Os três pilares do plano norte-americano
O plano de ação norte-americano é dividido em três grandes pilares: acelerar a inovação em IA, construir infraestrutura nacional de IA e liderar a diplomacia e a segurança internacional no tema. Cada pilar vem acompanhado de dezenas de medidas concretas, ordens executivas e programas já em andamento desde o início do segundo governo Trump. O documento não é apenas uma carta de intenções. É uma plataforma de ação imediata, baseada em uma visão clara: IA é sinônimo de poder.
No primeiro pilar, dedicado à inovação, o plano adota uma postura agressiva de desregulamentação. Revoga-se a ordem executiva de Joe Biden sobre desenvolvimento seguro e confiável de IA, e se estabelece um novo princípio: menos regulação significa mais competitividade. Mas talvez o ponto mais simbólico desse trecho seja a determinação para que o governo federal elimine de seus documentos técnicos menções a temas como desinformação, diversidade, equidade, inclusão e mudanças climáticas. A justificativa? Proteger a liberdade de expressão e afastar “agendas ideológicas” dos modelos de IA.
Aqui, existe um debate importante. O plano norte-americano reconhece, ainda que de forma implícita, que sistemas de inteligência artificial se tornaram agentes centrais na mediação do discurso público. E se esses sistemas moldam a forma como nos informamos, nos comunicamos e nos expressamos, então decidir o que eles podem ou não dizer é, na prática, regular os contornos do espaço público digital. Cada vez mais pessoas vão usar IA para redigir textos, argumentar, pesquisar, criar arte ou aprender — e os limites impostos a essas ferramentas vão definir, de forma mais ou menos sutil, mas sempre muito poderosa, os próprios limites da liberdade de expressão.
Outro aspecto que chama atenção no plano é o esforço em integrar IA à vida produtiva e institucional do país. Sob o argumento de que a inteligência artificial criará empregos e aumentará a competitividade, o governo norte-americano propõe desde centros de testes regulatórios em áreas como saúde e agricultura até programas de requalificação para trabalhadores impactados. Não se trata apenas de desenvolver IA, mas de usá-la em escala industrial.
Ocorre que essa expansão não será possível sem um salto estrutural. O segundo pilar do plano trata justamente da infraestrutura: mais data centers, mais energia, mais semicondutores e mais capacitação técnica. Para isso, o governo Trump pretende simplificar licenças ambientais, liberar terras federais para construção de usinas e centros computacionais, e investir em uma nova força de trabalho técnica — com foco em profissões como eletricistas, técnicos em refrigeração e operadores de redes. A IA, para funcionar, precisa de elementos que não estão no mundo digital, mas sim no físico: energia, cabos, chips e, é claro, pessoas.