfarme) e do próprio HB, após avaliação da equipe e confirmação da disponibilidade de materiais.
Em nota enviada pela instituição, a médica Ana Paula Bogdan, coordenadora da residência de urologia do hospital, enfatizou o potencial da técnica.
“Recebemos muitos pacientes para cirurgias de próstata. A embolização pode ser uma solução eficaz para casos complexos, reduzindo o uso prolongado de sondas e melhorando a qualidade de vida.”
Como é feito o procedimento
A embolização prostática consiste em bloquear seletivamente os vasos sanguíneos que irrigam a próstata, reduzindo seu volume e aliviando os sintomas. É minimamente invasiva, feita com anestesia local e guiada por imagem.
De acordo com Garzon, o médico responsável pela cirurgia, a precisão é o maior destaque, sendo possível atingir ambos os lobos da próstata com aumento da chance de bons resultados.
Tradicionalmente, próstatas muito aumentadas exigem prostatectomia —uma cirurgia invasiva feita sob anestesia geral e com riscos de sangramento, infecção, incontinência e disfunção erétil, além de internação prolongada.
O que é HPB
A hiperplasia prostática benigna não é um câncer, mas uma condição comum em homens idosos que causa sintomas urinários significativos, como dificuldade ou necessidade frequente de urinar e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga.
No caso do idoso operado em Rio Preto, que já tem outras comorbidades, o diagnóstico foi dado há um ano, e o quadro piorou recentemente com o surgimento de sangramentos. A gravidade do inchaço da glândula surpreendeu a família, e então foi indicada a cirurgia.
“Que ele tinha problema na próstata a gente sabia, mas não que estava tão avançado no tamanho, porque até então ele não tinha sintomas nenhum, a não ser perda de urina”, conta Terezinha Gonçalves de Souza, 65, filha do paciente e sua cuidadora.
Ela diz que houve melhora com redução do sangramento, mas que a família ainda aguarda a recuperação total do paciente. “Está muito recente o procedimento, ainda está sangrando e por enquanto está bem complicado, tem muito coágulo.”
Silva ainda vai passar por exames para verificar se há algum tipo de infecção e se será necessário retornar ao hospital.